Mulheres negras formam a maior parte da população desempregada no Distrito Federal, correspondendo a 38,1% deste público. O dado é da Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED-DF), feita pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgada nesta quinta-feira (18/11).
Segundo o levantamento, nos primeiros seis meses de 2021, os desempregados no DF eram majoritariamente negros (pretos e pardos), representando 69,3% do total. Os homens negros são 31,2% do público sem trabalho na capital. Enquanto isso, 17,4% e 13,3% do contingente em desemprego é formado por mulheres e homens não negros (brancos, amarelos e indígenas), respectivamente.
Veja os números:

Ocupação
No DF, se autodeclaram pretos e pardos 61,7% dos moradores com 14 anos ou mais. Em relação à ocupação, a presença de negros neste contingente reduziu nos últimos dois anos.
Entre janeiro e junho de 2019, a população negra representava 68,6% dos ocupados no DF. O índice caiu para 65% no primeiro semestre de 2020, e para 61,9% no segundo semestre do ano passado. Nos primeiros seis meses deste ano, o número teve leve alta: 62,6%. Esse movimento descendente foi identificado tanto para mulheres quanto para homens negros.
De modo oposto, o índice da população não negra ocupada aumentou. Esta parcela da população correspondia a 31,4% dos empregados no primeiro semestre de 2019, elevou a proporção para 35% no primeiro semestre de 2020 e para 38,1% nos últimos seis meses do ano passado. De janeiro a junho deste ano, o índice caiu para 37,4%, o que ainda fica acima da taxa de dois anos atrás.

Impactos iniciais da pandemia sobre o mercado de trabalho foram sentidos com mais força por mulheres pretas e pardasVinícius Schmidt/Metrópoles

Mulheres negras representam 38% da população desempregada em 2021Daniel Ferreira/Metrópoles

No DF, se autodeclaram pretos e pardos 61,7% dos moradoresHugo Barreto/Metrópoles
Desemprego
A histórica sobrerrepresentação dos negros no contingente de desempregados foi observada em todos os semestres analisados. Em 2019, a parcela negra sem trabalho era de 75,5%. Ainda que neste ano o percentual tenha reduzido para 69,3%, a quantidade ainda segue elevada.
Conforme a pesquisa, a intensa presença negra no desemprego do Distrito Federal, em todos os semestres analisados, reflete a condição desfavorável vivenciada pelas mulheres negras. No que tange à distância entre sua presença no mercado de trabalho e no desemprego, entre os grupos de sexo e cor/raça, as mulheres pretas e pardas constituíram o único grupo que não melhorou sua condição no confronto com o primeiro semestre de 2019.
A pesquisa registrou a concentração dos desempregados negros em duas faixas etárias – a de jovens entre 18 e 24 anos e a de adultos entre 30 e 39 anos. Juntos, estes segmentos agregavam mais da metade dos desempregados negros no primeiro semestre de 2021 (51,5%).
Desigualdade
Entre 2019 e 2020, a taxa de desemprego das mulheres negras, que historicamente é a mais elevada, passou de 23,1% para 26,2% da PEA correspondente. Em direção contrária, a taxa de desemprego das mulheres não negras diminuiu de 17,9% para 15,8%. Segundo o estudo, isso mostra que os impactos iniciais da pandemia da Covid-19 sobre o mercado de trabalho foram sentidos com mais força por pretas e pardas.
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Para a economista Lúcia Garcia, técnica do Dieese, “o descenso econômico e social inaugurado com a pandemia é assimétrico”.
“Houve maior prejuízo para a população negra e, mesmo agora, com avanço da vacinação, mulheres e homens negros ainda não conseguiram restabelecer seus níveis de ocupação. Os trabalhos obtidos ainda seguem remunerando-os de maneira desvantajosa”, pontua.
“Já o desemprego cai lentamente e há uma grande proporção de pessoas que perderam seus postos e têm experiência anterior de trabalho ainda em busca de oportunidade”, acrescenta Lúcia.
O presidente da Codeplan, Jean Lima, reforça a necessidade de ampliação do acesso da população negra de baixa renda à escolarização e à formação profissional para que tais indicadores possam mudar.
“A questão racial é estrutural na sociedade brasileira, e isso se reflete no mercado de trabalho, que é racializado. Os negros representam o maior contingente entre os desempregados, recebem os menores rendimentos e possuem menos tempo de escolaridade e formação. E, entre os negros, persistem as assimetrias entre gêneros, em que as mulheres exercem as funções de baixa qualificação e em atividades informais”, analisa.
“Apesar das políticas afirmativas e de acesso à renda terem mitigados tais desigualdades, é necessário garantir o acesso e a permanência da população negra de baixa renda na escolarização e formação profissional para que possamos superar esses indicadores”, assinala Jean.
Confira a pesquisa completa: