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Ex-jogador da Seleção é suspeito de fraudar ao menos 20 jogos no Mané

A polícia encontrou indícios de fraude na bilheteria de quatro disputas promovidas em 2019 em Brasília e em mais dois estados

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
Roni
1 de 1 Roni - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Ao menos 20 jogos realizados no Estádio Nacional Mané Garrincha e produzidos pela empresa Roni7 Consultoria são investigados pela Polícia Civil do Distrito Federal. As partidas ocorreram entre 2015 e este ano. Segundo os investigadores, a PCDF encontrou indícios de fraude na bilheteria de quatro disputas promovidas em 2019 na capital e em mais dois estados.

A empresa pertence ao ex-atacante, que jogou no Fluminense, no Flamengo e até mesmo na Seleção Brasileira, Roniéliton Pereira Santos, 42 anos, ou Roni. Ele foi surpreendido e preso por policiais enquanto a bola rolava entre Palmeiras e Botafogo no Mané Garrincha, na tarde desse sábado (25/04/2019). Roni é o principal operador das partidas de futebol dos clubes cariocas fora do estado do Rio de Janeiro.

As prisões de Roni e mais seis investigados fazem parte da operação Episkiros deflagrada pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).

Consideramos que a operação foi um sucesso porque, além de localizarmos todos os alvos e cumprirmos os mandados de busca e apreensão, fizemos tudo sem que os torcedores que assistiam ao jogo percebessem a presença da polícia

delegado-chefe da Cecor, Leonardo de Castro

Metrópoles apurou que os demais alvos de prisão temporária, que por determinação judicial tem duração de 48 horas, são: Leandro Brito, sócio de Roni; Rogério Meireles, responsável pelo financeiro da produtora; e um colaborador identificado como Caio. O presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, também está entre os presos. Os seis foram detidos dentro do estádio. Um sétimo investigado foi encontrado em sua residência localizada em Samambaia.

Na casa de Vasconcelos, no DF, os policiais apreenderam um revólver calibre .38. Com isso, ele também foi autuado e preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. Os delegados estipularam uma fiança de R$ 10 mil, que já foi paga.

A Polícia Civil ainda não informou se vai pedir a prorrogação das prisões temporárias, para convertê-las em preventiva. Os suspeitos estão na carceragem da PCDF ao lado da Parque da Cidade por força de decisão da 15ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal.

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Além das prisões, foram expedidos 19 mandados de busca e apreensão. Seis foram cumpridos em endereços do DF, dois em Luziânia (GO) e 11 em Goiânia (GO), onde quatro dos investigados moram. No Mané Garrincha, os agentes apreenderam computadores, borderôs e os ingressos da partida. Durante as buscas feitas com auxílio da Polícia Civil de Goiás, os investigadores apreenderam R$ 100 mil em espécie na sede de uma das empresas instalada na capital goiana.

“Vamos analisar todo esse material e constatar a real participação de cada investigado no esquema. Neste primeiro momento, acreditamos que, além da União e do Estado, federações regionais podem ter sido lesadas com a fraude. Uma vez que impostos como o INSS, Imposto de Renda, ISS, o aluguel do estádio e demais taxas são baseados no público e rendimento dos jogos. Números esses que podem ter sido fraudados”, explicou o delegado responsável pela investigação, Ricardo Gurgel.

Associação criminosa
Os empresários investigados comandavam toda a cadeia de organização e execução dos jogos. Além da produtora que era responsável pela organização da partida, hospedagem e transporte, eles também contavam com a participação da empresa de venda de tickets on-line, a Meu Bilhete. A firma está em nome de Leandro Brito, sócio de Roni. “Nos jogos realizados em Brasília, eles levavam as próprias catracas. Tinham o controle de todos os números, o que facilita a fraude”, ressaltou Gurgel.

De acordo com o delegado Leonardo de Castro, durante a investigação, um narrador que acompanhava a partida entre Corinthians e Ferroviário, em Londrina (PR), chegou a comentar ao vivo que o número do público anunciado no telão era incoerente com a realidade. “O dado passado pelos organizadores correspondia a apenas um terço da lotação do estádio e o local estava lotado”, disse.

Outra forma de fraude adotada pelo grupo era a distribuição de cortesias para os eventos. Eles apontavam um alto número e subtraíam esse valor da renda bruta. Dessa forma, os suspeitos conseguiam pagar menos no aluguel dos estádios e reduzir os impostos. A PCDF também apura se os empresários lavaram o dinheiro adquirido com a fraude.

Episkiros
A investigação teve início em 2017, após uma denúncia recebida pelo Ministério Público. O inquérito foi prontamente instaurado pela Divisão de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Dicot), que pertence à Cecor. Segundo a PCDF, a investigação aponta indícios de ocorrência dos crimes de estelionato majorado, associação criminosa, falsidade ideológica e sonegação fiscal.

O nome da operação — Episkiros — é uma referência ao jogo com bola criado na Grécia antiga que pode ter sido a origem do futebol moderno, bem como pelo fato de a palavra episkiro poder significar jogo enganoso.

Mercado milionário
A Roni7 Consultoria foi fundada em 2012. O ex-atacante, e agora empresário, costuma lucrar milhões com as partidas. Em 2016, Roni foi o responsável pela produção de cinco dos oito jogos das quatro grande equipes cariocas. As partidas movimentaram R$ 7 milhões. No ano anterior, ele desembolsou R$ 1 milhão para oferecer um voo fretado e tentar convencer a diretoria do Cruzeiro a tirar o jogo da primeira rodada do Campeonato Brasileiro de Brasília.

Inicialmente, a empresa era voltada para agenciar jovens jogadores, mas o contato com os grandes clubes fez com que Roni expandisse os negócios. A produtora passou a pagar as cotas dos clubes, as taxas das federações e custos com viagens, seguranças e funcionários envolvidos nos jogos.

Roni se destacou em vários clubes, como o Fluminense e o Rubin Kazan da Rússia. Atuou em cinco partidas pela seleção do Brasil de Vanderlei Luxemburgo, inclusive a vice-campeã na Copa das Confederações do México/1999.

Procurada, a Federação de Futebol do Distrito Federal ainda não se manifestou, bem como a assessoria de Roni e do site Meu Bilhete. O espaço continua aberto para eventuais posicionamentos.

 

 

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