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Legado de Afonso Brazza permanece intacto, mas carece de atenção

Amigo e produtor do diretor, morto em 2003, Pedro Lacerda mantém em sua casa cópias em película dos últimos três filmes do bombeiro-cineasta

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
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Que Afonso Brazza ainda é muito querido pelos cinéfilos brasilienses, disso não há dúvida. Mas um fato ajuda a confirmar o interesse permanente pela obra do bombeiro-cineasta. A homenagem “Afonso É uma Brazza”, de Naji Sidki e James Gama, saiu do 48º Festival de Brasília com o prêmio de melhor curta-metragem pelo júri popular. Com essa demanda latente por ver Brazza na tela grande, surge a dúvida: onde estão os oito filmes dirigidos por ele?

Mestre na arte de improvisar nas cenas de ação, Brazza filmou em VHS, 16mm e 35mm. Cópias dos últimos três filmes, rodados em 35mm, são abrigadas no apartamento de Pedro Lacerda, amigo e produtor do diretor. Foi ele o responsável por finalizar o oitavo e derradeiro longa, “Fuga Sem Destino” (2002), mostrado em 2006 no Festival de Brasília.

O negativo original de “Fuga” está guardado no Centro Técnico Audiovisual (CTAV), órgão ligado ao Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro. “Conservo a película em lugar seco. Esse tempo é ótimo para ela. O problema é a umidade”, diz ele, sobre como mantém as cópias de “Fuga”, “Tortura Selvagem – A Grade” (2001) e “No Eixo da Morte” (1998).

Os outros trabalhos de Brazza circularam por anos em VHS e podem ser encontrados em cópias piratas postadas na íntegra no YouTube. Os originais desses filmes já estavam desaparecidos quando da morte do cineasta, em 2003, aos 48 anos. Provavelmente, como era de costume, os negativos foram utilizados para pagamentos de dívida.

Afonso Brazza e Claudette Joubert durante as filmagens de "No Eixo da Morte" (1998): Foto: Divulgação.
Afonso Brazza e Claudette Joubert durante as filmagens de “No Eixo da Morte” (1998) *Divulgação*.

 

Brazza em DVD, Blu-ray ou de novo no cinema: um sonho
Lacerda ambiciona, no futuro, passar os rolos para o formato digital e relançar “Fuga” em DVD ou Blu-ray e, quem sabe, nos cinemas. Ele calcula um gasto de cerca de R$ 8 mil somente para a digitalização, fora os custos com burocracia e licenciamento da obra. Em junho, o também cineasta tentou levantar o dinheiro numa exibição de “Fuga” no Cine Brasília, com cobrança de ingresso.

“As pessoas queriam rever. Tentei arrumar os fundos, mas não deu. Ainda assim, tivemos uns cento e poucos pagantes”, conta. Outra tentativa frustrada de resgatar a obra do amigo se deu em 2013. Uma parceria com Érico Cazarré, da produtora Caza Filmes, resultaria numa mostra dedicada aos filmes de Brazza no CCBB e num possível box de DVD com “Fuga”, “Tortura” e “No Eixo”. O centro cultural, porém, não aprovou o projeto.

Apesar das dificuldades, Lacerda não desiste. “Estou aberto a parcerias. Tenho vontade de fazer um documentário sobre a Claudette Joubert (mulher e atriz de Brazza). A vida dela é uma tragédia. Ela sempre esteve à beira do abismo”, revela. Desde o falecimento do diretor, Claudette vive com sua filha e enteada do cineasta, Camila, no município de Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. A intérprete abandonou o cinema e nunca mais pisou os pés em Brasília.

Enquanto isso, o baiano radicado em Brasília, que tal como Brazza veio pequeno para Brasília e aprendeu cinema na Boca do Lixo três décadas atrás, em São Paulo, toca seus trabalhos autorais. Ele deve inscrever seu último longa, “Vidas Vazias e as Horas Mortas”, no Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para lançá-lo comercialmente em 2016. Outro projeto é “Profissão Livreiro”, um registro documental sobre personagens ligados à cultura das livrarias de bairro, como Ivan da Presença e Chiquinho da UnB.

 

 

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