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Professora negra que recebeu palha de aço de aluno: “Não quis revidar”

Docente que recebeu esponja de aço de estudante como “presente” do Dia da Mulher desabafa sobre o caso, vê machismo e questiona racismo

atualizado

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Fotografia de professora com palha de aço
1 de 1 Fotografia de professora com palha de aço - Foto: Reprodução

A professora negra que recebeu uma esponja de aço como “presente” no Dia da Mulher viu um machismo claro no ato do aluno e tem dúvidas sobre a ocorrência de racismo. Em entrevista ao Metrópoles, Edmar Sônia, 48 anos, afirmou que preferiu não revidar, mas viu a proporção que o caso tomou dias depois e recebeu muito apoio dos outros estudantes.

“Houve machismo, consigo enxergar. Muito embora tenha sido em forma de brincadeira, ela tem algo por trás. Você fazer algo assim tem um pensamento ideológico anterior. Mas não sei te falar se teve racismo naquilo, porque ele também tinha dado o pacote de ‘bombril’ para a namorada, que não tem as mesmas características que eu.”

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O episódio ocorreu em uma turma do terceiro ano do Centro de Ensino Médio
Diretor do CEM 9 José Gadelha
Melk Souza, presidente da comissão de igualdade racial da seccional da OAB em Ceilândia 
e Vice-presidente Bruno Carvalho
A vítima é professora há 16 anos e começou a dar aulas de português no colégio neste ano
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Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia, escola onde aluno “presenteou” uma professora negra, no Dia da Mulher, com uma esponja de aço

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O episódio ocorreu em uma turma do terceiro ano do Centro de Ensino Médio

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Diretor do CEM 9 José Gadelha

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Melk Souza, presidente da comissão de igualdade racial da seccional da OAB em Ceilândia e Vice-presidente Bruno Carvalho

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A vítima é professora há 16 anos e começou a dar aulas de português no colégio neste ano

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O episódio ocorreu em uma turma do terceiro ano do Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia. Edmar Sônia é professora há 16 anos e começou a dar aulas de português no colégio neste ano. “Apesar do ocorrido, temos uma boa relação de aluno e professor. Duas estudantes me procuraram e falaram: ‘Eu não acredito que você aceitou, isso é muito agressivo, que ódio’. Elas falaram em forma de revolta, com raiva”, conta.

A reação da professora, na hora do ocorrido, foi pacífica. Depois, ela diz que se sentiu “neutralizada”, tentando amenizar a situação em meio à tensão que se criou para discutir o assunto em sala numa situação oportuna. “Manter a atitude calma foi o ideal, até porque a turma começou a ficar agitada. Mas cada vez mais estudantes vieram até mim. Recebi chocolates como demonstração de solidariedade, de meninos e meninas. Me falaram que eu não merecia passar por isso, e isso me chamou a atenção”, lembra.

Falas machistas

Edmar lembra já ter ouvido outras frases machistas do mesmo aluno. “Já presenciei ele falar algo tipo: ‘Mulher no volante, perigo constante’. O “presente” parece se tratar de uma atitude de um jovem adolescente que já tem uma ação machista. Que tem essa ideia de que lugar de mulher é na cozinha, como repetem muito.”

A professora afirma que haver necessidade de se fazer algo quanto a esse caso é “indiscutível”. “É uma questão para ser tratada com cautela, mas discutindo o que fazer.”

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Docente viu um machismo claro no ato do aluno e tem dúvidas sobre a ocorrência de racismo
Edmar Sônia, 48 anos, afirmou que preferiu não revidar
Episódio ocorreu em uma turma do terceiro ano do Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia
Reação da professora, na hora do ocorrido, foi pacífica
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Aluno do Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia “presenteou” uma professora negra, no Dia da Mulher, com uma esponja de aço

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Docente viu um machismo claro no ato do aluno e tem dúvidas sobre a ocorrência de racismo

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Edmar Sônia, 48 anos, afirmou que preferiu não revidar

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Episódio ocorreu em uma turma do terceiro ano do Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia

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Reação da professora, na hora do ocorrido, foi pacífica

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Entenda o caso

Um aluno “presenteou” a professora negra, no Dia da Mulher, com uma esponja de aço. Sob risos dos colegas, ele entregou a sacola enquanto era filmado pelos estudantes de uma turma do terceiro ano. Outros alunos da escola relataram que a entrega da esponja para lavar louças era uma atitude conscientemente machista e racista contra a mulher negra.

No vídeo, a professora de português aparece constrangida. “Vou aceitar, porque tudo o que vem volta”, disse ela. “Algumas pessoas viram ela chorando depois”, conta um estudante do CEM.

Segundo ele, o aluno que entregou a esponja chegou a brigar com outras pessoas que criticaram a atitude. “Ele começou a quebrar o pau, xingou todo mundo e chamou de ‘beta’ nojento”, relatou.

Muito utilizado dentro de um universo de misoginia, o termo “beta” indica um homem submisso à mulher. Como exemplo de expressões utilizadas nesse contexto, o coach Thiago Schutz viralizou com cortes de podcasts fazendo afirmações machistas sob a ótica de uma superioridade masculina.

“Alunas mulheres e negras ficaram muito ofendidas com aquilo. Quando eu e minha namorada soubemos, denunciamos para a direção”, disse o garoto que testemunhou a repercussão na escola. Em áudio enviado a grupos de WhatsApp, o aluno que deu a esponja de aço para a professora ameaça repetir a atitude com outras meninas.

“Não me testa, que eu vou te dar um ‘bombril’. Não me testa. Se você apelar, vai ficar ruim para ‘tu’.”

O fato de o caso ter ocorrido no Dia Internacional da Mulher chocou ainda mais a comunidade escolar. Em nota, a Secretaria de Educação disse que a direção da escola tem autonomia para conduzir o caso. A pasta informou ter recebido a denúncia nesta segunda-feira (13/3) e vai se reunir com o estudante e com a professora “para demais esclarecimentos”.

“A pasta ressalta, ainda, que repudia qualquer tipo de preconceito e reforça o compromisso e empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como o suporte aos envolvidos.”

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