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Indígena poianaua é o primeiro a se formar em antropologia na UnB

Jósimo da Costa Constant apresentou no fim de junho seu trabalho de conclusão de curso. Em 2012, ele soube da reserva de vagas para estudantes indígenas na instituição. Jovem prestou o vestibular e passou para o curso de ciências sociais

atualizado

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Mariana Leal/MEC
Indígena formado em antropologia pela UnB
1 de 1 Indígena formado em antropologia pela UnB - Foto: Mariana Leal/MEC

Um jovem da etnia poianaua é o primeiro indígena a se formar em antropologia pela Universidade Brasília (UnB). Jósimo da Costa Constant, 27 anos, apresentou no fim de junho seu trabalho de conclusão de curso no Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB, espaço conhecido como “maloca”. A cerimônia de colação de grau será em 14 de setembro.

Com orgulho de ser o primeiro índio a se formar a diplomar-se em antropologia pela UnB, Jósimo conta que vai seguir com os estudos. Antes mesmo de terminar a graduação, passou na seleção de mestrado em direitos humanos da universidade.

Quero fazer um doutorado e, quem sabe, me tornar professor universitário. Meu objetivo é fazer projetos voltados para o meu povo, divulgar nossa cultura, trabalhar pelos povos indígenas e pelas minorias

Jósimo da Costa Constant

Desde cedo, Jósimo percebeu a importância da educação para a manutenção da cultura do seu povo. Ele nasceu em uma aldeia do município Mâncio Lima (AC), na fronteira com o Peru. Criado com os costumes indígenas, precisou se mudar com a família para a cidade. O pai, professor de uma escola local, teve a oportunidade de cursar o ensino superior na Universidade Federal do Acre (Ufac).

Como a aldeia só oferecia educação até o quinto ano do ensino fundamental, Jósimo enxergou na oportunidade do pai a chance de seguir com os estudos. “Senti muita dificuldade em sair de lá para estudar na cidade, me adaptar a um modo de vida diferente, passar por cima do preconceito”, lembra. Depois de concluir o ensino médio, retornou à aldeia com a família.

Jósimo passou o ano seguinte lecionando na escola onde havia estudado: dava aulas de inglês e de educação física.  Por ser uma das poucas pessoas da região que falavam idioma, logo foi chamado para dar aulas de inglês em Mâncio Lima, município do Acre. “Gostava de ir para a escola pintado. Tinha professor que não gostava, mas fazia isso mesmo assim”, acrescenta.

Ele soube da reserva de vagas para estudantes indígenas na UnB em 2012. Prestou o vestibular e passou para o curso de antropologia. Mesmo diante das dificuldades, Jósimo agarrava-se à sua motivação: era o primeiro poianaua a ir tão longe para estudar, queria dar esse orgulho ao seu povo.

Durante o período do curso, Jósimo participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e, em seguida, entrou no Programa de Educação Tutorial (PET) da UnB.

Por mais que as aspirações de Jósimo se voltem para a academia, ele não abre mão de ensinar a cultura do povo poianaua a quem queira ouvir. Toda semana, narra histórias para alunos da Escola Municipal Aleixo Pereira Braga, na Cidade Ocidental (GO). Além disso, dá aulas de inglês como voluntário para os indígenas que estudam na UnB. (Com informações do Ministério da Educação)

 

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