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Kriptacoin: carros apreendidos e contas bloqueadas somam R$ 11,4 mi

Investidores que levaram calote esperam reaver pelo menos parte do dinheiro aplicado no negócio fraudulento, que movimentou R$ 250 milhões

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
kriptacoin, ferrari
1 de 1 kriptacoin, ferrari - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Os bens apreendidos e o dinheiro bloqueado pela Justiça dos 11 presos na Operação Patrick, integrantes de uma organização criminosa que comercializava a moeda digital Kriptacoin, já somam mais de R$ 11 milhões. Em apenas duas semanas, os policiais da Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor e Fraudes (Corf) apreenderam 16 carros de luxo, avaliados em R$ 5,4 milhões. Outros R$ 6 milhões foram encontrados depositados nas contas dos participantes do grupo e de laranjas.

A expectativa dos investidores que levaram calote é reaver pelo menos parte do dinheiro aplicado no negócio fraudulento. Segundo as investigações, os golpistas amealharam R$ 250 milhões no esquema de pirâmide, deixando cerca de 40 mil pessoas “na mão”.

“Entendemos que o negócio está eivado de vício. Pensamos que existem duas alternativas para que as pessoas lesadas possam recuperar o valor investido: por meio de ações individuais, com tentativas de bloqueio de bens em nome dos envolvidos e de laranjas; ou por meio de habilitação do crédito em ação movida pelo MP”, destaca o advogado Eduardo Gauche, que representa uma das vítimas.

De acordo com ele, na segunda opção, os bens bloqueados seriam levados a leilão e o valor apurado distribuído entre os credores, sendo provável que o valor total arrecadado não seja suficiente para ressarcir a totalidade do prejuízo.

Ele cita o caso de outro esquema famoso de fraude, o caso Telexfree, em que uma juíza de Rondonópolis (MT) determinou a vinculação de um determinado bem bloqueado pelo Ministério Público à ação de um autor, como uma espécie de reserva de crédito. “É isso que buscamos nas ações também, até porque o direito não socorre aos que dormem (dormientibus non sucurrit jus)”, se referindo a investidores que não queiram correr atrás do prejuízo.

Laranjas e concessionárias
O Metrópoles apurou que a maioria dos veículos apreendidos foi paga de forma parcelada e estava praticamente quitada. Em alguns casos, os estelionatários deixavam de pagar taxas obrigatórias, como o IPVA.

Os carros estão em nome de laranjas e concessionárias, segundo os investigadores. Alguns foram localizados no Distrito Federal e outros em Goiânia (GO). Uma Mercedes Benz 0 km foi encontrada em uma concessionária de Brasília e havia sido comprada à vista.

Confira imagens de alguns dos veículos apreendidos:

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Confira a lista de todos os 16 automóveis apreendidos:

  • M. Benz CLA 240 4 M, avaliada em R$ 150 mil
  • Porshe Panamera, avaliado em R$ 325 mil
  • Audi R8 4.2 FSI, avaliado em R$ 340 mil
  • BMW 118I UA31, avaliada em R$ 65 mil
  • Ferrari 458 Itália, avaliada em R$ 1,350 milhão
  • M Benz C200, avaliada em R$ 130 mil
  • BMW X6Xdrive 5.01 FG81, avaliada em R$ 180 mil
  • Porshe Cayenne V6, avaliada em R$ 170 mil
  • BMW 528I, avaliada em R$ 157 mil
  • LR Frrelander 2 S 16, avaliada em R$ 40 mil
  • Jeep Compass Longitude F, avaliado em R$ 98 mil
  • Lamborghini Huracan, avaliada em R$ 1,950 milhão
  • Porshe Cayenne Turbo, avaliado em R$ 246 mil
  • M Benz C180FF avaliada em R$ 142 mil
  • Mini Cooper avaliado em R$ 118 mil

Avião e helicóptero
Os lucros da organização eram exorbitantes. Seus integrantes chegaram a comprar um avião avaliado em R$ 3,6 milhões e um helicóptero, que está com restrição judicial e também será apreendido pela Polícia Civil. Essa operação, segundo a corporação, é uma das maiores já realizadas no DF.

Para mostrar o alto poder aquisitivo, os estelionatários chegaram a pousar com o aeronave em uma área comercial de Vicente Pires, em frente à sede da empresa Kriptacoin.

 

Durante as buscas realizadas em 21 de setembro, quando a operação foi deflagrada, os policiais encontraram um cofre com R$ 400 mil em espécie. O dinheiro estava em uma academia de Vicente Pires, que também pertence ao grupo criminoso.

Como funcionava
Os suspeitos criaram a moeda virtual no fim de 2016 e, a partir de janeiro deste ano, passaram a convencer investidores a aplicar dinheiro na Kriptacoin. De acordo com as investigações, a organização criminosa atuava por meio de laranjas, com nomes e documentos falsos.

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O negócio, que funcionava em esquema de pirâmide, visava apenas a encher o bolso dos investigados, conforme o MPDFT, alguns deles com diversas passagens pela polícia por uma série de crimes. Entre eles, estelionato.

Dois dos principais alvos da operação são os irmãos Welbert Richard Viana Marinho, 37 anos, e Weverton Viana Marinho, 34. Eles não têm os nomes publicados no site da empresa e não constam como sócios nos dados da Receita Federal, mas se apresentam como presidentes do grupo.

Durante um mês, o Metrópoles acompanhou as atividades da Kriptacoin e também apurou denúncias contra os presidentes e outros integrantes do esquema. Na apresentação do plano de compensação, eles ofereciam aos potenciais clientes participação nos valores de R$ 1 mil, R$ 3 mil e R$ 21 mil, com 1% de ganho por dia, independentemente do crescimento da moeda.

O maior foco era dado à indicação de novos “investidores”, que podiam gerar ganhos de 10% do valor investido e um bônus de 30% da equipe menor. A atividade mostrava que, apesar da Wall Street Corporate alegar, em algumas ocasiões, que não era empresa de marketing multinível, ela dependia da indicação de novos afiliados e pagava em níveis, num sistema chamado de “binário’.

Veja o vídeo da operação:

Policial civil envolvido
O grupo acusado de aplicar golpe por meio da moeda virtual também contava com a ajuda de um policial civil aposentado e morador de Vicente Pires. De acordo com as investigações, ele atuava como uma espécie de advogado da Kriptacoin. Monitorava as ocorrências contra a empresa que eram registradas na polícia e entrava em contato com as vítimas. Em breves negociações, tentava fazer com que a denúncia fosse retirada.

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