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Coronavírus: paciente de clínica privada diz que Hran negou teste

O governo federal proibiu o SUS de fazer exames de internados em unidades particulares, mas mulher afirma que não é o caso dela

atualizado

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Jacqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles
Paciente esconde o rosto depois de ter pedido de teste para coronavírus negado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran)
1 de 1 Paciente esconde o rosto depois de ter pedido de teste para coronavírus negado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) - Foto: Jacqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles

Uma paciente de 52 anos teve o pedido de teste para diagnóstico do novo coronavírus negado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), na manhã dessa terça-feira (10/03). A negativa veio menos de 24 horas depois de o Governo Federal proibir o Sistema Único de Saúde (SUS) de receber pacientes com o Covid-19 inicialmente internados em unidades particulares.

A servidora pública pediu para ter o nome preservado. Há duas semanas, ela começou a apresentar sinal fortes de gripe. Após duas consultas em clínicas particulares, sem internação, ouviu de uma médica a recomendação para fazer o teste. Aceitou e recebeu o pedido impresso e carimbado.

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“Ela assinou, mas disse que tinha um problema: o plano de saúde não faz o exame. Ele é caro e eu não tenho dinheiro para pagar. Por isso, vim ao Hran, porque eles fazem os testes”, explica a mulher.

Segundo ela, apesar de ter todos os sintomas do novo coronavírus, como não teve contato com pessoa vinda do exterior e também não viajou para fora do Brasil, o funcionário que a atendeu no Hran afirmou que ela não estava dentro do protocolo. “E, por isso, não podia fazer o teste”, contou.

A servidora considera a decisão da Hran, unidade referência para coronavírus no DF, absurda. E colocou em risco a população. “Eu trabalho ao lado do Setor Hoteleiro. Nas praças de alimentação, temos contato com hóspedes que vêm do mundo inteiro. Eu contei isso no Hran. Se isso não é ter contato com alguém que veio do exterior, o que é? Eu vou ter que abraçar alguém? É difícil”.

A mulher tem a mesma idade da paciente internada em estado grave no Hran com diagnóstico positivo para o novo coronavírus. Por enquanto, é o único caso no DF. A pedido da Procuradoria-Geral do DF, a Justiça determinou o isolamento e os testes do marido da paciente internada. Ele fez testes na rede privada. Os resultados não foram divulgados ainda. Os casos suspeitos no DF chegaram a 59, segundo dados do Ministério da Saúde.

Reclamações

A reclamação da servidora não é isolada. Servidores e pacientes do Hran fizeram diversas reclamações ao Metrópoles. Pacientes suspeitos não contam com acomodações devidas: faltam bancos e locais de descanso. O marido da paciente diagnosticada circulou pela unidade sem qualquer tipo de cuidado. Em determinados momentos e pontos do edifício, não há álcool gel e demais itens necessários para higienizar as mãos.

Funcionários também relataram falta de clareza nos protocolos de atendimento dos pacientes. Por exemplo, citam que a unidade deveria ter se preparado melhor para pacientes com a doença em estado grave. Quem anda pela unidade nota que não existem máscaras disponíveis para todos os visitantes.

Nos arredores do Hran, o sentimento dos comerciantes está dividido. Parte confia e está satisfeita com a postura do hospital nessa fase delicada. Outros questionam a falta de ações preventivas e educativas na região.

“Ninguém veio falar com a gente dessa doença. Deveriam vir, explicar. Será que não podiam colocar máscaras e álcool para as pessoas lavarem as mãos aqui fora?”, questionou uma vendedora, que pediu para o nome não ser publicado.

Outra questão é a limpeza na vizinhança. Além das cercas do hospital existem diversos pontos tomados pela sujeira. Comida, roupas e máscaras se amontoam pelas passagens de pedestres. Alguns trechos estão marcados pelo forte cheiro ruim.

Elogios

A reportagem também ouviu elogios de pacientes e servidores. Jairo Gomes da Silva, 23, auxiliar de bombeiro, e Monalisa Stefany Nascimento da Costa, 25, buscaram o Hran para o nascimento da filha, Ana Laura Nascimento Gomes. A menina chegou ao mundo com saúde no dia 7 de março. Segundo o casal, o atendimento foi perfeito.

“No começo, eu estava nervosa com essa doença. Mas a orientação do hospital foi tranquila. Pediam para a gente lavar as mãos. Os enfermeiros e médicos usavam máscaras. Foi tudo certo”, disse Monalisa.

Segundo Jairo, nenhum paciente com suspeita da doença caminhou pelo andar da maternidade. Outros casais que passaram para testes de pré-natal também elogiaram o atendimento. Como andaram pela unidade receberam máscaras de proteção.

O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde do DF para falar sobre a situação do Hran e aguarda resposta. O espaço permanece aberto.

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