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Lars von Trier abala Festival de Cannes com violência extrema

The House that Jack Built, novo longa do diretor de Anticristo, chocou os espectadores com história de serial killer de mulheres

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Christian Geisnaes/Divulgação
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1 de 1 The-House-That-Jack-Built-05-photo-by-Zentropa-Christian-Geisnaes - Foto: Christian Geisnaes/Divulgação

Para quem acompanha Lars von Trier, 62 anos, desde Ondas do Destino, há 20 e tantos anos, é certamente reconfortante ver o diretor de volta ao Festival de Cannes. Há sete anos, ele chamado de nazista por ter feito declarações consideradas racistas durante a coletiva de Melancolia. Na ocasião, o cineasta disse que entendia Adolf Hitler. Von Trier virou persona non grata e, banido da Croisette, foi exibir Ninfomaníaca, seu filme seguinte, em Berlim.

De volta a Cannes, algo terrível se passou. A assessora do cineasta informou: “Ele sempre foi ansioso e, há tempos, sofre de depressão. Toma drogas cada vez mais pesadas e substâncias para tentar minimizar os efeitos: tremor das mãos, movimentos rígidos, fala entrecortada”.

Mas o cineasta dinamarquês está lúcido. “Depois do sexo em Ninfomaníaca, um bom tema para causar é a violência. Diz respeito a todos, no atual estado do mundo. Os assassinos em série sempre me interessaram. Só falta agora me chamarem de serial killer, o que não sou, claro. Mas, nesse mundo de fake news, ninguém está nem aí para julgamentos morais. Se ajudar a vender jornais e criar sensacionalismo, está valendo.”

 

Na ficção de seu novo filme, The House that Jack Built, o personagem mata mais de 60 pessoas, a maioria mulheres, ao longo de 12 anos. Depois de nazista, o mínimo que você está sendo chamado agora é de machista. Jack é a sua reação ao movimento #MeToo?
Você não é a primeira pessoa a dizer isso. Acho que vivemos numa era de reducionismo, em que as mensagem têm de ser reduzidas ao mínimo. Menos toques. Jack tem uma mente descompensada e sofre de transtornos. Achei que seria divertido criar cenas como a da obsessão dele por limpar o local do crime, ou a do piquenique familiar que termina em banho de sangue. Mas a essência do filme é a cultura da indiferença.

Como assim?
A mulher que vai à polícia, que grita por socorro na janela. As mulheres estão protestando e forçando todo mundo a ouvir suas vozes. Mas as mudanças, aqui mesmo nesse festival, ainda têm sido tênues.

Por que escolheu Matt Dillon para o papel?
Você já falou com ele, não? Matt deve ter dito que foi a primeira coisa que ele mesmo se perguntou. Escrever esse filme não foi fácil e, na produtora [Zentropa], as pessoas diziam que não seria fácil encontrar um ator. Matt quase desistiu quando foi me visitar em Oslo para fazermos a leitura do roteiro. Prometi que seria um set ameno, a despeito do tema, e creio que conseguimos. O escolhi por seu rosto bonito. A gente valoriza muito a beleza das mulheres, mas e a dos homens? As mulheres adoram essas carinhas de anjo, principalmente quando os sujeitos as surpreendem com uma pegada forte.

Durante todo o tempo, Jack está querendo construir uma casa. Quer mostrar para ele mesmo que é um arquiteto, um artista, mas local está sempre sendo demolido. Finalmente, é uma arquitetura de horror, mas não vamos dar spoilers. O assassinato em série é uma forma de arte?
É um pouco a ideia que está em discussão, mas é como já falamos no início. Era importante que Matt [Dillon] entendesse a mente de Jack e não o julgasse do ponto de vista moral, mas nunca é fácil para os outros aceitar. Mas ele é um ator, todos sabem que o autor sou eu. A fatura vem para mim. Viro um monstro. Esse julgamento das ruas é a coisa mais fácil de manipular.

E como foram as reações?
Cheguei a Cannes ouvindo que as mulheres iam querer me trucidar. Até agora, têm sido respeitosas, mas o inimigo certamente não sou eu. Tenho criado personagens fortíssimas. Em Ondas do Destino, Dançando no Escuro, por exemplo. Acredito na paridade, mas não consigo vê-las despontando no horizonte.

Por que você dividiu a história em cinco capítulos, identificados como “incidentes”?
Creio que isso me dá uma riqueza de tom muito grande, da mesma forma que iniciar o filme com o diálogo entre Jack e esse Verge (Bruno Ganz), que só identificamos no final. Supostamente, essa é uma história de época, passada Estados Unidos, nos anos 1970. Isso me permite certa distância e também de impregnar a história de Jack com um humor absurdo. No catálogo do festival, o filme é definido como uma mistura grotesca de sofisticação com piedade quase infantil pelo personagem. Estou certo de que as pessoas pensam: “Lars está f… com a gente”.

Como você define sua colaboração com o fotógrafo chileno Manuel Antonio Claro?
Manuel Antonio Claro nasceu em Santiago do Chile, mas é um diretor de fotografia dinamarquês. Quando comecei a me aprofundar nas novas tecnologias, eu precisava de alguém como ele. Jovem, ousado. Manuel tem o sentido da luz, é econômico. E eu precisava de alguém capaz de iluminar o inferno. Ele me apresentou soluções criativas, mas basicamente partimos do conceito sartriano. O inferno são sempre os outros.

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