metropoles.com

Falta de salas de apoio prejudica aprendizado de crianças PCDs no DF

Famílias cobram espaços para o melhor desenvolvimento dos alunos. Uma escola de Ceilândia tinha o espaço e os recursos, mas foi impedida

atualizado

Compartilhar notícia

Material cedido ao Metrópoles
Escola pública - Metrópoles
1 de 1 Escola pública - Metrópoles - Foto: Material cedido ao Metrópoles

A falta de salas de apoio prejudica o aprendizado de crianças diagnosticadas como pessoas com deficiência (PCDs) nas escolas públicas do Distrito Federal.

A escola classe 68 de Ceilândia tinha projeto e verba para começar 2023 com uma sala de educação precoce para os bebês e crianças com menos de 4 anos diagnosticadas como PCDs. Mas foi barrada administrativamente pela Secretaria de Educação. A pasta negou que tenha suspendido obra. (Leia mais abaixo)

Após denúncias, o Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), a subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cobraram e conseguiram o início do processo de abertura da sala.

Veja imagens da blitz do MOAB e do MPDFT:

0

Segundo o diretor do Moab e presidente do Comissão de Direitos Humanos da OAB-DF de Ceilândia, Edilson Barbosa, as sala de educação precoce são fundamentais para o estímulo adequado do aprendizado dos pequenos.

“Sem esse trabalho, sem esse serviço público, certamente essas crianças não terão a chance de crescer para se tornarem cidadãos e cidadãs de bem”, afirmou Edilson.

Após a cobrança, de acordo com a Regional de Ensino de Ceilândia, a Secretaria de Educação liberou a abertura da sala.

As turmas foram abertas. A reforma e compra do mobiliário do espaço estão autorizadas. A escola instalou a rampa com toldo de acessibilidade e reformou os banheiros. E colocou espelhos e tatames.

Salas de recursos

No entanto, outras unidades da rede pública ainda não contam com a estrutura adequada. O Moab continua a receber denúncias e reclamações de famílias, inclusive de salas de recursos para PCDs acima dos 4 anos.

“Em alguns lugares têm as salas e equipamentos, mas não contam com os profissionais. E isso é ruim. E a Secretaria de Educação tem a Escola de Aperfeiçoamento (EAPE), para evitar essas faltas”, apontou Barbosa.

Para Barbosa, a EAPE precisa ser descentralizada do Plano Piloto para levar a formação complementar e qualificação para professores em diversas regiões administrativas do DF.

Em cima da hora

Pelo diagnóstico de Barbosa, a Educação do DF precisa se reorganizar para se antecipar aos problemas e demandas dos PCDs. As medidas devem ser feitas antes de cada ano letivo.

A gente nota que as coisas estão acontecendo muito em cima da hora. Tanto é que nesse ano, em janeiro é que foi iniciado o processo de seleção dos educadores sociais voluntários (ESVs). Isso tinha que ser em 2022. Para que no primeiro dia letivo, esses profissionais já estivessem recebendo as crianças e os adolescentes. A educação de qualidade deve ser oferecida para todos os alunos, independentemente de ser PCDs”, argumentou.

A presidente da Associação DFDown, a professora e jornalista Melina Sales Santos, também recebe denúncias constantemente e vive o problema. Sua filha Zilah Sales dos Santos Reis, 10, está matriculada na Escola Classe 304 Sul. Diagnosticada com Síndrome de Down, a pequena deveria ter acesso a uma sala de recursos. Mas não tem.

Mãe e filha lutam por salas de apoio:

“Desde o ano passado, a Zilah não usa sala de recursos. Não só não tem, como também não tem previsão”, contou Melina. A família está batalhando para a abertura do espaço e o acolhimento adequado. “Isso é um direito, está previsto o atendimento educacional especializado para a pessoa com deficiência. E o Estado está pecando e não está cumprindo com o que está previsto na Constituição”, desabafou a presidente da associação.

A pequena Zilah compartilha da luta da mãe. “Quero uma sala de recurso. É meu direito”, disse a estudante.

Bom exemplo

A briga das famílias vai além da letra fria da Lei. Nas escolas onde as salas de apoio estão ativas, as famílias se encantam com o desenvolvimento dos pequenos PCDs.

A professora Nayla Nobre Paim, 37, fica orgulhosa do avanço da filha Melissa Nobre Lolas, 3, na sala de educação precoce do CEI 04 de Taguatinga. A pequena tem síndrome de Down. Para Nayla, a direção da escola merece agradecimentos pelo empenho na inclusão.

“Melissa começou a precoce, com 4 meses. É um programa maravilhoso. Na maioria dos estados brasileiros, não existe essa proposta. É um programa que trabalha o desenvolvimento global da criança, desde uma perspectiva pedagógica e educacional. São dois professores que atendem essas crianças”, sorriu Nayla.

Um pedagogo e um educador físico trabalham e desenvolvem toda parte cognitiva, pedagógica e motora dos estudantes PCDs, em dois dias por semana. “Para gente sempre foi uma experiência muito boa, muito positiva. A Melissa vem evoluindo no seu ritmo, no seu jeito. E eu só tenho elogios para a educação precoce”, reforçou.

Melissa tem acesso a salas de educação precoce:

Nayla conhece outras famílias atendidas e satisfeitas com a educação precoce, em outras regionais do DF. “É uma realidade que não é igual para todos. Deveria ser bom para todo mundo. Em algumas escola funciona muito bem. Em outras ainda está engatinhando. Mas pelo menos nas mães com que converso, a educação está funcionando muito bem”, concluiu.

Veja imagens do desenvolvimento de Melissa:

0

Secretaria de Educação

Às 15h30 de quarta-feira (22/3), após a publicação da reportagem a Secretaria de Educação afirmou que não barrou administrativamente a abertura da sala de educação precoce na Escola Classe 68 de Ceilândia.

Segundo a pasta, era necessário cumprir todo um trâmite para o funcionamento da sala. Era necessária uma vistoria técnica da Subsecretaria de Obras. O procedimento foi realizado e foram feitos ajustes na obra.

A Secretaria de Educação argumentou que a rede pública de ensino conta com 485 salas de recurso e mais de 20 escolas com diversas salas de educação precoce.

Segundo a pasta, nem todas as escolas possuem salas de recursos devido a necessidade de espaço físico adequado para o funcionamento das mesmas.

Mesmo assim, a secretaria enfatizou que a rede é inclusiva e os estudantes são atendidos conforme as indicações para cada um.

Sobre o caso da Escola Classe 304 Sul, a pasta declarou que a sala de recursos permanece na escola. A Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto informou que busca profissionais com requisitos específicos para a unidade.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?