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Crítica: João de Deus – O Silêncio é Uma Prece tropeça na área técnica

Com a história emocionante para os que creem no médium, documentário perde encanto ao não valorizar boas imagens

atualizado

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Paris Filmes/Divulgação
JOÃO DE DEUS – O SILÊNCIO É UMA PRECE
1 de 1 JOÃO DE DEUS – O SILÊNCIO É UMA PRECE - Foto: Paris Filmes/Divulgação

Em uma cidade no interior de Goiás, uma comunidade religiosa se une em torno de um médium que realiza as chamadas cirurgias espirituais. A propriedade, de paredes brancas e azuis, com um extenso jardim, contrasta com o belíssimo céu do Cerrado. Ali, só é permitido se vestir de branco. Diante desse cenário idílico, a baixa qualidade das imagens de João de Deus – O Silêncio é uma Prece é estarrecedora.

Não importa se a tomada é interna ou externa: se há luz natural no ambiente, as imagens estarão estouradas. Com exceção das entrevistas do documentário (muitas feitas no contra-luz), gravadas em tripé, fotometradas e focadas antes da gravação, todas as cenas do filme têm enquadramentos péssimos. Muitas imagens apresentam erros graves de foco, como em vários momentos em que o rosto de João está borrado e a resolução fica toda em sua roupa. Outras passagens não têm foco algum.

Além da má fotografia, o filme padece de uma aparente indecisão em relação ao que mostrar. O uso incessante de zoom automático e zoom de lentes nas tomadas demonstram uma falta de cuidado chocante: talvez uma produção sem storyboards? No começo do filme, João de Deus dirige por Abadiânia e conversa com alguns habitantes. O cinegrafista, no banco do passageiro, não consegue decidir se filma o médium ou o motociclista encostado à sua janela. Nesse vai e vem, a qualidade do documentário se esvazia.

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O documentário aparenta ter sido gravado com duas câmeras. O aparelho de apoio, no entanto, é de qualidade muito inferior ao principal. Se as imagens registradas ali tivessem sido sacrificadas, certamente a qualidade técnica do filme teria se elevado. Outro problema é o som, completamente irregular durante a projeção. Em diversas cenas, o barulho do ambiente impede a compreensão do que João de Deus fala. À primeira vista, qualquer um pensaria que a produção é obra de um iniciante, mas não é o caso: Candé Salles tem 10 anos de carreira e assina a direção de outros dois longas.

A produção não apresenta nenhuma visão contrária aos trabalhos do médium. A crença é endossada pela presença de alguns médicos no centro, além das famosas Cissa Guimarães, que narra o documentário, e a artista plástica Marina Abramović. Sem mostrar qualquer defeito na personalidade de João de Deus e com uma narrativa despida de conflitos, o filme se reduz a uma propaganda religiosa que não dá margem ao ceticismo.

Avaliação: Ruim

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