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Crítica: “Vinte Anos” conta histórias de amor em Cuba

Os curtas “Confidente” e “Procura-se Irenice” completaram a primeira sessão competitiva deste domingo (25/9), no Festival de Brasília

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Vinte Anos, filme, Festival de Brasília
1 de 1 Vinte Anos, filme, Festival de Brasília - Foto: Divulgação

Sob diferentes abordagens, o documentário deu o tom da primeira sessão competitiva deste domingo (25/9), no 49º Festival de Brasília. O longa “Vinte Anos” (foto no alto) se destacou ao narrar histórias de amor de casais cubanos ao longo de duas décadas.

Nos curtas, a não ficção surgiu em propostas tanto tradicional quanto experimental. Todo formado a partir de um garimpo de arquivo, “Confidente” narra uma espécie de ensaio visual com cenas repetidas e justaposição de som, texto e imagem. “Procura-se Irenice” é um filme-denúncia sobre uma atleta cuja trajetória foi sufocada pela ditadura militar.

Leia críticas dos filmes exibidos na primeira sessão noturna deste domingo (25/9), no Festival de Brasília:

“Vinte Anos” (RJ/Costa Rica), de Alice de Andrade
O novo longa de Alice de Andrade é, antes de qualquer coisa, um encontro entre dois filmes. Em 1992, época em que a antiga e já desmantelada União Soviética parou de apoiar Cuba, o país começava a viver uma crise econômica e simbólica.

A diretora estudara cinema por lá. Com receio de que a memória do país se degradasse, fez “Luna de Miel” (1992), documentário em que reúne histórias de 50 recém-casados. A partir de 2008, ela decidiu revisitar três desses pares para compor “Vinte Anos”, crônica sobre um país em que passado, presente e futuro se confundem.

Em cada novo encontro, os casais, uns com filhos, outros com netos, veem seus depoimentos em 1992. A preservação de Cuba como uma país intacto e antiquado também resvala na maneira como os habitantes se amam: os três casais, cada um à sua maneira, cultivam o mesmo carinho recíproco de décadas atrás.

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Um casal se converteu ao protestantismo e acumula netinhos. Outro, já pais de gêmeas em 1992, veem as filhas rumarem por caminhos distintos, mas ambas na música: a clarinetista fica em Cuba, a violinista se fixa na Costa Rica e tenta um espaço na sinfônica do país.

O casal certamente mais complexo revela como as diferenças geracionais se articulam de um jeito curioso em Cuba. Após quase duas décadas juntos, marido e mulher decidiram se mudar para Miami, mesmo mal arranhando o inglês. Levaram o filho adolescente. Mas a filha mais velha e a netinha tiveram que ficar por ordem do genro.

“Vinte Anos” exibe um charme de apreciação imediata, mas do meio para o fim se mostra repetitivo, ainda que a montagem tente movimentar, espelhar e misturar as histórias. De qualquer maneira, Alice de Andrade consegue formar uma envolvente crônica sobre o afeto, num país em que a memória é uma riqueza perene.

Avaliação: Regular

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“Confidente” (RJ), de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes
A obsessão em torno da imagem dita a dinâmica deste curta carioca, todo formado a partir de filmes antigos da Agência Nacional e do cineasta Humberto Mauro. Na tela, o que se vê é uma sucessão de imagens repetidas, congeladas, aceleradas, alongadas, depuradas, editadas.

Alguém abre e fecha uma porta, um carro passa por uma estrada, frases como “este sou eu”, “já volto” e “este é o meu pai” compõem a narração em off. Explorando os limites entre o filme-ensaio e a videoarte, “Confidente” consegue estabelecer uma narrativa abstrata a partir de imagens aparentemente avulsas.

Um cinema encaixotado em si mesmo, capaz de atordoar e provocar por meio de seus próprios mecanismos internos.

Avaliação: Bom

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“Procura-se Irenice” (SP), de Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça
As Olimpíadas Rio 2016 terminaram com o surgimento de novos heróis do esporte nacional e um clima de comoção coletiva alimentado nas mais diversas competições. “Procura-se Irenice” vai exatamente no sentido contrário: denuncia o desaparecimento simbólico e histórico de uma atleta fora de série durante os primeiros anos da ditadura militar no Brasil.

Nos arquivos oficiais, as menções a Irenice descrevem a corredora de atletismo como indisciplinada. Expulsa da delegação do Brasil nas Olimpíadas de 1968, no México, a atleta ousava falar contra o racismo e criticar até métodos de treinamento, numa época em que o esporte também era chefiado por militares.

Por isso, foi silenciada pelo Comitê Olímpico Brasileiro e praticamente apagada dos anais do esporte brasileiro – apesar do desempenho de ponta em treinamentos e competições. Com performances de uma atriz representando Irenice e informes de rádio, o curta se equilibra entre esses adereços e depoimentos. Um filme falho na forma, mas potente no conteúdo por registrar mais uma triste aberração forjada pela ditadura.

Avaliação: Regular

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