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Jukebox Sentimental: Gang 90 & Absurdettes retorna sem Júlio Barroso

Os shows da icônica banda dos anos 1980 vão iniciar sem o seu criador, morto em 1984

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Júlio Barroso (Gang 90 & Absurdettes) 2
1 de 1 Júlio Barroso (Gang 90 & Absurdettes) 2 - Foto: Reprodução

Deu na coluna da jornalista Mônica Bergamo: Gang 90 & Absurdettes, banda seminal do rock nacional, voltará a fazer shows. Mas, espera aí, sem o Júlio Barroso? Fundador, líder e principal letrista do grupo, Júlio, assim como muitos artistas que viveram rápido demais, partiu cedo, aos 30 anos. Até hoje não se sabe direito se foi suicídio ou se, louco de álcool e drogas, ele despencou do 11º andar de um prédio em São Paulo. Corria o ano de 1984…

“A gente quis homenagear o Júlio e celebrar a nossa amizade”, conta ao Metrópoles Taciana Barros, uma das Absurdettes que integrou a trupe no auge do sucesso, no começo dos anos 1980. “A gente sentiu que tinha de preservar a nossa história, muita gente nunca ouviu falar do Júlio Barroso, a Gang é fundamental para o rock dos anos 1980 e essa história vai ser contada agora, nesse show voltado para as novas gerações”, diz a artista.

Intitulado A Nossa Onda de Amor Não Há Quem Corte – trecho de Telefone, um dos sucessos da Gang 90 –, o evento contará com dois shows, nos dias 23 e 24 deste mês, no Sesc Pompeia, São Paulo. Além de intervenções poéticas e participações de artistas como Edgard Scandurra (guitarrista do Ira!), será lançado pela Editora Demônio Negro o livro A Wave Is a Wave, com textos e ilustrações inéditos de Júlio guardados por Taciana.

“Entreguei tudo na mão da minha irmã Natália, que passou alguns meses editando e escolhendo. Tem coisa do Música do Planeta Terra, pouco conhecida ainda”, antecipa Taciana, referindo-se aos tempos de jornalista e crítico musical de Júlio Barroso, quando editou junto com o amigo Antônio Carlos Miguel uma revista.

Poeta pioneiro do rock Brasil
Um dos pioneiros do BRock Brasil, a Gang 90 & Absurdettes foi responsável por introduzir a new wave no país durante os embalos da badalada casa noturna Paulicéia Desvairada, dos primos Ricardo Amaral e Nelson Motta. Então DJ da festa, toda noite Júlio apresentava as novidades que trouxe de Nova York, onde passou uma temporada. Coisas como Talking Heads, Blondie, U2, B-52’s e Kid Creole and The Coconuts, uma inspiração direta para sua banda.

Numa bela noite, ele e sua turma assaltam o palco da danceteria com Perdidos na Selva e… boom! Nascia a Gang 90 que, além de Júlio como frontman, contava ainda, entre outros, com o ex-Tutti Frutti/Rita Lee, Lee Marcucci e, veja você, Guilherme Arantes atacando nos teclados e dando uma força como compositor. May East, Lonita Renaux (irmã de Júlio), Luíza Maria e uma holandesa formidável que arranhou o coração de Júlio, Alice Pink Pank, eram as Absurdettes.

O frisson foi tamanho e, em 1981, eles estavam na final do Festival MPB-Shell da Globo, com um Maracanãzinho lotado, cantando a divertida aventura Perdidos na Selva, musicada por Arantes e cujo refrão cafajeste já mostrava que a Gang 90 era a Blitz bem antes de Evandro Mesquita e cia. darem as caras pelas praias cariocas: “Eu e minha gata rolando na relva/Rolava de tudo/Covil de piratas pirados/Perdidos na selva”.

 

É isso. Guardada as devidas proporções, a Gang 90 era a versão paulista da Blitz, tendo em vista que o grupo só iria se consolidar no mercado mesmo após o estouro dos amigos cariocas com seus hits solares Você Não Soube Me Amar e Mais Uma de Amor (Geme, Geme). Isso porque, apesar do sucesso de Perdidos na Selva, o Brasil do começo dos anos 1980 ainda não era páreo para o visionário e avant-garde Júlio Barroso.

Assim, ao voltar de uma segunda jornada em Nova York, ele reagruparia novamente a banda, agora com novos integrantes, entre eles Taciana Barros. Em 1983, sai o disco Essa Tal de Gang 90 & As Absurdettes, o único com Júlio Barroso ainda vivo e recheado de clássicos dos primórdios do rock Brasil como Telefone, Noite e Dia – escrita com Lobão –, Perdidos na Selva e Nosso Louco Amor, que virou tema de novela da Globo de Gilberto Braga.

Nascido no bairro do Grajaú, Rio de Janeiro, em 1953, neto de estivador, mas criado na Zona Sul, Júlio Barroso chegou a viver um tempo numa comunidade hippie de Luziânia (GO). Cansou de bancar o Henry David Thoreau nos bosques e, quando voltou à civilização, pediu uma grana ao coroa e editou uma revista de música alternativa junto com o amigo Antônio Carlos Miguel.

Com seu visual clean totalmente nerd potencializado por grandes óculos de aro de tartaruga, ele lembrava um bancário todo engomadinho, mas também o astro de rock Buddy Holly. Alucinado por música, sempre sedento de informação e garimpador de discos raros e incríveis, Júlio era incansável e imperativo. Foi com esses ingredientes que ele conheceu, em 1976, em Saquarema, Nelson Motta, um amigo e mentor para toda a vida.

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“Ele amava a vida, com todos os seus excessos”, lembraria Motta no seu livro Noites Tropicais. “Um cara ligado, conectado, um ícone transgressor, catalizador do pensamento de uma geração”, resume Taciana Barros.

Pensando bem, com sua genialidade excêntrica, Júlio Barroso, junto com Renato Russo e Cazuza, formou assim uma espécie de tríade dos grandes poetas pioneiros do rock dos anos 1980. “A morte de Júlio Barroso foi um marco: existia o antes e o depois daquela perda. Não só para mim, mas para toda a história”, destacou em sua biografia Lobão, que o homenageou, cheirando, junto com Cazuza uma carreira de cocaína em cima do caixão do amigo.

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