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Advogado vive há 10 anos sob ameaça de “banda podre” da polícia de SP

Após ameaças de morte, advogado Wesley Fuganti conseguiu asilo no Reino Unido e está há uma década sem poder retornar: “Situação deplorável”

atualizado

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homem branco com topete e gravata azul
1 de 1 homem branco com topete e gravata azul - Foto: Reprodução

Em 2012, o advogado Wesley Pereira Fuganti viu sua vida virar de cabeça para baixo ao defender Diogo Rodrigues Macedo, que denunciava corrupção praticada por policiais civis no município de Salto (SP). O cliente acabou assassinado, na porta de casa, por uma pessoa ligada aos policiais, e Wesley passou a ser alvo do bando. Para se proteger, ele conseguiu asilo no Reino Unido. Há mais de 10 anos não pode voltar para casa e diz estar “esquecido” pelo governo brasileiro. O advogado vive em situação de vulnerabilidade, lutando pela sobrevivência no país europeu.

Em 2023, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) elaborou um parecer em que ressalta que Wesley está “enfrentando riscos no território brasileiro devido ao seu envolvimento na defesa de uma vítima de assassinato, cometido por policiais”.

O relatório destaca, ainda, que Wesley teria recebido ameaças de morte devido à atuação como advogado de Diogo Rodrigues Macedo, que era denunciante e testemunha de crimes de corrupção praticados por policiais civis de Salto, cidade com aproximadamente 120 mil habitantes.

No relatório, os promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) recomendam que ele permaneça no Reino Unido, por risco de morte. Pela primeira vez, Wesley desabafa: “Estou vivendo uma situação deplorável”.

Banda podre

À coluna Na Mira Wesley detalhou a noite de outubro de 2012 que teria mudado a sua vida. Alguns meses antes, ele havia sido contratado por Diogo, que apresentava um problema “simples” de apreensão de uma moto. No entanto, o veículo estaria sendo usado como extorsão por um grupo da “banda podre” da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

“Ele [Diogo] citou que alguns policiais, inclusive o chefe dos investigadores, tinham feito uma espécie de acordo com ele, e ele não tinha pago”, lembra Wesley. “Então, eles estavam ameaçando porque eles tinham apreendido uma moto e, para liberá-la, pediram dinheiro. Ele pagou uma parte, mas ficou devendo outra. A moto estava legalizada, e a polícia estava tentando realmente extorquir dinheiro dele”, descreve o advogado.

Aproximadamente um mês depois, os policiais armaram uma emboscada para o cliente de Wesley e o renderam em um posto de gasolina. Com um celular escondido na bermuda, Diogo ligou para o advogado, que conseguiu acionar a corregedoria de Sorocaba e armar a prisão em flagrante.

Segundo o relato de Wesley, o policial foi levado à corregedoria e lá ficou como se estivesse “na casa dele”: “Sem algema, numa sala, tranquilo”, descreveu. “Simplesmente, ele virou pra mim e o Diogo e falou ‘Olha, eu estou preso agora, mas os meus irmãozinhos vão trocar uma ideia com vocês'”. A denúncia levou para a cadeia Hamilton Antônio de Matos e Desuílio dos Santos, conforme aponta o relatório do MPSP.

Na madrugada de 29 de novembro de 2012, Wesley recebeu uma ligação da namorada de Diogo informando que o companheiro havia sido assassinado com 11 tiros, na porta de casa. O autor do homicídio foi identificado como Eduardo Góes, uma pessoa ligada aos policiais civis.

Apavorado, Wesley procurou apoio do governo e chegou a ser incluído no Programa Estadual de Proteção a Vítimas e Testemunhas de São Paulo (Provita), mas não se sentia seguro.

“Eu não sei se os policiais vão saber onde vou estar. Então, eu realmente não confiei no sistema”, disse.

Asilo

Em 2013, Wesley conseguiu asilo no Reino Unido após relatar a situação às autoridades de imigração. Ele e sua família foram acolhidos pelo país. No entanto, o advogado não foi autorizado a trabalhar no exterior, recebendo do governo em Londres apenas o mínimo para sobreviver. “Nesses anos, infelizmente, eu não fui capaz de trabalhar, porque era proibido.”

“A libra é muito cara, então eu gastei tudo o que eu tinha, propriedades, carros. Eu dilapidei todo o meu dinheiro e fiquei em uma situação deplorável.”

Com os anos, as autoridades britânicas exigem a confirmação do risco de morte do asilado para permanecer no Reino Unido. “Eles me deram a chamada proteção humanitária, que tem duração de três anos. Eu nem sei se vou poder continuar aqui ou não, mas o Reino Unido deixou bem claro na decisão que o Brasil violou os meus direitos humanos, que não foram capazes de me dar proteção”, diz.

Foi relatado que houve trânsito em julgado dos processos nos quais os réus Hamilton, Desuílio e Eduardo foram condenados. Desuílio dos Santos foi condenado em primeira instância e teve sua pena reduzida para 2 anos de reclusão em regime aberto. Hamilton foi condenado a 9 anos de reclusão e Eduardo, a 21 anos.

O relatório do MPSP destaca que a liberdade total ou parcial dos sentenciados coloca em risco a vida de Wesley, sendo recomendado que ele permaneça no exterior.

Enquanto aguarda, sem saber como será a vida a partir do ano que vem, Wesley teme voltar e ser ameaçado por outros integrantes do grupo. “Eram somente dois ou três policiais, que a gente sabia que tinham envolvimentos, até mesmo delegados. Mas nunca houve uma investigação séria da Polícia Civil em relação a isso”, acusa o advogado.

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