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Ex-aliados olham com desconfiança possível reaproximação de Rollemberg

Ao Metrópoles, governador disse não descartar aliança com siglas que desembarcaram da gestão. Lideranças questionam gesto

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Chico Leite
1 de 1 Chico Leite - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A intenção de se reaproximar de antigos aliados com vistas às eleições de outubro deste ano não será tarefa fácil para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Ex-aliados do chefe do Executivo avaliam que, apesar de estarem dentro do mesmo campo político – o considerado “centro” –, dificilmente as legendas que apoiaram a primeira eleição de Rollemberg retornem à base governista para uma possível renovação de mandato à frente do Palácio do Buriti.

Em entrevista ao Metrópoles, o chefe do Executivo local assumiu publicamente, pela primeira vez, ser candidato à reeleição e, para atingir o objetivo, não descarta o apoio de aliados históricos, inclusive aqueles que deixaram a base, como PDT e Rede. “Nós enfrentamos uma agenda de muita coragem com custo político alto. Alguns políticos, pensando nas eleições, se afastaram e não quiseram se vincular a isso”, declarou Rollemberg. Ele defende, no entanto, que é chegada a hora de uma reconstrução política.

Presidente da Câmara Legislativa e nome lembrado como possível adversário do atual governador nas urnas, o deputado distrital Joe Valle (PDT) é um dos que estão na mira para reaproximação do socialista. Integrante de um dos partidos com o qual o governador quer retomar o diálogo, Joe avalia a recente sinalização do governador como tardia. No entanto, não desconsidera o diálogo, principalmente com outros pedetistas.

A construção depende de gestos, o que nunca houve. Costumo dizer que a política tem fila, que sempre anda. Eu estou nesta fila

Joe Valle, presidente da CLDF

Joe lembra o fato de ter sido o único deputado a deixar o mandato para assumir um cargo no governo local, segundo ele, quando Rollemberg estava com 7% de aprovação. Na época, outubro de 2015, o pedetista assumiu a Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. “Ali eu fiz um gesto, mas nunca houve um retorno. Contudo, uma eventual reaproximação é assunto para a presidência do meu partido”, desconversa.

Outro político que deixou a base do governo foi Chico Leite. Filiado à Rede Sustentabilidade, o distrital afirma que as definições da sigla terão, inevitavelmente, influência do cenário nacional. “Nós, da Rede, fazemos alianças programáticas. Não descartamos, portanto, união com quem esteja no mesmo campo político, como é o caso do PSB. Mas com esse governo não será muito fácil.”

Ao confirmar que tem procurado outras lideranças políticas para uma possível composição, Chico Leite reforça o descontentamento com o caminho recente escolhido por Rollemberg em busca de governabilidade. “Quem faz a escolha, como ele fez, pelo PSDB, por exemplo, de criar cargos apenas para atrair tucanos, gera descontentamentos, como para nós da Rede”, disse.

Novas perdas
Um conhecido nome que circulou por muito tempo nas alianças de Rollemberg – mas preferiu não ser identificado – avalia que a sinalização do governador não será entendida pela maioria dos ex-aliados. “Além de não conseguir recompor [a base], acredito que que ele perderá mais apoiadores. O Solidariedade também quer sair. Ninguém sabe até que ponto o PV também ficará. O método dele [Rollemberg] está exposto, que é o da falta de compromisso, e será muito difícil ele desconstruir essa imagem até a formação das coligações”, sentencia.

Apesar dos prognósticos, o professor de ciência política Emerson Masullo lembra que, na política, tudo é possível. Para isso, a estratégia exigirá esforço extra do governador, caso ele realmente deseje atrair antigos aliados para a recomposição da base. “A questão é o preço dessa reaproximação. Nenhuma sigla deixou de apoiar o atual governo de forma aleatória. Foi um processo demorado, que resultou no atual cenário. Recompor essas forças necessitará de habilidade”, avalia.

Especialista em políticas públicas, Masullo lembra da importância que deve se dar à interpretação dos eleitores sobre o gesto de Rodrigo Rollemberg – e se conseguirão entender esse movimento de retomada de alianças, tanto por parte do governador como pelos próprios partidos políticos. “O desembarque é uma sinalização rigorosa, que representa insatisfação das siglas com os caminhos seguidos. A conversa ideal deveria ter ocorrido antes dos partidos deixarem a base. Procurar a siglas nessa altura pode parecer a busca por um milagre.”

No entanto, o cientista político pondera que o gesto, na verdade, pode ser uma estratégia do governador para sondar se o distanciamento das legendas é realmente definitivo. “Com essa sinalização, Rollemberg testa o humor dos partidos e conseguirá avaliar se há possibilidade de recomposição com algumas legendas ou se terá de construir outros caminhos para a reeleição. Como estamos em janeiro, ainda há tempo para essas negociações.”

Confira a entrevista e Rollemberg ao Metrópoles

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