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Jukebox Sentimental: escritor resgata ascensão e queda do The Monkees

A banda foi um dos maiores fenômenos da música norte-americana nos anos 1960

atualizado

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Os Monkees 3
1 de 1 Os Monkees 3 - Foto: null

Parece mentira, mas, no auge da beatlemania, uma banda chegou a vender mais discos do que os fab four e os Stones juntos! E não só isso, foi a grande sensação do pedaço em plena contracultura com macaquices que lembravam as estripulias dos irmãos Marx e Chaplin, revolucionando, com muito bom humor e talento, o mundo da música. No entanto, entraram para a história como a maior fraude do rock. Estamos falando do The Monkees.

“Na minha opinião, foi a maior injustiça no rock’n’roll”, conta ao Metrópoles Sergio Farias, autor do formidável livro Love Is Understanding – A Vida e a Época de Peter Tork e os Monkees, lançado pela editora portuguesa Chiado Books. “O Monkees foi uma das cinco bandas mais importantes dos anos 1960”, defende o autor.

E foi mesmo. Recrutados para fazerem parte de projeto televisivo ousado e divertido que tinha como meta brecar a “invasão britânica”, os Monkees se transformaram num grande fenômeno de massa da indústria da música e da TV em 1966, quebrando tabus e criando novos parâmetros nos dois segmentos, à sombra de sucessos inesquecíveis como I’m A Believer, Last Train To Clarksville e Daydream Believer.

Clipe de I’m A Believer, o maior sucesso dos Monkees:

Montado num ritmo frenético, eficiente e marcado por trilha escrita pelos melhores compositores da praça, a série sintetizava tudo o que havia de vanguarda na TV americana da época. Não à toa que seu estilo inovador, de um jeito ou de outro, acabaria influenciando os diretores do movimento Nova Hollywood, do qual fizeram parte gente como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, Hal Ashby, entre outros.

“Os Monkees poderiam ser hoje reconhecidos como ‘os fundadores da MTV’”, reivindica o autor, que tentou, sem sucesso, entrevistar os integrantes da banda. “Em compensação, produtores, músicos e jornalistas foram extremamente generosos em me ceder as informações que precisava”, revela.

Trailer da série que estreou em 1966 na TV Americana:

Ao todo foram seis anos de trabalho respaldado por densa pesquisa bibliográfica e jornalística, e o resultado é um deleite para fãs da cultura pop. Isso porque, com pegada acadêmica, o livro traça ainda panorama intenso de um dos períodos mais férteis da cultura de massa no Brasil e no mundo, quando as atenções estavam voltadas para todos os segmentos das artes. No olho desse furacão, estavam Peter Tork, Davy Jones, Mike Nesmith e Micky Dolenz… os Monkees.

Está tudo lá. Os bastidores da criação da série, as brigas entre os quatro que viviam às turras, o sucesso na TV e nas vendas de discos, a cultura da droga, as farras hedonistas tendo como cúmplices astros da música e do cinema, enfim, a realização do tresloucado e moderno filme Head, tendo como um dos roteirista, veja só, Jack Nicholson. Também os tempos de vacas magras na década seguinte e o golden revival nos anos 1980 e 1990.

Reprodução

 

A injustiça se deve ao fato de a banda ter ficado estigmatizada – em detrimento do talento individual de cada um dos integrantes para atuar, cantar e tocar –, como de artistas pré-fabricados. Mero preconceito contra a televisão e a cultura de massa, tão bem disseminada por essa “máquina de fazer doido”. Daí a briga comprada por eles no auge da carreira, para tocar seus próprios instrumentos, o que mostraria ser um tiro no pé.

“Fico pensando na angústia deles como artistas, pois, além de terem uma série de TV que estava revolucionando as artes visuais, eram multi-instrumentista e compositores capazes, mas terminaram ficando para posteridade como ‘a banda fake’ que não tocavam seus instrumentos”, lamenta Farias.

Peter, o bobo da corte
A ideia de contar a história da banda norte-americana de maior sucesso dos anos 1960, norteado pela trajetória de um de seus integrantes, o baixista e tecladista Peter Tork, partiu do senso de justiça do autor, que viu os Monkees e sua inovadora série ultracolorida pela primeira vez em 1975, na época exibida como parte da programação matinal da TV Globo. “Foi a minha entrada no tapete psicodélico, no mundo pop”, relembra Farias.

Então um artista com formação de música clássica que tocava sete instrumentos, intelectual, poliglota politizado, admirado por gente como George Harrison e o guitarrista Jimi Hendrix, além de milhares de fãs, Tork teve seus atributos negligenciado, entre outras coisas, pelo papel de bobo da série criada pela dupla Bob Rafelson e Bert Schneider. Fora isso, era o único dos Monkees que ainda não tinha até aqui uma biografia, contra duas de cada um dos outros.

“Creio que o meu foco pelo Peter veio através do primeiro livro que li sobre os Monkees, no final da década de 1980. Foi quando tive conhecimento desse músico fantástico e de sua vida dramática”, comenta Farias. “Sem contar meu desejo em reparar a injustiça que cai sobre eles, de terem sido uma banda fake”, emenda o autor, que encontraria seus ídolos em 2014, em New Jersey, durante convenção anual da banda.

O encontro, que durou cinco eternos minutos mágicos, o tempo de tirar uma foto, contou com a ausência de um dos integrantes da banda, Davy Jones, o único inglês do grupo, falecido dois anos antes, aos 66 anos, vítima de um infarte fulminante. “Esperei 40 anos por aquilo e, de repente, estava lá, e eles sendo supergentis, puxando conversa sobre o Brasil. Foi um dos mais marcantes encontros da minha vida”, lembra Farias.

Bem escrito e informativo, Love Is Understanding – título pinçado de uma canção de Peter, For Pete’s Sake –, é também um registro sensacional sobre o fausto do sucesso e a escuridão do ostracismo. Mostra como um menino de classe alta se tornou, do dia para noite, um astro do rock, curtindo todos os baratos do seu tempo, das drogas à orgia da carne, mergulhando no limbo do esquecimento após sua saída do grupo, no final de 1968.

Mas essa história tem um final feliz, embora você tenha que ler o livro pra descobrir isso…

Reprodução
De Sergio Farias. Editora Chiado Books, 395 páginas, R$ 52

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