Pesquisadores da UnB desenvolvem método inovador para o tratamento do câncer de fígado

Protótipo desenvolvido pelo grupo mata células cancerígenas pelo aquecimento. Outra ferramenta criada pelo grupo pretende desburocratizar hospitais. O sonho dos engenheiros é ver os aparelhos no Sistema Único de Saúde (SUS)

Leticia Carvalho
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A cada porta dos corredores da Universidade de Brasília (UnB), é possível descobrir um mundo novo. Revelam uma infinidade de projetos e iniciativas capazes de transformar a realidade do Distrito Federal e do país. No Laboratório de Automação e Robótica, logo atrás do Instituto de Artes, duas iniciativas coordenadas pela professora da Faculdade de Engenharia e do programa de pós-graduação em biomédica, Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa, 38 anos, podem contribuir, no futuro, para o tratamento de pacientes com câncer no fígado e para diminuir a burocracia nos hospitais.

Batizado com o nome de Sofia, o projeto, idealizado por um grupo de 20 engenheiros da graduação, do mestrado e do doutorado, e elaborado durante 13 meses, criou o primeiro protótipo, desenvolvido nos solos candangos com componentes e tecnologia nacionais, de ablação hepática. O nome do procedimento parece um bicho de sete cabeças, mas sua função é poderosa: destruir células cancerígenas no fígado por meio de energia de radiofrequência. Ela mata as células cancerígenas pelo calor. Método mais controlado, permite efeitos colaterais menores aos pacientes.

A técnica já vem sendo usada no Brasil, mas os hospitais precisam comprar o aparelho de empresas internacionais. Um equipamento pode custar até R$ 100 mil. O grupo gastou cerca de R$ 5 mil no desenvolvimento do protótipo. O sonho dos engenheiros, agora, é ver todo o fruto do trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS). “Queremos que o projeto seja inserido nas políticas públicas e que não fique somente na universidade”, aponta o engenheiro eletrônico Gilvandson Costa Cavalcante, 39 anos.

Durante a visita do Metrópoles ao laboratório da equipe, o diretor institucional da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), Márcio Bósio, apareceu para conhecer os projetos. “Queremos fazer essa ponte entre a instituição de ensino e a indústria. Esses produtos atenderão um gargalo da saúde pública do país e tentaremos levá-los para o mercado”, explicou Bósio.

Fruto de uma demanda do Ministério da Saúde, o dispositivo já foi testado em porcos na Pontifícia Universidade Católica de Goiás em dezembro do ano passado. O teste in vivo foi bem sucedido e permitiu verificar a eficácia do aparelho. O projeto, no entanto, foi iniciado pelo professor Ícaro dos Santos, da Faculdade de Tecnologia da UnB. O docente foi estudar no exterior e a PHD Suélia de Siqueira abraçou a ideia.

Conseguimos chegar a esse resultado graças ao esforço e dedicação dos alunos, e à rede de amigos e profissionais que construí ao logo da minha carreira. Criar e testar um produto no Brasil é uma tarefa muito difícil de ser alcançada

Suélia de Siqueira

Integrante da equipe de pesquisa desde o seu início, a doutoranda em sistema eletrônico de automação Diana Montilla fala do Sofia com o sorriso estampado no rosto. Ela saiu da Colômbia em 2011 e desde lá transformou a cidade em forma de avião em seu lar. “Gerar uma tecnologia dessa aqui em Brasília dá uma satisfação enorme”, comemora.

Projeto Vera
Elaborado para atender também uma demanda do Ministério da Saúde, um outro projeto com nome feminino, o Vera, dialoga com o Sofia. A função dele é monitorar a distância e em tempo real, por meio de um equipamento e de um aplicativo, o desempenho de aparelhos médicos de hospitais cadastrados no sistema. Ele fiscalizaria, por exemplo, o funcionamento do equipamento de ablação hepática. A proposta desse dispositivo de monitoramento é acelerar a gestão de problemas.

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Alguns dos integrantes das equipes dos projetos Sofia e Vera
Professora Suélia de Siqueira
Projeto Vera

 

As informações ficarão armazenadas em um banco de dados que poderá mostrar se o equipamento está funcionando corretamente ou se precisa de manutenção. “Muitos profissionais da saúde não sabem mexer nessas máquinas. Às vezes, surge um pequeno problema e eles, logo, mandam o aparelho para o conserto. Muitas vezes, o defeito é fácil de ser resolvido e não há a necessidade de se fazer todo esse percurso”, esclarece o engenheiro eletrônico Pablo Henrique Pinheiro, 26 anos. Ele compõe uma equipe de 20 pesquisadores que se debruçou em materializar o projeto.

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