metropoles.com

Como a pandemia de Covid-19 impactou o Oscar 2021 e o cinema

Além de adiar o dia do evento mais esperado no mundo do cinema, crise sanitária fez com que regras da tradicional premiação fossem alteradas

atualizado

Compartilhar notícia

Gisele Schmidt/NETFLIX.
MANK_2
1 de 1 MANK_2 - Foto: Gisele Schmidt/NETFLIX.

A 93ª cerimônia do Oscar será realizada no dia 25 de abril e o primeiro capítulo da festa do cinema foi realizado nessa segunda-feira (15/3): os indicados ao grande prêmio foram anunciados. Porém, já se sabe que o evento em 2021 tem uma questão inédita, pela primeira vez, acontecerá em meio a uma pandemia.

Não é apenas a festa que será afetada, mas o conteúdo, afinal, salas de cinema ficaram fechadas a maior parte do tempo nos últimos 12 meses e o streaming virou a principal plataforma para filmes no mundo.

Além de abrir mão do luxo e do tradicional tapete vermelho, para realizar a competição deste ano, o Oscar precisou flexibilizar diversas regras – permitindo, excepcionalmente, que títulos exibidos somente em plataformas digitais pudessem disputar a estatueta. As mudanças, apontam os críticos de cinema ouvidos pelo Metrópoles, impactaram diretamente na edição 2021 do Oscar, adquirindo um novo caráter, evidenciado nas produções elencadas para a disputa.

O Metrópoles conversou com Michel Arouca, do Série Maníacos, e Aline Diniz, jornalista e apresentadora, para abordar o impacto da pandemia na corrida ao Oscar 2021. A dupla esteve à frente da transmissão, na TNT Brasil, da cerimônia de indicações ao prêmio neste ano.

Michel Arouca e Aline Diniz
Michel Arouca e Aline Diniz
Presença do streaming

Diante de tantos cinemas fechados, em virtude das medidas de contenção ao avanço da pandemia, pela primeira vez na história, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu aceitar no Oscar inscrições de filmes que tiveram estreia somente no on-line.

Veja onde assistir aos filmes indicados ao Oscar 2021.

Este é caso de, por exemplo, Soul, o Som do Silêncio, Os 7 de Chicago, Mank e outros. Neste momento, plataformas como Netflix, Amazon Prime Vídeo e HBOGo entraram no circuito de vez.

“A Netflix, principalmente, é uma plataforma que está em busca do prestígio. Já tem uma certa soberania em termos de catálogo e agora investiram pesado no Oscar, tanto que Mank foi o que recebeu mais indicações”, considera Michel Arouca.

0

“Para o streaming, estar no Oscar é mais uma forma de atrair assinantes. Vamos supor que Mank vença, a partir de então, a Netflix, que já tem Roma, passa a ser a ‘casa do Oscar’, isso é um marketing muito poderoso. Não é à toa que estão investindo milhões de dólares nas produções”, reflete Arouca.

Para Aline Diniz, aceitar a inscrição de filmes do streaming foi uma estratégia da Academia para manter o número de títulos considerável na disputa aos prêmios.

“Poucos filmes de streaming chegaram até as categorias finais, com destaque para Mank, o Som do Silêncio e Os 7 de Chicago. A maioria dos outros são produções que estrearam em cinema antes da pandemia”, avalia.

“Não sinto que foi de fato uma aceitação do Oscar de que os filmes do streaming precisariam ser indicados, foi uma concessão. Acredito que eles foram vencidos pelo cansaço. Não foi uma conquista do streaming, foi uma estratégia do Oscar. Sem o streaming, eles teriam muito menos títulos do que tiveram”, destaca.

Janela de elegibilidade

Tradicionalmente, poderiam concorrer ao Oscar os filmes que fossem exibidos entre 1º de janeiro até 31 de dezembro no ano anterior à premiação. Neste ano, o período se estendeu até 28 de fevereiro de 2021.

“A extensão da janela de elegibilidade foi uma das principais mudanças do Oscar advindas com a pandemia. Judas e o Messias Negro, que recebeu seis indicações, é um filme que conseguiu tirar proveito desta regra, já que veio mais no começo de 2021”, aponta Michel.

Messias e o Judas Negro
Messias e o Judas Negro estreou na quinta-feira (25/02) nos cinemas do país

 

A grande noite

Assim como o Golden Globe, realizado no final de fevereiro, e o Emmy Award, em setembro do ano passado, a cerimônia de premiação do Oscar, prevista para 25 de abril, deve ter formato híbrido, ou seja, com momentos presenciais e outros virtuais.

Ainda não foi confirmado se parte da cerimônia será realizada no Dolby Theater, tradicional casa do Oscar em Los Angeles.

Depois da fórmula bem sucedida do Emmy, Arouca afirma não esperar nada menos que a maior premiação hibrida da pandemia.

“Eles tiveram tempo depois do Emmy para pensar em uma transmissão ainda melhor. Espera-se que, mesmo em meio a pandemia, seja mantido o nível de grandiosidade do evento. A Academia vai tentar o máximo possível manter o glamour do Oscar”, prospecta.

Efeitos pós-pandemia

A expectativa é que a pandemia não deixe marcas apenas em 2021. Para receber os títulos do streaming, o Oscar precisou se adaptar e, inclusive, atualizar sua plataforma de hospedagem dos filmes que foram exibidos on-line. “Houve um investimento digital que talvez não teria acontecido tão cedo se não tivesse a presença do streaming”, destaca Michel Arouca.

O cinéfilo notou ainda a preocupação do Oscar em captar um novo público como audiência.

“O Oscar está tentando falar com as pessoas mais jovens, perder um pouco o ar pomposo de gravata borboleta para torná-lo mais acessível. Até mesmo o crescimento das plataformas de streaming é bom para o Oscar, quanto mais pessoas assistirem os filmes, melhor para eles, mais gente vai querer ver a premiação”, afirma Arouca.

Na indústria audiovisual, como um todo, os efeitos da pandemia podem se estender por até dez anos, de acordo com Aline Diniz.

“A pandemia ainda vai refletir por alguns anos no audiovisual, não só no cinema, mas na tevê também, nos teatros. Esse impacto será até a próxima década, ouso dizer. Por exemplo, grandes títulos de blockbuster, como Viúva Negra, não têm data de estreia, já que lançar um filme desse sem bilheteria prejudicaria muito”, exemplifica a apresentadora.

Compartilhar notícia