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Biógrafo sobre João Gilberto: “Álbum de jazz mais vendido do mundo”

Em artigo, Ruy Castro, autor do livro sobre o cantor, lembrou da reverência internacional e o descaso brasileiro à obra do baiano

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Gachot Films/Divulgação
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1 de 1 09_JoaoGilberto_GachotFilms - Foto: Gachot Films/Divulgação

No dia da morte de João Gilberto, um dos maiores intérpretes do país, o biógrafo Ruy Castro relembrou em artigo publicado na Folha de S.Paulo a trajetória polêmica do cantor que deu um novo tom à música nacional. De forma assertiva, o responsável pelo livro sobre a vida do artista escreveu que a música Chega de Saudade “está para a Bossa Nova como a carta de Pero Vaz Caminha está para o Brasil”. E não é à toa.

João Gilberto, lembra Castro, foi um dos responsáveis por reinventar a onda da música brasileira no final dos anos 1950. “Nunca tão pouco tempo de música significou tanto —dividiu a cultura brasileira em antes e depois”, registrou ele sobre o minuto e 59 segundos de duração. “O canto a seco e sem ornamentos de João Gilberto não era propriamente novidade, mas, aliado ao violão que produzia um ritmo contagiante e inesperado —logo depois chamado de bossa nova—, à complexidade harmônica de [Tom] Jobim e à sofisticação coloquial da letra de Vinicius [Moraes], resultaram num todo revolucionário”.

Com o poder criado na parceria com o violão, o intérprete guiou toda uma geração que surgiu e que acabou decretando uma espécie de “verão permanente na música brasileira”. No rastro de João Gilberto, diz Castro, surgiram jovens compositores como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Baden Powell e cantores como Leny Andrade, Pery Ribeiro, Wilson Simonal, Nara Leão e Wanda Sá. “A chegada de João Gilberto tirara tudo do lugar”.

No auge da carreira, o artista foi reverenciado pela cena internacional ao lançar um disco com características bem brasileiras. “Sua descoberta pelos músicos e cantores americanos garantiu-lhe um culto que, começando em 1962, nunca mais parou. O LP ‘Getz/Gilberto’, lançado em 1964, é até hoje o álbum de jazz mais vendido da história —o que é surpreendente, por ser, na verdade, um disco de bossa nova e cantado em português!”, lembrou.

Em sua terra, por outro lado, acontecia justamente o contrário: críticas pelo seu temperamento polêmico, o isolamento habitual e, o pior, o descaso que marcaram o relacionamento do povo brasileiro com sua obra. “Enquanto o criticávamos por faltar a shows, deixamos de ouvir o seu legado, exposto em 13 álbuns de estúdio e, até agora, quatro ao vivo. Está tudo lá —o homem por trás daquelas maravilhas nem precisava aparecer”.

Ao finalizar o texto, Ruy Castro lembra que, assim como no início de carreira, quando dividia os acordes com a irmã em Diamantina (MG), o cantor passou os últimos dias de sua vida cantando para a solidão. “João Gilberto passou as últimas décadas tocando para as paredes de seu apartamento, entregue a uma missão, por definição, maluca e impossível —aperfeiçoar a perfeição”.

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