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“Califórnia” faz viagem nostálgica aos anos 1980

Dirigida por Marina Person, comédia acompanha uma adolescente de 15 anos que sonha conhecer o tio, um jornalista musical vivido por Caio Blat

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1 de 1 Divulgação - Foto: Divulgação

Filha do cineasta Luís Sérgio Person, não é de se admirar que a atriz e apresentadora Marina Person fosse algum dia, finalmente, se render ao cinema e seguir os passos do pai, morto precocemente aos 39 anos, em 1976, num acidente de carro. Sua segunda imersão atrás das câmeras, após realização de um documentário em homenagem ao diretor de filmes como “São Paulo S.A.” (1965) e “O Caso dos Irmãos Naves” (1967), o drama “Califórnia” é uma viagem nostálgica aos anos 1980 pela ótica da juventude daquela época.

Então uma adolescente com 15 anos – mesmo período em que a história do filme se passa -, Marina Person projeta em algumas cenas dados biográficos. Típico. Na trama, surgem ecos de suas memórias, como o movimento das Diretas Já e uma trilha sonora do balacobaco, que ajuda a contextualizar o espectador mais jovem sobre o ritmo que embalava a garotada da geração pós-ditadura militar. Entre eles, a jovem paulistana Estela (Clara Gallo), uma fã ardorosa de David Bowie que sonha conhecer a Califórnia com o tio doidão Carlos (Caio Blat em atuação supimpa), já há algum tempo por lá.

https://www.youtube.com/watch?v=69Q9qWqoVJY

Mas enquanto isso não acontece, ela se submete ao rito de passagem que toda garota de sua idade cruzou. É a irremediável fase das descobertas, incertezas, desilusões e escolhas, algumas erradas, outras não. Ou seja, a primeira menstruação, o primeiro beijo, a primeira transa. Como bem sintetizou Renato Russo num dos trechos da faixa “Aloha”, do disco “Tempestade”: “Eu gosto de cinema/E de coisas naturais/E penso sempre em sexo, oh yeah!”, cantou o líder da Legião Urbana.

E é justamente quando está dividida entre o amor de Xande (Giovanni Gallo), o garoto popular da escola, e o esquisitão JM (Caio Horowicz), com seu cabelo e maquiagem no estilo Robert Smith (The Cure), que ela recebe a notícia inesperada da volta do tio. Na bagagem, ele traz uma infinidade de mimos como cartazes, camisetas e fitas cassetes, mas também uma doença que as manchetes dos jornais popularizavam como a “peste do amor”.

Filão explorado à exaustão no cinema, “Califórnia” tinha tudo para descambar para os clichês dos filmes do gênero, mas, surpreendentemente, não é o que acontece. Abordando o tema de forma sutil, sincera e natural, Marina Person, que se mostra segura na direção de elenco jovem, consegue transformar a fita talvez numas das melhores produções já realizadas sobre esse universo. E tudo ao som de uma trilha sonora contagiante, saudosista e afetiva. Aqui tão essencial que ela surge como um personagem do roteiro. Bem-vindo aos anos 1980!

Avaliação: Ótimo

Veja horários e salas de “Califórnia”.

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