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Delatores dizem que Gim Argello fez pressão para receber propina

Julio Camargo, ex-consultor da Toyo Sental, e Otávio Azevedo, ex-presidente da holding Andrade Gutierrez, são testemunhas chamadas pela acusação no processo contra o ex-senador brasiliense na ação que investiga um esquema de corrupção para evitar a convocação de empreiteiras na CPI da Petrobras

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
gim argello
1 de 1 gim argello - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A situação do ex-senador Gim Argello se complicou. Preso desde o dia 12 de abril no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), o político brasiliense é acusado de participar de um esquema de corrupção com construtoras para evitar que elas fossem convocadas a depor na CPI da Petrobras, em 2014. Em depoimentos prestados ao juiz Sérgio Moro nessa quinta-feira (23/6), Julio Camargo, ex-consultor da Toyo Sental, e Otávio Azevedo, ex-presidente da holding Andrade Gutierrez, disseram que foram pressionados por Gim a pagar propina a ele.

Camargo afirmou ter pago R$ 2,2 milhões ao ex-presidente do PTB no DF, na época em que Argello era vice-presidente da CPI da Petrobras. “Havia uma pressão para que houvesse a contribuição”, afirmou o delator. Apesar de se sentir pressionado, Júlio Camargo disse não ter sido ameaçado pelo ex-senador. “Ele nunca deu uma garantia, mas disse que ele era o vice-presidente da CPI e que tinha o poder de aceitar ou não a convocação ou determinar quando essa convocação ocorreria”, completou.

Já o ex-presidente da Andrade Gutierrez explicou que teve dois encontros com os então senadores Gim Argello e Vital do Rego (que era senador pelo PMDB e hoje é ministro do Tribunal de Contas da União), um deles também com a presença de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, presidente da OAS, em sua casa. Segundo Azevedo, Argello e Vital do Rego propuseram a criação de um grupo político que receberia, em contribuições eleitorais, um montante de R$ 30 milhões para montar uma estrutura de apoio para vários políticos.

Questionado pelo juiz Sérgio Moro, Otávio Azevedo contou que a contribuição seria em troca de proteção na CPI nunca foi tratada explicitamente, mas chegou a essa conclusão. “Por que que eu iria fazer uma contribuição? Só podia ser para um grupo que desse sustentação política de uma agenda da CPI, foi a nossa conclusão”, disse no primeiro depoimento que deu após fechar seu acordo de colaboração com o Ministério Público Federal.

Encontro no Lago Sul
Julio Camargo disse que Gim Argello procurou Léo Pinheiro, executivo OAS, que o contatou para que eles fossem jantar na casa do então senador em Brasília, no Lago Sul. No encontro, Argello teria mostrado que a intenção da CPI não era convocar empresários, mas sim os dirigentes e gerentes da Petrobras. Quando Léo Pinheiro perguntou se teria de fazer contribuições políticas, pois sabia que Argello seria candidato a vice-governador do Distrito Federal, ele disse que isso seria tratado em outra reunião.

No encontro seguinte, Gim Argello disse que havia selecionado cinco grandes empresas, e que precisaria de R$ 5 milhões de cada uma para a campanha. Léo Pinheiro questionou o alto valor, ao que Argello respondeu que o pagamento poderia dar a tranquilidade de que os empresários não seriam convocados pela CPI.

Segundo Camargo, o ex-senador brasiliense chegou a dizer que já havia requerimentos feitos para convocá-lo, mas que poderia agir para que isso não acontecesse, uma vez que era vice-presidente da comissão. Neste encontro, Argello teria dito que, dos R$ 5 milhões, precisaria de R$ 2 milhões imediatamente.

Segundo Camargo, ele, Léo Pinheiro e Ricardo Pessoa, dono da UTC, concordaram com a proposta. Disse que fez a contribuição de R$ 2 milhões pedida por Argello, além de outros dois pagamentos de R$ 100 mil cada. O dinheiro foi pago para a conta do Partido da República (PR).

Azevedo e Camargo são testemunhas chamadas pela acusação no processo contra o ex-senador, que responde por corrupção passiva, concussão, lavagem de capitais, organização criminosa e obstrução à investigação.

O Metrópoles não conseguiu contato com a defesa de Gim Argello. Mas no dia 19, em carta enviada ao PTB renunciando à presidência regional do partido e se desligando da legenda, o ex-senador afirmou que nos exercícios dos mandatos de deputado distrital e de senador atuou com dignidade. “Desempenhei os mesmos [mandatos] dentro da maior lisura e dignidade, procurando exercê-los pelo povo e para o povo”. (Com informações do G1 e do Jornal Extra)

 

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