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Sentindo-se paralisada, vítima de estupro coletivo conta: “Passou pela cabeça fazer algo, mas não consegui”

Vítima relatou que o primeiro agressor tirou uma arma da cintura e jogou na cama. A ação intimidou a mulher, que ficou paralisada e com medo

atualizado

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Tinnakorn Jorruang/EyeEm/Getty Images
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1 de 1 imagem ilustrativa abuso - Foto: Tinnakorn Jorruang/EyeEm/Getty Images

“Só passava pela minha cabeça fazer alguma coisa, mas eu não conseguia.” A jovem de 25 anos estuprada por seis homens numa festa em Águas Lindas de Goiás (GO) narrou ao Metrópoles as quatro horas de abusos sexuais sofridos na madrugada de sábado (9/10). Com detalhes, ela descreveu os momentos de terror vividos. Só conseguiu escapar da casa por volta das 7h de sábado. O primeiro abusador teria sido o subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Irineu Marques Dias, irmão de Daniel Marques Dias, que seria o organizador da festa.

A mulher chegou ao evento, em uma chácara, no final da tarde de sexta-feira (8/10), já com a intenção de dormir no local e aproveitar a piscina no início do dia seguinte. A moradora de Águas Lindas, que não será identificada na reportagem, foi convidada por um amigo para a festa, no Setor 1 da cidade. Ela chegou ao local por volta de 17h de sexta. “Ele [o amigo] e mais dois rapazes me buscaram em casa e me levaram”, afirma. A irmã dela também esteve no evento, mas chegou depois.

Por volta das 3h, com poucos conhecidos ali, a jovem pediu para duas mulheres a levarem até um quarto, pois queria dormir. “Eu já estava com sono, cansada. Quando eu entrei no quarto, elas fecharam a porta e saíram. Aí, logo após, entrou o primeiro [homem]. Ele tirou a arma da cintura, jogou na cama e começou a tirar a roupa dele e a minha também”, relata.

O primeiro abusador seria o subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Irineu Marques Dias. Sentindo-se ameaçada pela arma, a vítima disse que não conseguiu reagir. “Eu estava com medo por causa da arma, então fiquei quieta.”

A violência, porém, não acabou ali, uma vez que mais cinco homens teriam se revezado para estuprá-la.

“Depois que ele [Irineu] saiu, entraram mais dois. Depois, esses saíram e entraram outros dois. Foram algumas vezes que eles fizeram esse revezamento. Teve uma hora que me deixaram sozinha e apareceu um na janela e ficou me observando lá sem roupa. Viu que eu estava desesperada e não fez nada. Depois disso, ele ainda entrou lá e participou”, narra. Por último, o subtenente ainda teria voltado e abusado novamente da vítima.

Já pela manhã, os homens abriram a porta do quarto e a jovem saiu. “Fingi que estava tudo bem, eles abriram a porta, eu achei uma camisa lá e vesti. Depois, vesti a minha por cima, quando achei depois. Fui lá para fora e eles me deram copo com água e me entregaram meu celular, que estava com eles”, conta.

A camisa que ela vestiu ao sair da casa seria do subtenente e teria o nome dele. “Tinha escrito ‘S. Irineu'”, afirma.

“Meu celular só tinha 4% de bateria. Eu tentei mandar mensagem para alguém, mas eles ficaram em cima de mim. Pensei que se eu mandasse mensagem eles veriam e não deixariam eu sair de lá”, acrescenta.

Conforme a mulher, os agressores ainda lhe ofereceram carona para casa, mas ela conseguiu escapar logo depois. “Eles abriram o portão e queriam me levar embora. Mas eu falei que não e pedi para chamarem um Uber para mim, já que meu celular estava descarregando. Quando um deles virou as costas, eu corri para a rua e saí gritando. Aí, apareceram umas pessoas”, revela.

De acordo com a jovem, vizinhos acionaram os bombeiros e a polícia. Ela foi resgatada pelo Corpo de Bombeiro Militar do Estado de Goiás (CBMGO) e levada ao Hospital Municipal Bom Jesus.

Os moradores da região também contataram o irmão da vítima, com quem ela mora, e informaram sobre o ocorrido. “Meu irmão chegou lá no hospital quando eu estava tomando injeção. De lá, fomos direto para a delegacia”, comenta.

Subtenente estava em serviço

Além de Irineu Marques Dias, também foram presos em flagrante o irmão dele, Daniel Marques Dias, e um terceiro homem, Thiago de Castro Muniz. O trio foi reconhecido pela vítima, que ainda teria sido violentada por outros três suspeitos, ainda não identificados pela Polícia Civil goiana.

Todos tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva. O subtenente Irineu Marques foi afastado das atividades policiais. De acordo com o apurado pela polícia, Irineu estava em horário de serviço no momento em que a mulher sofreu os abusos.

À reportagem a jovem contou que somente na delegacia soube que um dos agressores era policial. “Foi ali que descobri que ele era PM. Eu não sabia. Fiquei com muito medo, tanto que nem voltei para a minha casa.”

Após receber a notícia da prisão de três dos suspeitos, ela conta que o sentimento foi de “alívio”. Apesar disso, ela ainda espera que os outros três sejam detidos.

Segundo a jovem, ela estava consciente e lembra dos envolvidos. Assim, acredita que pode reconhecê-los, caso sejam identificados pela polícia.

De acordo com o advogado dela, Bruno de Oliveira, a defesa também deve “entrar com ação indenizatória no campo civil por todos os danos morais que foram suportados pela vítima”.

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