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“Ele merecia”, diz jovem que deu “Prêmio Exterminador” a ministro

Ian Coelho, 17 anos, “premiou” Ricardo Salles, do Meio Ambiente, com o “Troféu Exterminador do Futuro” durante audiência na Câmara

atualizado

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Myke Sena/Esp. para o Metrópoles
Ian Coelho, de 17 anos, ganhou os noticiários nesta quarta-feira (09/10/2019) após entregar ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o “Troféu Exterminador do Futuro
1 de 1 Ian Coelho, de 17 anos, ganhou os noticiários nesta quarta-feira (09/10/2019) após entregar ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o “Troféu Exterminador do Futuro - Foto: Myke Sena/Esp. para o Metrópoles

Ian Coelho, de 17 anos, ganhou os noticiários nessa quarta-feira (09/10/2019) após entregar ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o “Troféu Exterminador do Futuro”. O “prêmio” inédito foi dado durante uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

A entrega foi um ato de protesto do jovem, que se tornou mais ativo em manifestações de combate às mudanças climáticas em 2019, ano em que o desmatamento na Amazônia aumentou em 92%, chegando a 6.404,8 quilômetros quadrados, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“A gente tem uma visão muito pessimista, porque os séculos de exploração, de produção, de industrialização acabaram com o nosso planeta, e a situação está caminhando para um ponto irreversível”, afirmou o estudante ao Metrópoles. O rapaz, que mora na Asa Norte e cursa o terceiro ano do ensino médio em um colégio particular da região, faz parte do grupo Jovens pelo Clima – Brasília.

Na mesma linha de raciocínio da ativista ambiental sueca Greta Thunberg, de 16 anos, o brasiliense aponta que não há tempo para jovens como ele chegarem ao poder para tomarem uma atitude. “Temos que utilizar das estruturas políticas que nos estão disponíveis para conseguir fazer mudanças”, afirma o rapaz, que, além de Greta, tem como inspiração o ex-seringueiro Chico Mendes, assassinado na Amazônia na década de 1980, e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

O ato dessa quarta-feira demonstra a força que o estudante atribuiu ao protagonismo jovem. “Como a Greta diz, os adultos responsáveis pelo governo ficaram anos tratando a questão ambiental como crianças. Então, a gente vai ter que começar a exercer um papel de adulto, de mais responsabilidade dentro dessa questão.”

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Merecimento

Ian conta que o ministro “fez uma cara confusa” ao receber o prêmio, mas não falou nada. Ele lembra ainda que Salles foi rápido em esconder o troféu embaixo da mesa para que os fotógrafos e as pessoas presentes na audiência não conseguissem ver o objeto.

“Saí gritando que eu tinha feito essa entrega porque ele merecia, porque ele tem se esforçado para conseguir esse prêmio”, explica. “É a primeira vez que a gente faz essa entrega, porque ele realmente está se empenhando muito para conseguir exterminar nosso futuro.”

A deputada federal Fernanda Melchionna (PSol-RJ) publicou, em sua conta oficial do Twitter, o vídeo do momento exato da “premiação”. Ian conta que, desde que a entrega do troféu ganhou as redes sociais, ele vem recebendo manifestações positivas de internautas e até de parlamentares.

“Eu estou recebendo muito apoio, e as pessoas que estão falando mal não são nem 1% do resto”, afirma. “Mas xingamento de adversário político para mim é elogio. Mostra que eu sou diferente deles, que é justamente o que eu quero ser. Diferente dessas pessoas que pensam como o ministro Salles e como o presidente da República [Jair Bolsonaro].”

Dias de preparação

Todos os passos estavam sendo planejados há duas semanas, pensando nos diversos cenários que poderiam se desenrolar. “Eu tinha um advogado lá presente. Fizemos uma revisão se aquilo era legal ou não. Tínhamos dispositivos que facilitavam a gente realizar tal feito”, conta o estudante. “Não foi só eu, em um ato inconsequente e totalmente irresponsável, dando a louca no Congresso.”

Porém, foi o “plano A” que deu certo, e muito além do que ele e as outras pessoas envolvidas na manifestação imaginavam. “Nossa expectativa não era tão grande. Na União Europeia, tem gente comentando sobre isso. Tomou uma proporção que a gente queria que chegasse, mas não achou que chegaria”, explica.

A ideia de Ian não era causar confusão; era apenas entregar o troféu. No vídeo gravado pela deputada Fernanda Melchionna, é possível ver o momento exato da retirada do jovem da sala. Os seguranças o levam pelo braço e pegaram o boneco, apreendido pelo Departamento da Polícia Legislativa (Depol).

“Eles foram bem duros, mas não foram violentos. Eles estavam na função deles, fazendo o trabalho deles”, afirma. “Acredito que, por ter sido um ato pacífico, eles poderiam ter sido mais cordiais. Vieram uns três [seguranças]. Não acho que tinha tanta necessidade.”

Educação

Ser ativo politicamente é um desejo de Ian desde que ele consegue lembrar. “Eu sei exercer os meus deveres e exigir meus direitos. Sempre tive essa predisposição”, explica. A vontade, no entanto, não vem de berço, pois a família não é ativa como o estudante.

Mesmo assim, ele aponta a educação que teve como responsável pelo caminho que está seguindo. “Minha mãe nunca me levou para a política, mas a educação que ela me passou foi de sempre buscar conhecer as coisas, nunca falar do que não se sabe, procurar saber e ir nas fontes”, explica. “Foi fundamental para eu ser quem eu sou hoje. Ela pode não ter exercido uma força política forte, mas sempre me incentivou a ser quem eu realmente quero ser.”

Chamar atenção para o meio ambiente é um exercício que acontece, inclusive, dentro de casa. “Minha avó tem um pouco de resistência, por não ver tanta importância. É uma coisa ruim, que venho tentando trabalhar para ela ver que política não é uma coisa que não se discute. Pelo contrário, tem que ser debatida, tem que ser conversada, porque é o que move o mundo”, conta.

Futuro

Ian deve prestar o vestibular no fim do ano, quando se forma no ensino médio. A primeira opção é cursar biotecnologia e seguir trilhando o caminho da defesa ao meio ambiente.

Com o sucesso repentino, várias pessoas o estimularam a seguir carreira na política, mas ele acredita ser muito cedo para pensar nisso. “Eu ainda nem saí do ensino médio. Tenho muita coisa para vivenciar”, explica. “Não é preciso ser político para exercer política. Eu, como cidadão, posso ser muito influente nesse meio.”

Por ora, ele quer se dedica às pautas do Jovens pelo Clima, que continuam a ser formuladas. O próximo ato deve ser um mutirão para o plantio de árvores, além de outras manifestações. A última realizada pelo grupo – em parceria com a Coalizão pelo Clima – mobilizou cerca de 2,5 mil pessoas no DF em setembro.

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