Som do mundo no DF: bandas cover movimentam cena do rock em Brasília
Do grunge de Seattle aos clássicos do rock oitentista da capital federal, shows-tributo diversificam a programação musical da cidade
atualizado
Compartilhar notícia

Na década de 1980, Brasília contribuiu, e muito, para que o rock n’ roll se tornasse um dos ritmos mais populares do país. Se naquela época as bandas autorais faziam a cabeça dos adolescentes da cidade, chegando a ganhar o título de Capital do Rock, atualmente os shows-tributo mantêm a cena viva e os bares do Distrito Federal lotados.
São várias as casas que abrem as portas para o público curtir ao som de seus ídolos, nacionais ou internacionais. No palco, o repertório vai do grunge do Pearl Jam, passando pelo estilo alternativo do Foo Fighters, e o pop do Maroon 5. Há espaço, igualmente, para os clássicos do rock oitentista da Legião Urbana. Para celebrar o Dia Mundial do Rock, o Metrópoles conversou com quatro dos principais grupos que transformam suas apresentações em verdadeiros encontros de fãs do gênero.

Banda Better Jam – Há 10 anos tocando nos bares da cidade, o grupo se conheceu na noite, assistindo shows de outros músicos Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Ewerton Delavega, 28 anos, vocalista – Fundador do grupo, ele é fã do Pearl Jam desde a infância. A Better Jam é sua primeira banda profissional. Quando não está nos palcos, Ewerton completa a renda trabalhando como motorista de aplicativo Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Jhonata Rodrigo (Pikeno), 28 anos, baterista – Catalizador dos músicos da Better Jam, Pikeno montou sua primeira banda de rock aos 12 anos. Começou a tocar violão por influência do irmão e do primo, que tocavam na igreja, na cidade do Riacho Fundo II. Aprendeu bateria de forma autodidata. Na fase adulta, entrou na faculdade de música. Atualmente, faz cover do Engenheiros do Hawai, com a Várias Variáveis, e do Paralamas do Sucesso, na A Novidade Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Marcos Marcello, 46 anos, contrabaixo – O músico começou a tocar violão aos 11 anos, no Paraná, influenciado pelo pai. Há 12 anos na capital federal, Marcos passou pela Escola de Música de Brasília, onde conheceu o Jhonata e chegou a Better Jam Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Luís De Vita, 34 anos, guitarra e voz – Fã "doente" do Pearl Jam, o guitarrista era frequentador assíduo dos shows da Better Jam antes de ser convidado para se juntar à banda. Natural de Brasília, Luís já tocou em vários grupos da cidade, inclusive de outras vertentes, como o sertanejo Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Ronaldo (Joey), 30 anos, guitarra – Já nas rodinhas de violão da adolescência, Joey mostrava sua preferência por bandas como Nirvana e Pearl Jam. Passou por grupos de blues e hoje, além da Better Jam, toca na Jack Gôd Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Para a banda Better Jam, não tem dia nem lugar para lembrar os sucessos do Pearl Jam Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles
Better Jam
Há quase 10 anos na estrada, a Better Jam tem como principal referência musical o vocalista Eddie Vedder e sua trupe, do Pearl Jam. Formada por Ewerton Delavega (voz), Luís de Vita (guitarra e voz), Ronaldo Joey (guitarra) e Jhonata Rodrigo (bateria), o que uniu o grupo foi a adoração pela banda norte-americana. “Eu acompanho a trajetória deles desde a minha adolescência, tenho a discografia completa e camisetas. Em 2015, consegui ir ao show deles aqui em Brasília”, lembra Jhonata, 28 anos.
O guitarrista Luís de Vita, 34, se diz ainda mais apaixonado que o parceiro. “Eu sou doente pelo Pearl Jam. Tenho um material imenso, todos os discos oficiais. Fui em cinco shows deles, em 2005, 2011, 2013 e duas vezes em 2015, em São Paulo e Brasília. Sou daqueles que chegam horas antes da apresentação para garantir um bom lugar”, ressalta.
De acordo com o vocalista, Ewerton Delavega, 28, tanta afinidade com o repertório e a história do Pearl Jam faz com que a brasiliense Better Jam consiga uma interpretação muito similar à dos homenageados. “É natural, não tentamos fazer uma imitação impecável nem nos caracterizamos, mas nosso estilo combina muito com o deles. A gente respeita todos os arranjos originais, nossas influências musicais vêm da mesma escola. É o mesmo espírito de liberdade”, explica o cantor, que, quando não está no palco, trabalha como motorista de aplicativo.

Fora do avião
Como na setlist do grupo original, algumas canções não podem ficar de fora, entre elas, Black, Alive, Even Flow, Jeremy e Last Kiss. “Se faltar, a plateia reclama com certeza”, afirma o guitarrista Joey, 30. Os artistas locais garantem não terem enjoado do repertório. “Geralmente, a gente mescla o básico com canções lado B, menos conhecidas. Estamos sempre mudando os shows”, conta o contrabaixista, Marcos Marcello, 46.
Outro diferencial da Better Jam é não ficar presa ao eixo Norte-Sul. “Tocamos onde somos convidados”, diz Ewerton. Assim, a banda já rodou por todo o DF com o shows-tributo ao Pearl Jam. Entre as casas mais frequentadas, estão O Toinha Rock Pub (Samambaia), O Boteco dos Fortes (Riacho Fundo II), Trends Bar (Gama), Toinha Brasil Show (Setor de Oficinas Sul – Guará), no Galpão 17 (SIA) e no Tropical Bier (Ceilândia).
“Muita gente não sabe, mas, nas regiões administrativas, há um público muito forte que curte rock e geralmente não vem até o Plano Piloto para assistir a shows do gênero”, diz o vocalista. “A maioria das casas do centro já tem suas bandas fixas. Nas outras cidades, os produtores entendem melhor a importância de fazer um revezamento, de dar oportunidade para mais artistas”, completa o baterista.

Criada em 2004, a Distintos Filhos já tocou em grandes festivais por todo país, passando por cidades como Fortaleza (CE), Crato (CE), Juazeiro do Norte (CE), Brejo Santo (CE), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Salvador (BA), Goiânia (GO) JP Rodrigues/Metrópoles

Os shows que comemoram os 15 anos do grupo contarão com a participação de Maicon Vasconcelos (bateria), Paulo Rogério (sax) e Lôsha Buah (trombone), integrantes da formação original, de 2011 a 2014 JP Rodrigues/Metrópoles

Paulo Veríssimo, 31 anos, guitarra e voz – Filho de músicos, começou a tocar em bandas de baile na adolescência. Há 16 anos vivendo exclusivamente de música, Veríssimo afirma que a noite de Brasília é responsável por sua formação musical JP Rodrigues/Metrópoles

Ivo Portela, 31 anos, baixo – Começou tocando violão com o irmão e, depois de dois anos, passou para o contrabaixo de forma autodidata. Participou de bandas de igreja durante a adolescência, mas o Distintos Filhos é sua primeira experiência como músico profissional. Quando não está nos palcos, trabalha como analista de tecnologia JP Rodrigues/Metrópoles

Marcos Amaral, 31 anos, teclado – Entrou na Distintos Filhos no final de 2010. Para ele, nem todo músico tem disposição para o autoral JP Rodrigues/Metrópoles

O repertório do DVD passeia por dois trabalhos da banda, o disco homônimo, lançado em 2011, e o mais recente, Exílio JP Rodrigues/Metrópoles
Distintos Filhos
A Distintos Filhos foi criada há 15 anos pelo cantor Paulo Veríssimo, 31, filho de músicos que começou a tocar em bandas de baile aos 15 anos, e o baixista Ivo Portela, da mesma idade, um autodidata. “Foi um início despretensioso, nós fazíamos cover de vários artistas”, lembra Veríssimo.
O tecladista Marcos Amaral se juntou ao time no final de 2010, época que já marcava a mudança de perfil do grupo. “Pouco depois de montarmos a Distintos, começamos a compor e investir em repertório autoral, mas foi um processo devagar. Só conseguimos lançar o primeiro disco com letras próprias depois de sete anos de estrada”, explica o vocalista.
Do cover ao autoral
O investimento para que fossem reconhecidos por seu próprio repertório não impediu que os roqueiros mantivessem projetos paralelos de cover. Se a ideia era desvincular a imagem da Distintos Filhos das “imitações”, Veríssimo, Ivo e Marcos montaram, então, outras duas bandas: Quatro Estações, em homenagem ao grupo Legião Urbana, e a Los Candangos, na qual tocam canções do Los Hermanos.
Apesar de parecer difícil conciliar tantas produções, os artistas dizem se beneficiar dos tributos para divulgar as composições autorais. “Normalmente a gente faz dois shows. Abrimos com a Distinto, tocamos as nossas, e depois voltamos com outro nome e fazemos o cover da noite”, explica Ivo.

Os artistas declaram que seu trabalho autoral é mais valorizado fora de Brasília. “Já fizemos shows em praticamente todos os estados. Mas não acho que esse seja um problema do DF, é do país”, diz Veríssimo. Já em casa, as apresentações mais contratadas são para relembrar os sucessos de outros grupos. “A gente se diverte assim também. Nós somos fãs das bandas que fazemos cover”, confessa Ivo.
No fim de junho, no UK Music Hall Pub (411 Sul), os brasilienses gravaram DVD em comemoração à trajetória de 15 anos da Distintos Filhos. Ao todo, o projeto contará com 15 faixas dos dois primeiros CDs, o homônimo, de 2011, e Exílio, de 2017. Ambos produzidos por Philippe Seabra, da Plebe Rude. Além da inédita Eu Não Sei.

O Estúdio da 15 é o refúgio da banda Let's Grohl JP Rodrigues/Metrópoles

Pablo Vilela, 38 anos, voz e guitarra, vive exclusivamente da música. Ele divide o tempo no palco, com a produção musical de outros artistas da cidade JP Rodrigues/Metrópoles

Caco Gonçalves, 33 anos, bateria e voz, além de tocar em outras bandas, completa a renda como professor de bateria JP Rodrigues/Metrópoles

Para Fábio Teixeira, 40 anos, baixo, a Let's Grohl é um hobby. Ele e o guitarrista Rafael Resende são sócios em uma produtora de vídeo JP Rodrigues/Metrópoles

Segundo Rafael Resende, 32 anos, guitarra e voz , os shows da banda são como grande encontros de fãs JP Rodrigues/Metrópoles

Juntos, os músicos já viajaram para vários estados do país para reverenciar o Foo Fighters JP Rodrigues/Metrópoles

Pablo Vilela já viajou para assistir a shows dos ídolos JP Rodrigues/Metrópoles

A agenda da banda está sempre lotada JP Rodrigues/Metrópoles
Let’s Grohl
Formada por Pablo Vilela (voz e guitarra), 38, Caco Gonçalves (bateria), 33, Fábio Teixeira (baixo), 40, e Rafael Resende (voz e guitarra), 32, a Let’s Grohl está entre as mais conhecidas bandas covers da capital. Desde 2009, o grupo é presença cativa nas principais casas noturnas e festivais de música de Brasília. Os ídolos homenageados no palco são os ex-Nirvana Dave Grohl e Pat Smear, que criaram o Foo Fighters em 1994. “Unimos o útil ao agradável”, salienta o baterista.
Para Pablo, o idealizador da Let’s Grohl, as pessoas preferem ir a shows cover pois sabem o que vão ouvir e já se identificam com o repertório. “Eu acredito que seja cultural. Quando é um show autoral de um artista ainda não muito conhecido, o público resiste, por não saber se vai ou não curtir o som”, analisa.

Para Rafael, a melhor parte da apresentação é sentir a energia do público. “Como conhecem as letras, as pessoas interagem muito. Cantam junto com a gente e até nos corrigem se erramos algo”, brinca o guitarrista, que já viajou à Argentina para assistir a um show do Foo Fighters.
Recentemente, o DF ficou pequeno para a Let’s Grohl, os artistas fizeram shows em cidades como Palmas (TO) e Goiânia (GO). “Para mim, a música é um hobby, mas essas oportunidades que a banda nos dá, de conhecer outros estados, é muito gratificante”, garante o baixista, Fábio.

Paulo Sette, 35 anos, vocalista da Led Better JP Rodrigues/Metrópoles

Apesar de não ser músico, o produtor Silas Neto é um dos responsáveis pela formação da banda Led Better JP Rodrigues/Metrópoles

Além de cantar nas noites da capital, Paulo Sette também é servidor público JP Rodrigues/Metrópoles
Led Better
A banda Pearl Jam também foi a fonte de inspiração dos integrantes da Led Better: Paulo Sette (voz), 35; Rodrigo Lima (guitarra), 35; Leonardo Valério (guitarra), 34; Leonardo Richards (bateria), 36; e Pablo Caiado (baixo), 40. Os músicos estão desde 2005 na cena da cidade. “Nós começamos a brincar de fazer som na adolescência, quando montamos um cover do Silverchair”, recorda Sette.

Além do prazer, a banda funciona como complemento de renda para os músicos da Led Better, que dividem os palcos com profissões como policial militar, analista de TI e servidor público. “Mesmo não sendo a nossa renda principal, levamos os shows com seriedade. É tudo fruto de muita pesquisa e ensaios”, diz o vocalista.
“É muito bom estar em cima do palco, ver a resposta da plateia. A gente tenta ser o mais fiel possível, porque o público espera enxergar em nós um pouco do artista original”, acredita o vocalista. Para Sette, independentemente de ser autoral ou cover, Brasília sempre será um nicho e uma escola para a formação de grandes músicos. “E somos muito felizes de estar entre eles”, conclui.
Agendas
Better Jam
Dia 2 de agosto, no Trend’s Bar (Gama)
Dia 10 de agosto, Tropical Beer (Ceilândia)
Quatro Estações
Dia 18 de julho, no Bar Santa Fé (Jardim Botânico)
Dia 27 de julho, no Capital Moto Week (Parque de Exposições da Granja do Torto)