Jukebox Sentimental: reggae é, merecidamente, Patrimônio Cultural
O gênero imortalizado por Bob Marley foi reconhecido pela Unesco
atualizado
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No mesmo dia em que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, era preso, um dos estilos musicais mais originais era condecorado. O reggae, ritmo nascido na Jamaica e imortalizado pela voz e pelo suingue de Bob Marley, entrou para a lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. O que aconteceu tarde…
Entre as justificativas para a escolha desse estilo musical genuíno do Caribe, está o de evocar temas sociais, como racismo, opressão política, corrupção e a celebração da natureza. “Sua contribuição para o discurso internacional sobre questões de injustiça, resistência, amor e humanidade ressalta sua dinâmica de ser ao mesmo tempo cerebral, sociopolítico, sensual e espiritual”, justificou a entidade.
Desde 2003 em atividade, a categoria Patrimônio Cultural Imaterial tem como princípio reconhecer a importância das tradições nos campos dos saberes, costumes e manifestações culturais, que vão desde a dança, festas populares e música. Até o momento, 430 elementos fazem parte da lista, cinco deles, brasileiros: a arte gráfica dos índios Oiampis; o samba de roda do Recôncavo baiano; o frevo de Recife; o Círio de Nazaré em Belém; e a Capoeira.
“Para o rei”
Tão simbólico para a cultura musical jamaicana quanto o samba no Brasil, o reggae nasceu nos subúrbios da capital Kingston, mais especificamente entre a população marginalizada da metrópole. Nos guetos tão cantados pelas principais vozes do movimento, como Bob Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff.
A origem do nome é tão complexa e confusa quanto o caldeirão musical que ajudou a forjar esse ritmo dançante marcado por guitarras desaceleradas e impactantes linhas de baixo. Vai desde a música folclórica jamaicana, passando, claro, pelos ritmos africanos, o ska, rocksteady e calipso.
Segundo o Dicionário de Inglês Jamaicano, reggae é uma palavra oriunda de rege e pode significar farrapos, confusão ou treta. Já o ícone do gênero, Bob Marley, defendia a tese de que a palavra nasceu de um termo espanhol regi, ou seja, para o rei. Polêmicas à parte, a primeira vez que a palavra surgiu num termo musical foi em 1968, no single da banda jamaicana Toots & The Maytals: Do The Reggay.
Os primeiros nomes de peso do reggae surgiram na década de 1960, gente como Delroy Wilson, Bob Andy, Jimmy Cliff, além das bandas Ethiopians, Toots & The Maytals e The Wailers. Não demorou muito para as rádios de propriedade dos brancos quebrarem a barreira do racismo, tocando a grande sensação local que conquistaria o coração de Eric Clapton e Keith Richards.
Além da preocupação social e política, as letras das canções reggae são norteadas por mensagens religiosas influenciadas pelo movimento rastafári. Surgido no país na década de 1930, tem entre os seus princípios a devoção a Jah (Jeová) e a ideia de que os afrodescendentes devem ascender e superar sua situação por meio do engajamento político e espiritual. Uma premissa condensada com primazia no hino Redemption Song, de Bob Marley.
“É assim que vejo as coisas… Parece simples, mas é a verdade. Rasta pra todos! Capitalismo e comunismo já eram. Agora é Rasta!”, proclamou o cantor, com ares de pregador, em 1979.
No Brasil, onde desde 2012 o reggae é celebrado como dia nacional em 11 de maio – data da morte de Bob Marley, devido a um câncer, aos 36 anos –, o ritmo musical ganhou força já na década de 1970, por meio de artistas como Jorge Ben Jor e Gilberto Gil.
Se nos anos 1980 os Paralamas do Sucesso turbinavam sua maçaroca sonora com momentos reggae, a década seguinte foi a que mais abraçou artistas do gênero. Entre os representantes mais expressivos desse período, estão, como mostram seus primeiros trabalhos, os mineiros do Skank, Cidade Negra, Tribo de Jah e os brasilienses do Natirus.
Já sabemos que São Luís é a capital do reggae. Seria dizer que o país é um dos mais reggaeiros depois da Jamaica?