Artista do DF traz questões de gênero na mostra “Um Menino Bonzinho”
“Investiguei formas de explorar visualmente minha sexualidade, as relações familiares e a sociedade individualista”, diz Rafael da Escóssia
atualizado
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A Galeria XXX Arte Contemporânea (Jardim Botânico) deu início a “Um Menino Bonzinho”, primeira mostra individual do artista brasiliense Rafael da Escóssia. No espaço, quadros e instalações questionam as imposições de gênero na atualidade – tema em alta com o fechamento da exposição “Queermuseu” em Porto Alegre (RS) no início do mês.
O trabalho foi realizado pelo artista ao longo de 11 meses e contou com o apoio de Rogério Carvalho, proprietário da galeria. “Investiguei formas de explorar visualmente minha sexualidade, as relações familiares, os privilégios que possuo, a sociedade individualista contemporânea e minha dor traduzida em poesia e crítica”, explica Rafael.
Eu reflito a partir de minhas próprias vivências, da minha dor, dessa falta interna constitutiva de quem sou e somos como seres humanos. Acredito que a auto-exposição, com essa finalidade artística, tem um efeito de legitimação importante no meu trabalho.
Rafael da Escóssia
Em seu texto de curadoria, Rogério Carvalho aponta a importância da liberdade no trabalho de Rafael e afirma que o artista tem o mérito de não se perder na “abstração e no descompromisso com o que foi e com o que é”. “O cerne é justamente a voz daquilo que somos e o que esperam de nós”, diz Rogério.
Sociedade em xeque
A exposição está dividida em três momentos identificados como disfunção [1], disfunção [2] e disfunção [3]. No primeiro, Rafael da Escóssia faz uma reinterpretação de obras infantis apontando lições de moral e condutas moralmente reprováveis.
Por fim, Rafael faz uma crítica social ao trazer obras que dizem respeito à religião e à experiência da homossexualidade. O artista faz graduação de direito na Universidade de Brasília (UnB), é ator por formação e também realiza performances como drag queen em alguns trabalhos artísticos.
Ao ser questionado sobre as manifestações contrárias aos temas apresentados na mostra, o artista responde: “Existe uma diferença entre fazer apologia a algo e apresentar o resultado de um processo criativo, que pode ter inúmeras versões a depender da interpretação que recebe. A questão me parece parte de um projeto conservador difuso que se impõe neste momento histórico do país”.
“Um Menino Bonzinho”
Até 22 de outubro na galeria XXX Arte Contemporânea (Condomínio Verde, Rua Sucupira, Casa 23, Jardim Botânico). A visita deve ser marcada com o proprietário Rogério Carvalho pelo número (61) 9 9230-6980