A Agência de Desenvolvimento (Terracap) recebeu nesta quinta-feira (8/3) uma única proposta de empresas interessadas em assumir o complexo esportivo ArenaPlex. O interesse é do consórcio formado pela RNGD, mesma empresa que fez o estudo de viabilidade do negócio, pela holandesa Amsterdam Arena e a Capital Live, braço do grupo WTorre, investigado nas operações Lava Jato e Greenfield.
O GDF quer entregar ao grupo a gestão do Estádio Mané Garrincha, do Ginásio Nilson Nelson e do Parque Aquático Cláudio Coutinho por 35 anos. Para tornar a concessão atraente e rentável, foi autorizada a construção de um boulevard com lojas, restaurantes e cinemas.
O grupo foi batizado de Arena BSB, uma abreviação de Boulevard Show de Bola. Agora, a Terracap vai analisar se a proposta apresenta os requisitos técnicos e jurídicos necessários para a parceria. Se tudo estiver regular, a empresa deve assinar contrato com a estatal em abril. Porém, todo o projeto vai precisar passar pelo crivo da Câmara Legislativa.Investigações
O grupo WTorre construiu a Allianz Parque, arena do Palmeiras, em São Paulo, e criou a Capital Live para administrá-la. Em 2016, Walter Torre Júnior, presidente do conglomerado, foi alvo da Operação Abismo, 31ª fase da Lava Jato. Conforme apurações da força-tarefa da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, a empresa teria recebido uma propina de R$ 18 milhões para abandonar a licitação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), beneficiando a OAS. A empresa nega irregularidades.
Na Greenfield, que investiga fraudes nos fundos de pensão, Walter Torre também foi convocado a depor coercitivamente para explicar a construção do estaleiro Rio Grande. Na época, a empresa esclareceu que construiu o empreendimento com recursos próprios e o vendeu à Engevix, que teria se associado ao fundo de pensão da Caixa (Funcef). A investigação está em curso.
Segundo Richard Dubois, líder do consórcio Arena BSB, embora sejam do mesmo dono, a WTorre Construtora e a Capital Live têm CNPJs diferentes.
De acordo com ele, por conta da expertise, a empresa de eventos foi contratada por eles para fazer apenas a gestão do negócio. “A Capital Live é nossa subcontratada. Ela não tem nada a ver com a construtora”, explica. A reportagem acionou a Terracap, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Elefante branco
O Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para a concessão do complexo esportivo brasiliense teve início em 2016. Desde a construção do Mané Garrincha, a Terracap acumulou enormes prejuízos financeiros. Para erguer o estádio, o dispêndio foi de R$ 1,6 bilhão, segundo cálculos do Tribunal de Contas do DF (TCDF). Com a manutenção, desembolsa mais de R$ 700 mil mensais.
Ao fazer a concessão, a estatal espera recuperar parte dos investimentos e dar funcionalidade a praças esportivas que não deslancharam e se encontram abandonadas atualmente, além de economizar aproximadamente R$ 14 milhões anuais. A partir do quinto ano de parceria, a agência também receberá outorga no valor de R$ 5 milhões a cada 12 meses.
Porém, o retorno do negócio aos cofres da estatal do GDF será menor do que o esperado. A fatura do IPTU de R$ 800 mil anuais será bancada integralmente pela Terracap enquanto durar a parceria público-privada. “Estamos satisfeitos de ver um novo passo para Brasília”, afirmou Richard Dubois, líder do consórcio.
O estádio segue na mira do Tribunal de Contas (TCDF), que apura superfaturamento nas obras, e da Polícia Federal, após a deflagração da Operação Panatenaico, apontando a construção do estádio como escoadouro de propina para políticos e ex-gestores do DF. Entre eles, os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB), que chegaram a ser presos.
Relatório da Polícia Federal apontou superfaturamento de R$ 559 milhões nas obras do estádio. Orçado, em 2010, em cerca de R$ 600 milhões, o Mané Garrincha custou quase o triplo aos cofres públicos. Logo após a sua inauguração, chegou a registrar número próximo de sua capacidade, 70 mil pessoas. Porém, nos últimos anos, passou a fazer jus à expectativa inicial de que seria um elefante branco.
Os rolos e os clássicos do Mané
Empresa alvo da Lava Jato integra grupo interessado no Mané Garrincha

Empresa alvo da Lava Jato integra grupo interessado no Mané Garrincha
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Inaugurado em 2013, o Mané Garrincha é considerado o mais caro dos estádios erguidos no país para a Copa 2014 Rafaela Felicciano/Metrópoles

E deixa os fãs do futebol na expectativa de um excelente resultado na próxima Copa Daniel Ferreira/Metrópoles

Até o gramado do estádio foi investigado por suspeita de superfaturamento Daniel Ferreira/Metrópoles

Mesmo tendo custado R$ 1,6 bilhão, a arena candanga está bastante danificada Ian Ferraz/Metrópoles

Espelho quebrado no banheiro masculino da arquibancada inferior do Mané Garrincha. Reparos de diversas áreas são cobrados na Justiça Ian Ferraz/Especial para o Metrópoles

Luminárias desligadas no Mané Garrincha. Estrutura precária para receber os torcedores Ian Ferraz/Especial para o Metrópoles

Durante partida entre Flamengo e Vasco pelo Carioca de 2017, estádio teve apagão Daniel Ferreira/Metrópoles

Veto da CBF afastou do estádio clubes da Série A Daniel Ferreira/Metrópoles

A cobertura do estádio está entre os itens que podem ter sido superfaturados Felipe Menezes/Metrópoles

O Mané Garrincha recebeu 10 partidas dos Jogos Olímpicos 2016. A seleção masculina de futebol, campeã do torneio, jogou no local duas vezes e empatou sem gols em ambas as disputas. Do lado de fora, torcedores reclamaram de longas filas Michael Melo/Metrópoles

O Mané Garrincha abriu espaço para as mulheres mais de uma vez: em 2013 e 2014, foi disputado o Torneio Internacional Feminino, com direito a show de Marta (na foto, à esquerda) e companhia André Borges/Agência Brasília

Obras do novo Mané Garrincha, que recebeu o prenome de Estádio Nacional de Brasília, duraram três anos Divulgação

O antigo Mané Garrincha foi inaugurado em 10 de março de 1974, com capacidade para 45,2 mil torcedores. Acabou demolido para dar lugar ao moderno Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha Arquivo Público do DF

Os ex-governadores Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda estão sendo investigados pela Lava Jato: delatores afirmaram que ambos receberam propina pela obra da arena Michael Melo/Metrópoles

Boa parte da mobília do estádio foi comprada mediante acordo firmado entre o GDF e o Pnud. Muitos dos itens sumiram ou não foram registrados de forma correta Divulgação

Os sofás da área VIP também constam nessa lista do convênio entre GDF e Pnud. Tribunal de Contas do DF apura o caso Divulgação

Em um de seus inúmeros relatórios, o Tribunal de Contas do DF condenou a qualidade das obras do estádio. O degrau da arquibancada superior não tem tamanho suficiente para acomodar um pé de tamanho médio Divulgação/TCDF

Os desmandos com a arena mostram até escadas fora do padrão Divulgação/TCDF