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Ocupação da reitoria da UnB divide alunos, servidores e professores

Comando da Universidade de Brasília disse não descartar possível ação de reintegração de posse

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
ocupação Unb
1 de 1 ocupação Unb - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A ocupação da reitoria da UnB por um grupo de 50 estudantes não tem apoio de toda a comunidade universitária. Isso ficou claro em um documento entregue na manhã desta sexta-feira (27/4) à reitora, Márcia Abrahão. Nele, mais de 500 alunos, professores e servidores desaprovam a radicalização do movimento.

“Pedimos ao ocupantes da reitoria que considerem novos argumentos e a desocupem”, pede um trecho do manifesto entregue durante ato público, ocorrido na manhã desta sexta-feira no Teatro de Arena, do campus Darcy Ribeiro. O documento também critica os cortes do governo federal nas universidades. “Considerar a educação como gasto e não investimento é equívoco público”, diz outra parte.

A UnB passa pela pior crise financeira de sua história. Enfrenta ainda ocupação da reitoria, há 15 dias, e greve dos servidores e terceirizados, deflagrada na terça-feira (24). “Só temos a agradecer essa espontaneidade que conta com 534 assinaturas. Isso mostra a força da Universidade de Brasília e da nossa comunidade. Quero ressaltar a competência da UnB em ultrapassar desafios ao longo da sua história, que vai desde questões políticas até econômicas”, disse Márcia Abrahão.

Ela voltou a reforçar o discurso da união para atravessar os obstáculos. A UnB espera a desocupação da reitoria para a tarde desta sexta. O ultimato era no sentido de que eles saíssem do prédio até a meia-noite de quinta (26), mas, segundo informaram pouco antes de vencer o prazo, vão dar o posicionamento em reunião, às 16h desta sexta.

O comando da UnB diz esperar um acordo para a desocupação do local durante o encontro. E não exclui a hipótese de entrar na Justiça com pedido de reintegração de posse. “Ninguém tem poder de descartar um instrumento como esse. Porém, vamos primeiro ouvir o que os estudantes têm a falar, para depois termos uma definição. Sempre adotamos o caminho do diálogo”, disse Paulo César Marques, chefe de gabinete da reitoria.

Nesta sexta (27), a universidade entrou com uma notificação extrajudicial a fim de que os estudantes deixem o prédio. O documento, registrado no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil e Casamentos, foi entregue ao movimento por Marques.

Conforme estabelecido, os estudantes deveriam deixar o prédio até as 23h59, o que não ocorreu. O documento extrajudicial tem valor jurídico. “Entregamos a notificação e vamos privilegiar o diálogo. Não trabalhamos com plano B. A gente espera a desocupação, sem qualquer tipo de ameaça”, afirmou Paulo César Marques, na tarde dessa quinta.

A decisão foi anunciada depois de um dia quente, marcado por confronto entre manifestantes e a PM na Esplanada. Paralelo ao protesto, um grupo de estudantes da UnB decidiu montar barricadas e impedir a entrada e a saída de alunos no Instituto Central de Ciências (ICC). O ato teria sido uma forma de manifestação contra a pior crise da história da instituição.

A ação, que terminou em agressão e insultos, atrapalhou a vida de quem tentou frequentar a universidade na manhã dessa quinta-feira. O graduando em direito Bruno Henrique de Moura, 21 anos, foi um dos prejudicados. De acordo com o acadêmico, “apenas negros eram autorizados a passar pela barricada”.

Segundo Bruno, membros ligados ao movimento negro da instituição seriam os responsáveis pela organização dos piquetes. Eles negam. Em fotos publicadas e vídeos cedidos ao Metrópoles, é possível observar alguns estudantes mais exaltados, vestindo máscaras e empunhando barras de ferro. Um aluno de agronomia foi agredido ao tentar derrubar a barreira.

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Revoltado, o estudante de engenharia Renato Lucas, 25 anos, também diz ter sido impedido de entrar, e chegou a ser ameaçado. “Eles não podem cercear o nosso direito de ir e vir. Me chamaram de ‘branco fascista’ e disseram que eu não poderia passar por lá”.

Procurada pela reportagem, a universidade confirmou as ações e explicou que “se tratavam de piquetes de greve”. Apesar da confusão, “as atividades letivas não foram afetadas”, ressaltou a instituição.

Já o Diretório Negro – Quilombo UnB disse que “as barricadas foram organizadas por estudantes e trabalhadores independentes da universidade em greve, principalmente pelo movimento Ocupa UnB”. “Não houve nenhuma reunião ou assembleia organizada pelo Diretório para decidir qualquer ação do tipo”, afirmou.

 

 

Na Esplanada dos Ministérios, o clima foi ainda mais tenso na manhã dessa quinta (26). Estudantes fizeram nova manifestação. Com faixas e cartazes, eles fecharam a S1, sentido Congresso Nacional, cedo. Depois, a N1, e foram em direção ao prédio do Ministério da Educação (MEC). Logo em seguida, a PM usou bombas de efeito moral para dispersá-los.

Para evitar novo quebra-quebra no prédio do MEC, como o ocorrido no dia 12 de abril, a PM levou a cavalaria e o choque para a Esplanada e cercou o edifício. Quando os estudantes se aproximaram, foram impedidos pelos policiais. Segundo a corporação, quatro pessoas foram detidas por desacato, incitação à violência e desobediência. Elas foram encaminhadas para a 5ª Delegacia de Polícia (área central), assim como uma testemunha.

Alguns manifestantes – eram cerca de 40 no total, segundo a PM – usavam máscaras e escudos de madeira. De acordo com a corporação, o grupo fez uma barreira e teria partido para o confronto com os militares.

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Depois da ação da Polícia Militar, os estudantes correram em direção ao Teatro Nacional e à L2 Norte, na pista sentido Esplanada. A via também foi obstruída, mas os militares continuaram no local, tentando liberar o trânsito. Por volta das 13h, reaberta.

Em seguida, alguns manifestantes que participaram do ato retornaram para a UnB. Em entrevista ao Metrópoles, alunos que estão na ocupação da reitoria repudiaram a violência com a qual, segundo eles, a Polícia Militar agiu para reprimir o protesto realizado nessa quinta-feira (26), em frente ao Ministério da Educação.

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