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Pesquisa da UnB: Brasília não é “cidade amiga” para 60% dos idosos

Estudo inédito revela que idosos sofrem com falta de acessibilidade e preconceito em Brasília. Situação coloca DF na contramão do mundo

atualizado

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Breno Esaki / Metrópoles
Pessoa idosa - Metrópoles
1 de 1 Pessoa idosa - Metrópoles - Foto: Breno Esaki / Metrópoles

Na véspera do aniversário de 63 anos, a capital brasileira enfrenta o desafio de acolher a população idosa. Segundo estudo da UnB, para 59,1% das pessoas idosas, Brasília não é uma cidade amiga. Ou seja, aos olhos de, aproximadamente, seis a cada 10 cidadãos e cidadãs 60+ , o DF não trata os bem.

Batizada com o título de “Análise da amigabilidade urbana de Brasília na percepção da pessoa idosa no Distrito Federal”, a pesquisa inédita é o resultado da dissertação de mestrado, de Tatiana Frade Maciel, 38 anos. O estudo teve a orientação da professora Leides Barroso Azevedo Moura, coordenadora do Grupo de Trabalho “Envelhecimento Saudável e Participativo” da Unb e do Grupo de Pesquisa ” Envelhecer Cidadão” do diretório CNPq.

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A pesquisa entrevistou 208 pessoas idosas no Plano Piloto, em Ceilândia, Taguatinga e no Lago Sul. “A grande maioria não classifica Brasília como uma cidade amiga. Mas as regiões mais periféricas associam isso a uma falta de respeito à pessoa idosa. Enquanto as mais centrais associam isso a fatores físicos, quanto à acessibilidade”, contou Tatiana.

Segundo o estudo, a falta de acessibilidade e o preconceito, também conhecido como etarismo, atualmente classificado como idadismo e ageismo pela comunidade de pesquisa, são dois problemas transversais. “As pessoas precisam observar que todos nós vamos envelhecer. A mudança do olhar da pessoa idosa, enquanto detentora de direito à cidade, também é muito importante”, ressaltou.

Até 2030, Brasília terá mais de 560 mil habitantes com 60 anos ou mais. Esta parcela da população representará, aproximadamente, 17% da sociedade brasiliense. O motivo das pessoas idosas terem medo de sair de casa chamou a atenção da pesquisadora. Em Ceilândia e Taguatinga, as pessoas temem a violência urbana. No Plano Piloto e Lago Sul, o receio é com as queda. Ambos fatores alimentam o isolamento, extremamente prejudicial a pessoa idosa.

Barreiras

As principais barreiras para Brasília ser considera uma cidade amiga da pessoa idosa são os problemas de serviços públicos, como Saúde e Transporte. Na Saúde, as pessoas idosas se sentem mal atendidos, ou seja alegam que são desrespeitados. Denunciam falta de médicos, filas e demora no atendimento.

O desrespeito também é uma aflição nos Serviços e nos Transportes, a exemplo de mal atendimento em caixas e condições ruins nos ônibus e nas paradas. As queixas não são tão diferentes de pessoas de outras faixas etárias. Ou seja, se a cidade for amiga da pessoa idosa será acolhedora para toda a população.

Na contramão

O fato de Brasília não ser uma cidade amiga para as pessoas idosas coloca a capital federal na contramão do mundo. O portal da Organização Mundial da Saúde (OMS) traz a lista de cidades classificadas como amigas da população 60+. “E o Brasil tem menos de 20 cidades classificadas, enquanto o Chile tem mais de 100. É uma diferença gritante. Temos muito a caminhar. O olhar para a pessoa idosa é um olhar para todos. Todos nós vamos envelhecer. Então essa urgência de melhorias tende a ser mais urgente. A gente precisa mudar o nosso olhar”, destacou.

Amor

O estudo também revelou o amor das pessoas idosas por Brasília, especialmente entre as mulheres de Ceilândia. “Tem um histórico de luta e resiliência pela cidade. E essas pessoas se mostram muito gratas. Então, apesar das dificuldades e todas as barreiras, essas são as pessoas que acham a cidade amiga”, revelou Tatiana.

Para a professora Leides, todas as cidades estão convocadas a reavaliar suas respectivas estruturas urbanas para acolher melhor as pessoas idosas. Segundo as pesquisadora, a gestão das cidades devem escutar as demandas da população acima dos 60 anos.

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“Para uma cidade que completa 63 anos, é uma oportunidade de ampliar o espaço de escuta”, destacou. Segundo a pesquisadora, as soluções e o acolhimento precisam ser integrados. Para a professora da UnB, é preciso ampliar as participação das pessoas idosas em todas áreas de decisão e nos conselhos regionais do DF.

Depoimentos

A aposentada Aguaracy Carbona, 87 anos, fala um pouco sobre as dificuldades que enfrenta em seu cotidiano. “Eu sou cadeirante e posso dizer que é muito difícil até sair da quadra onde moro. Nunca me machuquei, porque ando com uma cuidadora, mas não posso arriscar e sair sozinha. As ruas precisam ser adaptadas para todo tipo de pessoa, falta atenção e investimento. É necessário um estudo prévio antes de fazer essas obras”, afirma.

“O mais impressionante é que moro em uma área central de Brasília, na Asa Sul, e mesmo assim a situação das calçadas é péssima”, completa.

Morador da Asa Norte, Pedro Silvério, 66, também passa por algumas situações semelhantes. “Eu já até caí por conta dessas calçadas. Felizmente, não me machuquei, mas o estado em que elas estão é muito ruim”, conta. “Em relação aos transportes públicos, eu só transito no Plano Piloto e acho ótimo, mas sei que em outros lugares são bem precários”, ressalta.

Pedro utiliza com frequência o sistema público de saúde do DF e afirmou que todos os atendimentos que teve sempre foram ótimos.

Envelhecimento

De acordo com as projeções demográficas do Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF), em 2022, 384.592 pessoas de 60 anos ou mais, viviam na capital brasileira. O que representava 12,3% da população.

Segundo as projeções, em 2023, o DF terá uma população de 405.058 pessoas idosas, atingindo uma proporção de 12,8% da população.

Governo

O Metrópoles entrou em contato com o Governo do DF para comentar as críticas aos serviços públicos por parte de pessoas com 60 anos ou mais. A Secretaria de Desenvolvimento Social informou que homologou, no início do mês, o resultado final do Edital de Chamamento Público nº 29/2022, ampliando a quantidade de vagas no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para as pessoas idosas.

Foram habilitadas duas organizações da sociedade civil que já eram parceiras da Sedes: a Associação dos Idosos de Taguatinga (AIT), que ficará responsável por 100 vagas imediatas; e a Associação Maria da Conceição (Asmac).

As entidades terão de promover atividades que contribuam com o processo de envelhecimento saudável, o desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, o fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário, além de trabalhar a prevenção de situações de risco social.

As vagas foram destinadas às regiões de desenvolvimento social (RDS) que concentram a maior população idosa e para aquelas cujos indicadores sociais sinalizam a necessidade de medidas preventivas e proativas, típicas do SCFV. Neste caso, foram contempladas as regiões de Taguatinga e Gama.

No âmbito do SCFV, o GDF atende, hoje, cerca de 1,3 mil pessoas idosas nos 16 Centros de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de execução direta, nos Cras e em quatro entidades parceiras.

Saúde

Segundo a Secretaria de Saúde, o cuidado com a pessoas idosa é pautado na Política Nacional da Pessoa Idosa, com ênfase na promoção do envelhecimento ativo.

No DF, a porta de entrada para a assistência às pessoas idosas é a Atenção Primária a Saúde, nas unidades básicas de saúde (UBS).

A assistência a pessoa idosa acontece em todos os níveis de atenção (primária, secundária e hospitalar), por meio da assistência e equipamentos de saúde que são:

• Atenção Primária a Saúde: Unidades Básicas de Saúde com equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários e equipe NASF);

• Atenção Secundária a Saúde: ambulatório médicos (geriatras, neurologistas, endocrinologistas, cardiologistas, etc); ambulatórios de reabilitação (Terapia Ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, ´psicólogos, outros) e ambulatórios de Geriatria e Gerontologia e cuidados paliativos (equipe interdisciplinar especializada no cuidado da pessoa idosa frágil);

• Atenção Hospitalar: hospitais, Cuidados paliativos (no Hospital de Apoio) e a atenção domiciliar (equipe interdisciplinar que faz o atendimento no domicilio para os usuário com grande dependência).

A pasta também oferece o Circuito Multifuncional de Prevenção de Quedas. O circuito acontece em grupo (20 pessoas idosas) com duração de 3 meses, frequência semanal e duração de 90 minutos.

No período de 1 ano, este projeto irá promover o atendimento de 4.800 pessoas idosas considerados mais vulneráveis, com risco de queda. O projeto de Estimulação Cognitiva tem como meta apoiar a população com 60 anos ou mais que apresente ou não déficits cognitivos.

De acordo com a pasta, pessoas idosas tem a acesso a diferentes atividades terapêuticas pelo programa Práticas Integrativa a Saúde, disponível em diversas UBSs. Há também o Grupo Tabagismo para quem desejar parar de fumar.

Acompanhamento geriátrico

As pessoas idosas que necessitam de acompanhamento geriátrico podem buscar os ambulatórios de geriatria. Atualmente, há 11 ambulatórios de geriatria no DF, sendo que a unidade da Policlínica de Taguatinga é o de referência.

O serviço de reabilitação está disponível nos Centros Especializados em Reabilitação, além de 15 Ambulatórios de Saúde Funcional. O encaminhamento é realizado pelos profissionais da Atenção Primária.

A pasta destacou a importância do cuidado prévio com o envelhecimento. Os cuidados de promoção à saúde devem começar bem antes dos 60 anos.

“A saúde da pessoa idosa não é centrada somente no cuidado da ‘doença’, mas sim na assistência ao indivíduo com 60 anos ou mais, na perspectiva de favorecer a manutenção da sua funcionalidade e participação (independência e autonomia), de forma multidimensional e intersetorial”, afirmou a pasta.

Segundo a Secretaria de Mobilidade (Semob), o transporte público coletivo oferece às pessoas idosas gratuidades, assentos prioritários, os ônibus acessíveis, as acessibilidades e prioridades de embarque nas estações e terminais, além dos treinamentos aos motoristas para atendimento especial a esse público.

A Codhab informou que pessoas com mais de 60 ano têm prioridade no atendimento da política habitacional no DF.

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