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Falhas em armas de policiais entram na mira da Câmara dos Deputados

Na tarde desta quarta (3/8), será realizada a primeira audiência pública para debater os defeitos apresentados nas pistolas da marca Forjas Taurus. Vítimas serão ouvidas

atualizado

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Reprodução/internet
pistola taurus
1 de 1 pistola taurus - Foto: Reprodução/internet

Os problemas detectados nas armas da marca Forjas Taurus utilizadas por órgãos de segurança pública da União, dos estados e do Distrito Federal entraram na mira da Câmara dos Deputados. Na tarde desta quarta-feira (3/8), será realizada a primeira audiência pública para debater o assunto. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) deve ser instalada na próxima semana.

Essa vai ser a primeira vez que os policiais vítimas dos defeitos recorrentes das pistolas terão voz para denunciar as falhas da marca brasileira. Os casos de agentes que foram mutilados por um dos principais equipamentos de trabalho tiveram grande repercussão na mídia nacional e internacional neste ano. O Metrópoles revelou em março deste ano um laudo do Instituto de Criminalística do DF confirmando as falhas.

Representantes do Exército Brasileiro, da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), Taurus, da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), policiais que representam as vítimas e peritos criminais estarão presentes na sessão. A audiência é resultado de um requerimento instaurado pelo deputado Major Olímpio (SD/SP), após receber denúncias de policiais civis e militares.

Existe uma clara irresponsabilidade da Taurus e falta de fiscalização do Exército Brasileiro. Muitas pessoas foram mortas, outras ficaram deficientes por conta desses problemas. Queremos mostrar para a Câmara que esses crimes estão sendo praticados e, até agora, nada foi feito. Já estou com o documento para recolher 171 assinaturas. O objetivo é criar uma CPI para investigar o caso. Ate segunda (8/8), devo superar a meta e chegar a 300.

deputado federal, Major Olímpio

Em julho, um grupo formado por policiais intitulado Vítimas da Taurus protocolou junto ao Exército e ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requerimentos pedindo que sejam adotados procedimentos para investigar os acidentes com as pistolas.

“Embora a empresa Forjas Taurus se negue de todas as formas a reconhecer os problemas nas pistolas de sua fabricação, as vítimas existem e aumentam a cada dia que passa. A empresa tem pleno conhecimento dos casos ocorridos, dos laudos positivos produzidos e dos defeitos encontrados, bem como das ações judiciais em trâmite”, diz um trecho do documento encaminhado à Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do MPDFT.

Imparcial
O deputado Alberto Fraga (DEM-DF) também participará da audiência. Nas últimas eleições, ele recebeu da Taurus R$ 80 mil referente a financiamento de campanha. Apesar da relação com a marca, o parlamentar garante que vai ser imparcial. “Não tenho dúvida de que existem problemas. Todo monopólio é ruim, é preciso ter concorrência, Defendo o livre mercado, mas a investigação com relação às falhas precisam ser amplas. Se no final da audiência eu chegar à conclusão de que é preciso aprofundar as investigações, posso até assinar a favor da CPI”, disse.

Você acha que R$ 80 mil paga uma campanha de deputado federal? Não estarei lá para defender a fábrica.

Deputado Alberto Fraga


Manual

Após as denúncias dos agentes da segurança pública, que foram atingidos por disparos de pistolas sem o acionamento do gatilho, a Taurus incluiu no manual de instruções das pistolas (serie 600 24/7) que qualquer arma pode disparar em caso de queda.

“Acidentes com armas de fogo são relativamente raros, normalmente causados por desrespeito às regras básicas de segurança. Infelizmente, atiradores experientes costumam ignorar essas regras com mais frequência que os iniciantes. Independentemente da familiaridade com o uso de armamentos, é imprescindível sempre seguir as orientações de segurança”, diz o texto.

 

A informação foi recebida com surpresa pelos policiais, que afirmam que nenhuma arma em plenas condições de uso deveria disparar sem o acionamento do gatilho. No entanto, ao se defender em um dos processos na qual foi acusada, a marca afirmou que não existe possibilidade de disparo acidental e que a culpa pelo acidente é “exclusiva do autor”.

“A ré, devidamente citada, apresentou resposta na forma de contestação, sustentando a improcedência dos pedidos, haja vista: a) impossibilidade de disparo acidental; b) a comprovada eficácia do sistema de segurança do produto; c) a inexistência do dever de indenizar, por ausência de nexo causal face a culpa exclusiva do autor”, constam nos autos.

O desenho que ilustra o informativo também foi motivo de questionamento, uma vez que, primeiro, foi divulgada uma imagem da pistola com a marca Taurus e, nessa terça (2/8), trocaram a imagem por uma pistola sem marca definida.

O outro lado
Procurada pelo Metrópoles, a Taurus informou, por meio de nota, que “tem aprimorado constantemente seus canais de atendimento e informações. Entre as melhorias realizadas recentemente está a revisão de alguns manuais de nossos produtos. Nessa revisão, a informação de risco de tiro acidental por queda, que já existia no manual, foi destacada, com recursos visuais para facilitar sua compreensão”.

O texto destaca, ainda, que todos os produtos fabricados “foram aprovados e cumprem as normas NEB/T E-267A, do Exército Brasileiro, e NIJ 0112.03, do Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos”.

 

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