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Coronavírus: demanda por delivery explode e motoboys faturam alto

Sindicato estima que existam até 15 mil entregadores na capital e, mesmo assim, falta mão de obra para atender a atual demanda de pedidos

atualizado

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Foto Rafaela Felicciano/Metrópoles
Motoboy com máscara no SCS
1 de 1 Motoboy com máscara no SCS - Foto: Foto Rafaela Felicciano/Metrópoles

Enquanto a campanha para ficar em casa em decorrência da pandemia do novo coronavírus ganha adeptos em todo o Distrito Federal, há uma classe de trabalhadores que não só continua nas ruas como convive com o aumento na demanda de serviços: os motoboys.

Apesar de ser impossível quantificar o número de entregadores no DF, por causa da informalidade, o Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Distrito Federal (Sindmoto-DF) estima que entre 10 mil e 15 mil profissionais desse segmento circulam pela capital.

Gustavo Aranha, 35 anos, vive essa rotina pesada praticamente o dia inteiro. À tarde, atende entregas por vários aplicativos e, à noite, atua no delivery de uma pizzaria da qual é contratado. Em oito anos desempenhando tarefas como motoboy, ele diz nunca ter visto demanda igual. “Se não fossem os aplicativos, ninguém ia dar conta. É muito pedido de uma vez”, relata.

Nos aplicativos, por exemplo, ele afirma estar acostumado a fazer entre sete e oito viagens na hora do almoço. A quantidade dobrou: “Agora faço 15, 16, mesmo com o aumento do número de motoboys, já que muita gente perdeu o emprego e foi buscar uma moto para trabalhar”, explica.

Na pizzaria, o serviço também cresceu. Com o fechamento do salão para que clientes pudessem consumir no local, toda a entrega de comida tem acontecido por intermédio de Gustavo. “Agora, as pessoas estão se alimentando em casa. Só o delivery mesmo que está funcionando nos lugares”, conta.

Apesar de estar feliz com a alta demanda, Aranha está ciente dos perigos neste momento de pandemia. Ele diz que, até o momento, todos os cuidados de higiene têm sido tomados por conta própria. “Ando com meu álcool, não estou subindo em apartamento nenhum. A gente acaba se arriscando, porque precisa mesmo do dinheiro. Tem que ter muita força de vontade”, assinala.

Quando retorna para casa, o profissional afirma que a primeira coisa a fazer é entrar pela área dos fundos, tirar a roupa e ir direto para o banho. Como a esposa trabalha em uma clínica médica, os dois tentam se ajudar no que podem. “Antes, eu chegava, me jogava no sofá e descansava um pouco. Agora, não dá mais para fazer isso”, comenta.

José Antônio da Silva, 34, tem menos tempo de profissão, mas se mostra igualmente espantado com a quantidade de pedidos nas últimas semanas. Trabalhando exclusivamente com aplicativos de entrega, ele afirma que os dias de maior faturamento antes do coronavírus não chegam perto da média atual. “Começo por volta das 11h30 e fico até as 22h. Antigamente, fazia no máximo 10. Agora, chego a 19 [pedidos]”, relata.

O motoboy, na verdade, sempre trabalhou como açougueiro. Demitido no ano passado, viu nos aplicativos de entrega uma forma de conseguir continuar pagando as contas. “Deu uma melhorada e já dá para pagar as prestações da moto com mais calma”, brinca.

Não só refeição tem demanda alta

O entregador Vander Lima, 51, trabalha em uma empresa de motoboys como contratado. Normalmente direcionado a atender um açougue em Brasília, ele diz que o número de pedidos triplicou. “São oito entregas pela manhã e pela tarde. Antigamente, as viagens não passavam de três por turno”, comenta.

As solicitações são tantas que Vander chegou a encontrar outro colega de trabalho realizando entregas no mesmo apartamento. “Era eu de açougue e ele levando compras de mercado para uma idosa.”

Vander conta que a relação com os clientes também mudou. Se antes era comum subir até o apartamento, hoje tudo é feito pela portaria. “Já até me deram a senha do cartão para eu digitar, com medo de pegar na maquininha”, revela.

Farmácias

Nas farmácias, a quantidade de pedidos também é grande, conforme relata o motoboy Gilson de Jesus Rodrigues. Devido ao grande número de solicitações, a empresa na qual trabalha precisou contratar outro entregador para dar conta da demanda.

“Estamos fazendo 80 viagens por dia, antes eram 40. Álcool em gel, máscara e vitamina C, por exemplo, já acabaram. Nem o fornecedor tem mais”, conta.

Ao contrário dos outros colegas, Gilson relata que a drogaria tem fornecido todo o suporte para que as entregas sejam feitas com equipamentos de proteção. “Eu estava usando máscara, luva, mas os clientes começaram a pegar as encomendas com nojo. Passei a evitar a máscara”, pontua.

Sindicato quer mais segurança

Para o Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto-DF), o que falta ainda é a valorização da profissão, mesmo com o aumento da demanda durante a pandemia. “A situação dos motoboys é de vulnerabilidade. Eles estão ganhando dinheiro, mas correndo risco. As empresas contratantes precisam dar o mínimo de suporte”, enfatiza o presidente da entidade, Luiz Carlos Garcia Galvão.

Segundo o sindicalista, embora a procura tenha crescido, os lucros continuam não sendo repartidos com o entregador. “A taxa dos aplicativos deveria ser mais justa e, para os de carteira assinada, o salário poderia aumentar. A demanda está muito alta em todo o setor”, ressalta.

Procurados, os três principais aplicativos de entrega do DF responderam aos questionamentos sobre quais ações estão sendo adotadas no sentido de preservar a saúde dos motoboys.

O iFood informou ter criado dois fundos solidários para os entregadores, que somam R$ 2 milhões. O primeiro será para dar suporte àqueles que necessitem permanecer em quarentena. Já o segundo é voltado aos que estão no grupo de risco. Os colaboradores com mais de 65 anos, inclusive, terão a conta automaticamente desabilitada durante 30 dias.

A empresa lembra ainda que disponibiliza um plano de vantagens em serviços de saúde para os seus funcionários, que pode ser estendido a um dependente. Sobre o álcool em gel, o iFood diz ter iniciado a distribuição, por meio de vans itinerantes, em diversos pontos.

Já a Rappi respondeu ter habilitado uma opção de entrega em domicílio sem contato físico. Destacou ainda estar estimulando o pagamento via aplicativo, a fim de evitar ainda mais o contato com dinheiro em espécie. Segundo o app, centenas de milhares de géis e máscaras antibacterianas foram importados e serão dados aos trabalhadores.

Pontuou também que um fundo foi criado. Basta ao entregador acionar um botão específico para notificar a empresa em caso de sintomas ou teste positivo para o novo coronavírus.

Por fim, a Uber Eats disse ter lançado um plano de vantagens nos serviços de saúde com a possibilidade de realização de exames, além de descontos em drogarias. Assim como as outras concorrentes, a empresa implementou política para que qualquer entregador diagnosticado com a Covid-19, ou em quarentena, receba assistência financeira por até 14 dias.

A Uber também oferecerá recursos para ajudar os parceiros a manter os veículos limpos em todo o Brasil. E mais: enviou mensagens aos usuários do Uber Eats orientando que a entrega de pedidos seja realizada sem contato direto.

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