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Sem pessoal, Hmib diz não poder receber crianças da UTI de Santa Maria

Unidade explica que “estão faltando equipamentos e materiais para uma assistência de qualidade” aos atuais pacientes

atualizado

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Em memorando assinado nessa terça-feira (7/8), a coordenação da unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) afirma não ter condições de receber crianças oriundas da UTI de Santa Maria. Segundo o documento, há dificuldades, inclusive, para atender os pacientes já internados porque “estão faltando equipamentos e materiais para uma assistência de qualidade para os leitos em funcionamento”.

De acordo com o texto, existem leitos na unidade, mas eles estão bloqueados por falta de equipamentos e técnicos em enfermagem: “Não temos como garantir qualidade e segurança
no atendimento para os pacientes que estarão em leitos que estavam bloqueados por falta de condições de funcionamento”.

Apesar do alerta, a Secretaria de Saúde informou, em nota, que duas crianças serão transferidas, até quinta (9), para o Hmib: “A unidade está se preparando, com equipamentos e disponibilidade de profissionais para acompanhá-las integralmente, conforme preconizam os protocolos vigentes”.
Conforme mostrou o Metrópoles, 10 dos 21 leitos de UTIs pediátricas do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) foram fechados nessa terça (7). Crianças que recebiam cuidados ininterruptamente foram transferidas até mesmo para enfermarias. Duas delas estão no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), e as mães, muito preocupadas.

Reprodução

 

 

O motivo alegado pela Intensicare, empresa terceirizada responsável pelos serviços, é que o GDF está inadimplente. O valor da dívida, no entanto, não foi informado. A companhia, que tem sede em Goiânia e opera desde 2010 sem licitação, foi uma das investigadas na CPI da Saúde e na Operação Drácon.

A ameaça de que, se o GDF não pagasse a dívida, a tutela sobre os leitos seria repassada à Secretaria de Saúde (SES) foi dada no dia 19 de julho, durante reunião com subsecretário da pasta. Na ocasião, a Intensicare alegou que a equipe lotada na UTI pediátrica cumpria aviso prévio até o dia 6 de agosto – a última segunda-feira.

O ofício encaminhado pela Intensicare para a SES foi dado como recebido em 25 de julho, e nele consta que ficou acordado a apresentação, por parte da Subsecretaria de Atenção Integral à Saúde, de um cronograma para a retomada dos serviços, bem como um planejamento financeiro pelo Fundo de Saúde do DF. Nenhuma dessas solicitações definidas no acordo foram apresentadas.

Ofício encaminhado à SES antecipa fechamento de leitos por dívida by Metrópoles on Scribd

 

 

Nove meses de dívida
A Intensicare acusa o DF de sucessivos atrasos nos pagamentos, que já equivalem a nove meses de serviços prestados e não pagos. O Metrópoles questionou quanto isso representava em valores, mas a empresa não respondeu.

“Tal inércia, somada ao descaso demonstrado pela Secretaria de Saúde em relação aos profissionais que durante anos prestaram valioso serviço à população de Santa Maria, culminaram com o pedido de afastamento da equipe médica, que optou por não continuar trabalhando no HRSM devido à falta de garantias de segurança para os pacientes e de salvaguarda dos seus direitos trabalhistas”, diz nota divulgada pela Intensicare.

Mãe reclama
A mãe de um menino internado há dois anos no HRSM questiona a retirada de monitores de frequência cardíaca. Segundo ela, os responsáveis pelas crianças não foram comunicados sobre a transferência desses pacientes de UTIs para enfermarias comuns.

“Não tem uma sonda para aspirar meu filho e, agora, tiraram o restinho de perspectiva de vida que ele tinha: um monitor no qual eu o via respirando e o coraçãozinho dele batendo”, lamentou.

Com a filha internada há seis anos em um leito de UTI do hospital, outra mãe questionou a retirada de equipamentos. Segundo ela, profissionais de saúde da unidade teriam informado que não havia necessidade dos aparelhos.

Empresa pede pagamentos atrasados para continuar prestando o serviço by Metropoles on Scribd

 

Outro lado
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde não comentou a dívida com a Intensicare e informou que “as mudanças em andamento no Hospital Regional de Santa Maria fazem parte do plano de reestruturação dos leitos intensivos da rede”.

Na terça (7), a pasta explicou que a UTI pediátrica do HRSM funcionaria, temporariamente, como Unidade de Cuidados Intermediários (Ucin), com 15 leitos. Os demais pacientes com perfil crônico seriam transferidos para leitos intensivos em outras unidades hospitalares, entre elas no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).

CPI da Saúde
A prestação de serviços de cuidados intensivos prestados pela Intensicare à Secretaria de Saúde é cheia de idas e vindas. Em novembro de 2016, a Justiça acolheu integralmente pedido do Minstério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e determinou que a secretaria assumisse a gestão da terceirizada.

A interrupção foi motivada após análise realizada pelo Ministério Público de Contas (MPC), mostrando que o GDF pagou por 100 leitos de UTI quando, desse total, dois estavam bloqueados na unidade neonatal e 18 não estavam em operação na parte destinada a adultos.

Durante as investigações da Operação Drácon – que, entre outras irregularidades, apura suposta quebra da ordem cronológica de pagamentos a prestadores de serviço em UTIs, como a Intensicare –, dados importantes que serviriam como provas desapareceram dos arquivos da empresa.

Segundo informaram os dirigentes, um vírus de computador teria apagado todos os arquivos com informações a respeito de despesas da terceirizada entre 2014 e 2015. Com isso, os gastos referentes a R$ 5 milhões pagos pelo GDF à terceirizada ficaram sem o detalhamento da destinação.

Devido ao problema de informática, relatado por uma funcionária do HRSM ao Ministério Público, não é possível saber, por exemplo, quais tipos de atendimento foram prestados nos leitos de UTI. Tampouco há como determinar se foi usado um remédio de R$ 2 mil ou de R$ 15 mil, ou quantos pacientes receberam os medicamentos.

Em uma das gravações feitas pela distrital Liliane Roriz (Pros) que embasaram a Operação Drácon, a deputada Celina Leão (PP) cita um “projeto” no qual seriam destinados R$ 30 milhões para a “UTI”. Uma delas é justamente a de Santa Maria, gerida pela Intensicare.

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