DF registra queda de 42,9% no número de feminicídios em relação a 2019
Dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e consideram apenas os feminicídios ocorridos nos primeiros semestres dos últimos 4 anos
atualizado

Levantamento sobre violência contra meninas e mulheres realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre o 1º semestre de 2022 apontou queda de 42,9% no número absoluto de feminicídios no Distrito Federal nos últimos quatro anos.
O estudo reúne estatísticas criminais de mortes e estupros de mulheres dos primeiros semestres de cada ano, entre 2019 a 2022. Os dados têm como fonte os boletins de ocorrência classificados com a qualificadora feminicídio pela Polícia Civil do DF (PCDF), constituindo, portanto, o primeiro registro oficial das mortes.
Veja os registros por estados:
Enquanto o DF apresenta redução, o número de casos de feminicídio no país cresceu 10,8%, num total de 2.671 mortes nos primeiros semestres dos últimos quatro anos. Desse total, 699 casos ocorreram entre janeiro e junho deste ano ─ ou seja, uma média de quatro mulheres assassinadas por dia ─, um aumento de 3,2% na comparação com 2021.
No caso dos estupros, foram 29.285 ocorrências em 2022. No acumulado dos quatro anos, mais de 112 mil mulheres foram estupradas no país se levarmos em consideração apenas os primeiros semestres: uma a cada 9 minutos.
Para o promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Thiago Pierobom, os dados registrados durante a pandemia da Covid-19, em 2020, estiveram em um nível mais baixo que o de 2019. Um padrão que, de certa forma, se repetiu em 2021 e no primeiro semestre de 2022.
“Esse 2022, a gente voltou ao primeiro patamar de 2020, que foi aquele auge da pandemia, quando todo mundo ficou trancado dentro de casa. Não é que as mulheres estavam mais protegidas, é que elas tinham mais medo. O primeiro semestre de 2022, foi um momento que teve uma volta da pandemia, com aquela variante Ômicron, talvez isso tenha influenciado. Devem ter outras variáveis”, analisou.
Segundo Thiago, a estrutura de enfrentamento à violência doméstica na capital federal é uma das melhores do país. “Isso em quantidade de varas, promotorias e delegacias. Com o Programa Pró-Vida da PMDF, a inauguração recente da Casa da Mulher Brasileira, junto com a DEAM II”, pontua.
“Feminicídio é um crime culturalmente motivado. Uma das nossas pesquisas sobre feminicídio indica que todos os crimes são causados por discriminação de gênero. O homem não aceitar o término da relação, são disputas patrimoniais, são conflitos com a ex-companheira relacionado à visitação dos filhos, ao pagamento de pensão alimentícia, guarda. Às vezes, conflitos banais de quem é que manda”, afirma.
Violência contra mulher: identifique e saiba como denunciar

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A violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a ela, tanto no âmbito público como no privado Hugo Barreto/Metrópoles

Esse tipo de agressão pode ocorrer de diferentes formas: física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral Arte/Metrópoles

A violência psicológica caracteriza-se por qualquer conduta que cause dano emocional, como chantagem, insulto ou humilhação Hugo Barreto/Metrópoles

Já a violência sexual é aquela em que a vítima é obrigada a manter ou presenciar relação sexual não consensual. O impedimento de uso de métodos contraceptivos e imposição de aborto, matrimônio ou prostituição também são violências desse tipo iStock

A violência patrimonial diz respeito à retenção, subtração, destruição parcial ou total dos bens ou recursos da mulher. Acusação de traição, invasão de propriedade e xingamentos são exemplos de violência moral IStock

A violência pode ocorrer no âmbito doméstico, familiar e em qualquer relação íntima de afeto. Toda mulher que seja vítima de agressão deve ser protegida pela lei Imagem ilustrativa

Segundo a Secretaria da Mulher, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência no Brasil. A pasta orienta que ameaças, violência, abuso sexual e confinamento devem ser denunciados iStock

A denúncia de violência contra a mulher pode ser feita pelo 190 da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), na Central de Atendimento da Mulher pelo 180 ou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), que funciona 24 horas Rafaela Felicciano/Metrópoles

O aplicativo Proteja-se também é um meio de denúncia. Nele, a pessoa poderá ser atendida por meio de um chat ou em libras. É possível incluir fotos e vídeos à denúncia Marcos Garcia/Arte Metrópoles

A Campanha Sinal Vermelho é outra forma de denunciar uma situação de violência sem precisar usar palavras. A vítima pode ir a uma farmácia ou supermercado participante da ação e mostrar um X vermelho desenhado em uma das suas mãos ou em um papel Rafaela Felicciano/Metrópoles

Representantes ou entidades representativas de farmácias, condomínios, supermercados e hotéis em todo DF que quiserem aderir à campanha devem enviar um e-mail para sinalvermelho@mulher.df.gov.br Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Os centros especializados de Atendimento às Mulheres (Ceams) oferecem acolhimento e acompanhamento multidisciplinar. Os serviços podem ser solicitados por meio de cadastro no Agenda DF Agência Brasília

Os núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds) oferecem acompanhamento psicossocial às pessoas envolvidas em situação de violência doméstica e familiar. O Nafavd recebe encaminhamentos pela Justiça ou Ministério Público. Os autores de violência podem solicitar atendimento sem encaminhamento Agência Brasília

A campanha Mulher, Você não Está Só foi criada para atendimento, acolhimento e proteção às mulheres em situação de violência que pode ter sido consequência, ou simplesmente agravada, pelo isolamento resultante da pandemia. Basta ligar para 61 994-150-635 Hugo Barreto/Metrópoles
Vítimas na capital da República
Em 2022, o DF registrou, pelo menos, 17 feminicídios, segundo os dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), computados até outubro deste ano. A moradora do Itapoã Patrícia Silva Vieira Rufino, 40 anos, morreu em 17 de setembro. O suspeito pela morte arrancou a pia do banheiro e atingiu a cabeça da vítima diversas vezes. O homem acabou preso em flagrante no dia do crime.
Assim como o caso de Patrícia, as outras vítimas foram mortas com requintes de selvageria, como espancamentos, esfaqueamentos e estrangulamentos.
Veja as vítimas:

Patrícia Rufino, 40 anos Reprodução/Facebook

Vanessa Lopes tinha 31 anos Arquivo pessoal

Deisielle dos Santos Reprodução/Redes sociais

Jeanne Pires dos Santos, 31 anos, vítima de feminicídio Reprodução/Facebook

Jakeliny Neres Ferreira, morta pelo companheiro Reprodução/Facebook

Isabella Yanka tinha 20 anos Reprodução/Redes sociais

Brenda Pinheiro da Silva tinha 26 anos Reprodução

Marina Paz Katriny tinha 29 anos Arquivo Pessoal

Viviane Silva, 19 anos, ficou desaparecida e foi encontrada morta em um córrego Reprodução

Corpo de Priscila Teixeira dos Santos, 33 anos, foi encontrado em casa, em Taguatinga Norte Reprodução

Ana Cristina Farias de Araújo foi morta pelo genro Divulgação

Joana Santana Pereira dos Santos tinha 41 anos Reprodução/Redes sociais

Eliuda Velozo foi morta em janeiro Reprodução

Corpo de Kelle Cristina Pereira da Silva foi encontrado em poço em 24 de janeiro Reprodução/Facebook
A moradora de Ceilândia Vanessa Lopes dos Santos, de 31 anos, foi encontrada morta em 2 de outubro com sinais de esfaqueamento ao lado de uma estação do metrô, na QNN 7. A tragédia reflete um padrão visto na maioria das mulheres vítimas neste ano na capital.
De acordo com painel da Secretaria de Segurança Pública, em cerca de 41% dos casos, as vítimas (5) morreram por arma branca, 33% (4) por agressão física, 16% (2) por objeto contundente e 8% (1) por arma de fogo.
No caso de Vanessa, o suspeito é Douglas D’Aguiar de Sousa, 29 anos, companheiro da vítima.
Conforme os dados da SSP-DF, 45% dos autores têm entre 18 a 29 anos. A grande maioria deles acabaram presos após o feminicídio.