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Jovem que filmou PM agredindo homem negro no DF: “Justiça tem de ser feita”

Ele que não quis se identificar, mas afirma que fez a gravação para mostrar a ação truculenta de policiais militares envolvidos no caso

atualizado

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Reprodução/Redes sociais
Agressão de PM a homem negro em Planaltina
1 de 1 Agressão de PM a homem negro em Planaltina - Foto: Reprodução/Redes sociais

O homem responsável por gravar a agressão de policiais militares a Welington Luiz Maganha, 30 anos, na noite de segunda-feira (01/06) sente que vai ajudar a justiça a ser feita. Sem imaginar que o vídeo causaria tanto impacto, ele conta que não acreditou quando recebeu várias ligações avisando que o vídeo dele estava em vários veículos de comunicação.

“Fiquei muito feliz com a repercussão”, afirma. O jovem estava na porta do supermercado, esperando um amigo sair, quando a começou a ouvir vários gritos. Era uma discussão entre os PMs e o vendedor ambulante.

“Estavam sendo bem agressivos com ele. Só posso dizer o que eu vi e, durante todo o tempo que observei, o rapaz não levantou a voz em nenhum momento”, relata.

Em um determinado momento, no entanto, os policiais ficaram com ainda mais raiva. “Parece que ele disse algo e não gostaram. Foi aí que eu comecei a gravar, pois não queria que alguma injustiça acontecesse”, explica.

Nesse momento a dupla de militares voltou à viatura e jogou spray de pimenta em Wellington, que começou a correr. “Se fosse uma abordagem normal, não precisava de nada disso. Ele não tinha nenhuma arma, era só revistar e prender. Mesmo assim saíram atrás com o cassetete”, lamenta a testemunha.

O que mais chamou a atenção do homem que fez a gravação foi o momento que tudo acabou. “O cara atravessou a rua e os policiais foram embora. Não levaram para a delegacia. Se fosse mesmo um criminoso não deixariam ele sair normalmente”, pontua.

Agredido falou ao Metrópoles

O vendedor ambulante Welington Luiz Maganha foi ao Instituto de Medicina Legal (IML-DF) na manhã desta quarta-feira (03/06). Os especialistas, segundo o advogado de Welington, Anderson Tiago Campos, confirmaram diversos ferimentos, como lesão na clavícula e no ouvido. O laudo deve sair em 10 dias.

Na saída da sede da Polícia Civil (PCDF), a vítima, homem negro que veio do Rio de Janeiro buscar oportunidades na capital do país, contou detalhes do caso.

Nas palavras de Welington, o medo foi o principal sentimento na hora das agressões. “Naquele momento, eu achava que ia morrer”, contou. Mas o vendedor ambulante também mostrou compreensão ao falar dos policiais.

“Eu aceito o perdão, eu perdoo. A gente tem que perdoar. Não sei o que deu na cabeça deles”, afirmou. “Que possam refletir sobre o que fizeram porque não está certo”.

O advogado dele apontou que vão protocolar requerimento no Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil. Na Justiça, pedirão ressarcimento por dano moral. E que na esfera criminal, em caso registrado na 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), será apurado a possibilidade de racismo.

“Acreditamos que foi racismo. Se fosse uma pessoa com fenótipo diferente, não aconteceria dessa forma”, opinou Anderson Tiago Campos.

“Não sou bicho”

Welington havia conversado com o Metrópoles sobre a abordagem dos policiais. “Eu não sou bicho para me tratarem assim”. Não encontraram nada suspeito, mas, segundo a versão da vítima, os militares começaram a agredi-lo sem motivo aparente. “Me enquadraram, mandaram eu calar a boca, me chutaram”, conta.

A partir daí, Welington não se lembra de muitas coisas, quantos golpes de cassetete levou, por exemplo. “É como se eu tivesse ficado cego, sabe? Apagou tudo”, diz.

Lembra das pauladas, de ter recebido um jato de spray de pimenta nos olhos, chutes e uma pedrada na cabeça. “Onde já se viu polícia jogar pedra? Eu já tinha sido abordado pela polícia antes, mas sempre tratei com respeito e sempre me trataram com respeito”, conta Welington, que vende doces, fones de ouvidos e porta-documentos em ônibus pela cidade.

Medo de morrer

No momento das agressões, o ambulante pensou que iria morrer. “Pensei que eles iam ‘terminar o serviço’, né? Não consigo dormir direito depois disso. Acordo à noite com qualquer barulho, achando que eles vão entrar na minha casa”, confessa.

Por isso mesmo, fala com receio sobre a motivação da violência. “Acho que foi racismo, preconceito. Todo mundo está falando isso”, conta Welington.

Imagens

Uma testemunha filmou o momento em que um dos policiais dá diversos golpes nas costas de Welligton Luiz, que mora em Planaltina. As imagens viralizaram e causaram muita indignação nas redes sociais.

A Polícia Militar diz que afastou os policiais que são lotados no 14º BPM (Planaltina) e que investiga a conduta da dupla que aparece nas imagens. A corporação, porém, diz que “não há que se falar em racismo, e, sim, em excesso na ação policial”. Disse ainda se tratar de um “caso isolado”.

Veja o vídeo:

No vídeo, é possível ouvir o rapaz perguntando o que teria feito e grita de dor enquanto é atingido pelos golpes. Em determinado momento, chega a cair. Os policiais continuam perseguindo o homem e, então, a filmagem acaba.

O que diz a PM

Em nota, a PM afirma que foi acionada pela população para denúncias de perturbação da tranquilidade e da ordem pública no local. E confirma que o final da ação foi registrado conforme o vídeo, mas não houve qualquer contextualização racista.

“Informamos que os policiais serão ouvidos, no devido processo disciplinar/criminal, pela corregedoria, para verificar as circunstâncias do fato e que todo o excesso será apurado com o rigor que o caso requer”, destaca.

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Também por meio de nota, a Secretaria de Segurança diz que, em conjunto com o comando da PMDF, está adotando todas as providências legais de apuração dos fatos ocorridos em vídeo que circula desde a madrugada nas redes sociais.

“Já está em curso a instauração de Inquérito Policial Militar, e deixamos claro, desde já, que as atitudes dos policiais em questão em nada correspondem às diretrizes de abordagem e conduta preconizadas pela corporação”, destacou.

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