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Pesquisa UnB: 20% dos idosos não recebem ajuda ao andar pela cidade

Estudo divulgado em julho ouviu 913 pessoas de 50 anos ou mais, residentes no DF, em todas as Regiões Administrativas

atualizado

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Foto: Gustavo Moreno/ Metrópoles
Homem idoso de blusa azul chama homem em parada de ônibus
1 de 1 Homem idoso de blusa azul chama homem em parada de ônibus - Foto: Foto: Gustavo Moreno/ Metrópoles

Quem caminha pela Praça do Relógio, em Taguatinga, está acostumado a desviar de buracos e desníveis nas calçadas até as paradas de ônibus próximas ou a estação do metrô. Segundo pesquisa do Observa DF, divulgada pela Universidade de Brasília (UnB) neste mês, pouco mais de 20% dos idosos entrevistados declararam que outros moradores, em geral, nunca respeitam ou auxiliam a pessoa de mais idade nos deslocamentos pelo Distrito Federal.

O estudo ouviu 913 pessoas de 50 anos ou mais, residentes no DF, em todas as Regiões Administrativas. A pesquisa destaca, ainda, que 30,2% de idosos de alta renda consideram que nunca é fácil se deslocar pela capital federal. Para os de baixa renda, a proporção é de 19,2%. Ainda, 50% dos entrevistados desaprovam o estado das calçadas e pontuam a presença de degraus, obstáculos e inclinação como fatores de dificuldade.

Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF) informou que a política de mobilidade ativa, praticada pela pasta, é dirigida aos cidadãos que se descolam a pé ou em ciclos, incluindo os idosos.

Morador de Taguatinga há 46 anos, Eloy Barbosa, 76, possui uma rotina dinâmica em que precisa andar por diversas regiões do DF, utilizando diferentes meios de transporte urbano. “Eu gosto mais de andar a pé do que me locomover de outras formas. Vou cumprimentando todo mundo. Nunca fui assaltado. Não acho perigoso porque sei onde andar”, disse enquanto caminhava com a reportagem de sua residência, na QNA 5, até um ponto de ônibus na Avenida das Palmeiras.

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“Tem que tomar cuidado com as calçadas, todas esburacadas. Eu caí aqui [n a frente de um lava-jato na esquina da rua de casa]. O chão estava cheio de sabão quando passei, mas agora presto atenção”, diz.

Às quartas e sextas, por volta das 7h, o engenheiro eletricista aposentado percorre cerca de um quilômetro andando até a UBS 6 da região para a prática de ginástica laboral que se inicia às 8h. “Demoro uma hora para chegar mesmo, vou socializando”, explica. Às terças e quintas, Eloy pega o carro para ir ao encontro marcado, no Centro Olímpico Paradão, na QNL 7, em Taguatinga, com a turma de capoterapia ─ prática de capoeira adaptada aos idosos. E às segundas, também pelas manhãs, precisa ir de metrô até a Casa do Cantador, na QNN quadra 32 área especial G, em Ceilândia, para aulas de canto coral.

A pesquisa do Observa DF questionou os idosos sobre os seguintes itens: a clareza da sinalização sobre destinos e rotas dos transportes públicos; se os condutores dos ônibus param para os idosos; respeito das pessoas, em geral, pelas pessoas idosas nas vias e transportes públicos; se as pessoas, em geral, auxiliam as pessoas idosas quando precisam atravessar vias ou acessar/utilizar o transporte público; e a facilidade para a pessoa idosa se deslocar na cidade.

Ainda durante a semana, Eloy faz questão de ir às aulas de teatro, na parte da tarde, no Sesc, da 913 Sul, de ônibus. “É como se fosse um filme. Vejo aquelas mulheres brigando com o motorista, os rapazes que fingem que não me veem para me dar o assento, faz parte do envelhecimento. É a vida”, conta. Para outras atividades noturnas, o engenheiro eletricista vai de carro.

“Cultura rodoviarista”

Para a doutoranda e mestre em Direito e Políticas Públicas pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB), Tatiana Reinerh de Oliveira, 44 anos, a cultura do transporte motorizado ainda é muito presente no dia a dia. “A gente observa uma cidade que ainda prioriza o uso do transporte motorizado, existe uma forte cultura rodoviarista ainda muito arraigada”, avalia.

Ela também ressalta a importância de promover políticas voltadas à promoção do envelhecimento ativo e de educação tecnológica para que a pessoa de mais idade seja incluída no contexto tecnológico das cidades inteligentes. “Torna-se fundamental elaborar um plano de letramento e inclusão digital para o idoso, de modo que ele possa compreender como as ferramentas smart funcionam e as facilidades que podem agregar no seu cotidiano”, explica.

Tatiana diz que as cidades inteligentes são aquelas que visam a maior eficiência nas operações e serviços urbanas e garantem uma melhora na qualidade de vida urbana e dos usuários, tanto para as relações atuais e futuras, dentro dos aspectos econômicos, sociais e ambientais.

O que diz a Semob

Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que há um Plano de Mobilidade Ativa que inclui rotas acessíveis a equipamentos públicos, que são projetos de urbanização e requalificação do espaço público para torná-los mais acessíveis e com deslocamentos mais seguro para os pedestres, ciclistas, idosos, cadeirantes e pessoas com deficiência. Uma série de projetos já foram elaborados e estão sendo executados pelo GDF, como a requalificação da W3, do Setor Hospitalar Sul, a requalificação do Setor de Rádio e TV Sul, a Praça do Povo, entre outros.

A política de mobilidade ativa é dirigida aos cidadãos que se deslocam a pé ou em ciclos, incluindo os idosos, e consiste em tornar a cidade mais acessível a esse público, sobretudo àqueles que têm mobilidade reduzida.

No caso da Semob, as políticas públicas para os idosos são aquelas definidas no âmbito do transporte público coletivo, como as gratuidades, os assentos prioritários, os ônibus acessíveis, as acessibilidades e prioridades de embarque nas estações e terminais, além dos treinamentos aos motoristas para atendimento especial a esse público. É importante esclarecer que são políticas transversais, cujas leis definem também medidas executadas por outros órgãos.

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