Alunos especiais correm risco de sofrer nova falta de monitores no DF
Segundo a Associação DF Down, apesar do aumento de matriculas, não houve ainda ação para assegurar apoio aos estudantes especiais
atualizado
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Alunos especiais enfrentaram graves dificuldades nas escolas públicas do Distrito Federal em 2022. Falta de monitores, educadores sociais voluntários, salas de recursos, acolhimento e respeito prejudicaram o aprendizado. Sem sinais concretos de soluções dos problemas, famílias temem a repetição do drama em 2023.
Aflição vivida pelo casal de empresários Felipe Paniago e Mônica Barbosa Paniago, pais do pequeno Isaac Barbosa Paniago, de 5 anos. Diagnosticado com síndrome de Down, ele enfrentou uma bateria de cirurgias logo após o nascimento e precisou retirar parte crânio. Por isso, o pequeno não pode cair em hipótese alguma.
Segundo a família, o estudante não recebeu o acolhimento devido no 1º semestre de 2022. Não recebia dever de casa, passou a chorar e desenvolveu medo de ir para a escola. A família chegou a tirar Isaac do colégio, mas após cobrar providências da regional, o aluno recebeu novo acompanhamento e voltou a se encantar com o colégio.
“Foram seis meses péssimos. Foram muitas lágrimas. Lutei pelo meu filho. Espero que em 2023 isso não se repita comigo ou com qualquer outra pessoa. Mas pelo o que estou vendo, tenho medo que aconteça novamente”, disse Mônica.
Sem apoio
No começo de 2022, Adriana Batista começou a batalhar pela a educação dos filhos gêmeos Pedro e Vitor, 11. Diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ambos não tiveram acesso a sala de recursos. E, apesar dos protestos, os meninos continuaram sem o apoio.
“Foi muito ruim e angustiante, é desanimador. Cheguei a sofrer uma convulsão. Os meninos não conseguiram vaga na escola que queríamos para 2023. Infelizmente, pelo que parece, não podemos contar com uma escola inclusiva. Estou com muito medo para 2023”, afirmou Adriana.
Trauma
O Metrópoles noticiou o drama da mãe de um aluno autista em Planaltina (DF). A mulher revoltou-se após ser chamada ao colégio e encontrar o filho, em um banheiro da instituição, com fezes escorrendo pelas pernas e rodeado por moscas.
A criança está traumatizada. “Ele não quer estudar. Não quer voltar para a escola”, desabafou a mãe do menino, Tatiane de Souza. Segundo ela, não houve pedido de desculpa. “Solicitei transferência, mas não recebi resposta. Não houve reunião para esclarecer o que aconteceu”, completou.
Lei desrespeitada
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) garante que alunos com deficiência tenham direito ao suporte de monitores ou de educadores sociais voluntários nas escolas públicas. Segundo a presidente da Associação DF Down, Melina Sales dos Santos, o ano letivo de 2022 foi marcado pelo caos absoluto. Órgãos de controle cobraram soluções, como o MPDFT e TCDF.
“Tivemos um aumento de pessoas matriculadas, certamente teremos mais estudantes com deficiência. E mesmo com o aumento das matrículas, a gente não tem nenhuma informação de que a Secretaria e Educação se preparou ou operou alguma mudança. A gente está sem saber o que vai acontecer e estamos muito preocupadas”, alertou.
Para a DF Down, a rede pública deveria investir, principalmente, na contratação de monitores.
Secretaria de Educação
Pelas contas da Secretaria Educação, ao final de 2022, a rede pública conta 533 monitores ativos, 2.152 educadores sociais voluntários, 498 salas de recursos e mais de 3,3 mil professores aptos a atuar nelas. Em 2022 eram 23.266 estudantes especiais matriculados.
Segundo a pasta, a organização do ano letivo de 2023 será finalizada em janeiro. De acordo com a secretaria, o número de alunos com algum tipo de deficiência será conhecido. Somente após o resultado da efetivação de matrícula será possível visualizar a real necessidade de profissionais para atender os estudantes.
“A SEEDF pretende nomear mais monitores em janeiro de 2023”, destacou a pasta. A secretaria alega que estão sendo avaliadas as necessidades da Educação Especial e está desenvolvendo um trabalho colaborativo entre as diversas áreas para determinar as orientações para o atendimento dos alunos.
Profissional de apoio
“Também são finalizados em janeiro os estudos de casos da Educação Especial para a definição de quais estudantes necessitarão de acompanhamento e de profissional de apoio”, afirmou a pasta. Segundo a secretaria, o diagnóstico de deficiência, por si só, não define as necessidades e potencialidades do estudante e não apresenta a resposta de como trabalhar para seu desenvolvimento e inclusão no ambiente escolar.
“É necessário conhecer o estudante no seu contexto local e nos aspectos biopsicossociais para identificar os apoios necessários para que ele participe da vida escolar de forma equitativa”, explicou a pasta.