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Uma “cidade” doente: Saúde do DF registrou 10 mil atestados em 4 meses

Para efeito de comparação, o número de baixas na pasta é maior do que o de moradores de duas regiões administrativas do DF, Fercal e Varjão

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Enfermeiras - Metrópoles
1 de 1 Enfermeiras - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Nos primeiros quatro meses de 2023, mais de 10,3 mil servidores da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) precisaram de atestados de afastamento do trabalho. Grande parte desses servidores são técnicos em enfermagem. O elevado número chama atenção. É como se fosse uma cidade inteira doente. Para efeito de comparação, duas regiões administrativas do DF, Fercal e Varjão, têm menos de 10 mil habitantes, segundo a mais recente Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio, a Pdad.

Os dados constam em um boletim epidemiológico produzido pela pasta e obtido pelo Metrópoles. De acordo com o documento, os técnicos em enfermagem correspondem a 38,35% dos servidores afastados do trabalho por questões de saúde nos primeiros 4 meses de 2023 — equivalente a 3.985 profissionais.

Em segundo lugar, os enfermeiros foram a categoria que mais precisou de atestados para cuidar da saúde. A categoria representa 16,82% de todas as licenças apresentadas no período analisado. 

ilustração de jaleco azul com informações dentro

Gatilhos

Ainda segundo o levantamento, o tratamento de transtornos mentais ou comportamentais foi um dos principais motivos para o afastamento dos mais de 10 mil servidores.

A presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues, afirma que o adoecimento mental na saúde pública tem vários “gatilhos”.

“Na Saúde, há um fator que potencializa: a insatisfação de muitos pacientes, que é descontada nos servidores. O que nós observamos em todas as unidades é um esforço da equipe, tirando do próprio bolso o custeio de melhorias no ambiente laboral. Isso ocorre porque as iniciativas do governo são insuficientes para proporcionar um ambiente voltado à recuperação do servidor e à prevenção do adoecimento mental. É preciso ter em mente que servidores são seres humanos, não máquinas”, comenta.

Para Marli, não há uma política de Estado efetiva para preservar a saúde dos servidores da SES. “Citando apenas um exemplo, é urgente que o governo implemente de fato esse tipo de assistência no plano de saúde dos servidores do GDF. Eles precisam ter o amparo adequado no âmbito do plano de saúde quando se trata de adoecimento mental.”

Agressões e abusos

Uma técnica de laboratório de 61 anos conta já ter sido agredida por um paciente e presenciou, ao longo dos anos em que esteve na SES, diversas outras violências e perseguições. “Comigo ocorreu logo cedo de manhã. Estávamos sem energia na unidade de saúde e eu precisei avisar aos pacientes que estavam na fila sobre a situação”, conta a funcionária pública, que prefere não se identificar.

“Esse paciente específico ficou muito irritado e queria ser atendido na hora. Ele gritava, ameaçava me matar, mas, como achei que ele pudesse estar em surto, não chamei a segurança nem apoio na hora. Quando virei-me para falar com outra paciente que estava na fila, ele começou a me bater”.

A técnica saiu, chorando, chamou a chefia e o vigilante da unidade. Todos foram conduzidos para a delegacia e o homem foi processado pela agressão. Porém, a servidora não conseguiu retornar ao trabalho após o episódio. “Eu já tinha depressão e isso foi um gatilho. Tive crise de pânico, não consigo dormir direito e tive de ficar afastada por um ano do trabalho”.

Em junho deste ano, um servidor do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) ficou machucado após ser agredido dentro da unidade de saúde. O acompanhante de uma paciente teria se irritado depois de ser informdo que os documentos apresentados eram de um veículo, não da pessoa a ser atendida.

Abusos

Uma técnica em enfermagem da SES, que também prefere não se identificar, comentou sobre os abusos cometidos, muitas vezes, por colegas de trabalho. Segundo ela, há chefes que gritam e perseguem trabalhadores.

“São várias unidades em que passamos por situações vexatórias e temos medo de denunciar porque sabem que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco”, diz.

Servidora da Saúde do DF denuncia assédio moral e receberá indenização

No ano passado, servidores da região Centro-Sul — responsável pelo Guará, Estrutural, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Park Way, entre outros — denunciaram terem sido alvos de assédio moral por parte da então superintendente da região.

“Grita e ameaça de exoneração”, disse um gestor que atua na região há cerca de 3 anos e que preferiu não se identificar, por medo de represálias. “Já me chamou de incompetente e de outras coisas extremamente constrangedoras”, completou. Após a exposição do caso, a superintendente foi exonerada do cargo.

O que diz a Secretaria de Saúde

Procurada, a Secretaria de Saúde informou que repudia os casos de agressão física e verbal a profissionais de saúde. “A pasta lamenta essas ocorrências e destaca que tais situações se enquadram como crime, previsto no Código Penal. É inadmissível que servidores públicos sejam tratados desta forma no desempenho de suas funções em prol da assistência à Saúde no Distrito Federal. O servidor que sofre qualquer tipo de agressão recebe toda a assistência necessária, tanto psicológica quanto o resguardo de sua integridade física”, completou a pasta, por meio de nota.

 

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