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Chuvas colocam em risco mais de 5 mil residências no Distrito Federal

De acordo com levantamento da Defesa Civil, existem mais de 41 áreas de 19 regiões administrativas em situação de vulnerabilidade

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 capa16 - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A cerca de 15 quilômetros do centro da capital da República, os moradores da invasão de Santa Luzia, na Estrutural, temem toda vez que nuvens pesadas cobrem o céu do Distrito Federal. Devido à falta de estrutura, as pessoas sofrem constantemente com alagamentos, risco de incêndio e acúmulo de entulhos. A região é uma das 41 áreas de risco existentes em 19 regiões administrativas mapeadas pela Defesa Civil, em um total de 5.367 residências vulneráveis.

“Moro aqui à força. Se pudesse, eu me mudaria”, lamenta a vendedora Raimunda Eugênia da Silva, 58 anos. Ela conta que as chuvas deixam as ruas intransitáveis e nem sequer é possível levar as crianças à escola. Só em 2019, a moradora já perdeu máquina de lavar, televisão e geladeira em consequência das inundações. “Um dia temos gás e luz, no outro, não. Quando chove, não tem nenhuma abertura para a água escorrer. Alaga tudo.”

As precipitações no Distrito Federal devem se estender até abril, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia. O relatório da Defesa Civil foi divulgado em outubro de 2018. Em comparação com 2017, uma nova região foi adicionada à lista com problemas graves: Sobradinho I. Outras, no entanto, representam uma situação antiga. O Metrópoles percorreu alguns desses pontos, buscando mostrar os dilemas das pessoas que vivem sob risco iminente.

O vice-presidente da Associação de Moradores de Santa Luzia, Joab Gomes, descreve o sentimento da população local: “Estamos revoltados com toda a situação aqui”. Ele diz que, com as chuvas, o local vira um “rio” (veja o vídeo abaixo). Além disso, o lixo acumulado pelo serviço de coleta, que é insuficiente, é arrastado pela água, abrindo margem para diversas doenças. “O SLU [Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal] vem e faz o trabalho deles, mas, infelizmente, não dá para levar tudo. O que fica precisamos queimar, porque sabemos que é perigoso.”

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Outro risco na área listado pela Defesa Civil é o de eletrocussão. Quem vive em Santa Luzia afirma que as quedas de luz são constantes. Os fios dos postes ficam em uma altura baixa, e os transformadores, às vezes, são desativados pelos próprios moradores, que tentam resolver o problema.

O administrador regional da Estrutural, Germano Leal, reconhece a angústia dos moradores, mas alega ter dificuldades para fazer alguma coisa porque a região não é regularizada. “Não está fácil. No entanto, a área está fora da poligonal, além do alcance da administração. Qualquer trabalho que precise ser feito requer uma série de autorizações.”

Leal disse que existe uma decisão judicial para retirar os moradores de Santa Luzia, mas a administração trabalha para encontrar uma solução para o problema. “São cerca de 25 mil pessoas vivendo no local. Estamos trabalhando forte para achar um caminho”, ressalta.

A Defesa Civil considera como risco áreas com as seguintes características: proximidade a córregos e outros cursos de água; ausência ou precariedade de sistemas de drenagem de águas pluviais; falta de saneamento básico; fragilidades nas construções; localização de residências em lugares com declives acentuados; invasões ou ocupações em áreas de proteção ambiental; acúmulo de resíduos sólidos (entulhos e restos de obras) em locais inadequados; entre outras.

Nível vermelho
Dorothy Stang, área próximo à Sobradinho I, foi adicionada ao levantamento da Defesa Civil em 2018 e classificada como nível vermelho – risco muito alto. Na região, existem 211 residências sob a possibilidade de alagamentos e enxurradas.

Maria Madalena Silva, 54 anos, tem um comércio na região desde que a comunidade começou a se formar, em 2015. “Aqui era só mato. Chegamos e fomos construindo”, conta. Segundo ela, a chuva costuma enfraquecer as vendas porque a força da correnteza (veja vídeo acima) impede as pessoas de transitarem pelas ruas.

Nas proximidades do estabelecimento, assim como na maior parte de Dorothy Stang, não há asfalto. Esse cenário afetou a moradora Juscélia Delmondes, que em dezembro de 2018 precisou ser socorrida por vizinhos durante um temporal. “Ficou tudo inundado e eu não conseguia sair com meus dois filhos pequenos”, lembra. “Abriram um buraco no fundo do barraco para que a água saísse.”

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Arte/Metrópoles

Para o presidente da Associação de Moradores de Dorothy Stang, Marcos Wesley, o maior problema não é a chuva em si, mas a água que  desce do Nova Colina e atinge as residências.“A água sai de uma adutora, que foi feita porque o Nova Colina não tem escoamento, e vai para a BR. Se tampar a adutora, acaba todo o problema do Dorothy nessa questão”.

Ele calcula que 6,2 mil pessoas vivam no lugar. “Não somos grileiros. É necessária a implementação de um sistema de moradia”, defende. “Hoje, precisamos ser vistos. Aqui o que acontece é um descaso do governo, da Caesb e da administração anteriores. Antigamente, fizeram o desvio da água que desce do Nova Colina. Quando chove, lá não tem local para escoar. Na época, tomaram essa medida e nos deparamos com essa área quando viemos para cá. Sempre houve essa situação. É um problema muito simples de resolver, mas precisamos de ajuda do governo”.

Apesar disso, o chefe de gabinete da administração de Sobradinho I, Cícero Lima, afirma que não existe a possibilidade de legalização da comunidade. De acordo com ele, a inviabilidade se deve às circunstâncias de formação da invasão. “Seria preciso um estudo de impacto. No entanto, o local, por ter sido construído a partir do nada, não possui infraestrutura.”

Vila Cauhy
O morador Valdenilson Gomes, 43, diz presenciar há quatro anos enchentes na Vila Cauhy, localizada no Núcleo Bandeirante. A região tem 76 áreas de risco, segundo o relatório da Defesa Civil. De acordo com ele, há uma erosão no córrego próximo às casas e, com a retomada das chuvas, a comunidade está preocupada. Alguns vizinhos, inclusive, já tiveram as residências inundadas e perderam móveis e eletrodomésticos.

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A preocupação é compartilhada por Elizimar Sousa, comerciante de 49 anos. A rua onde ela mantém um pequeno mercado foi pavimentada há cerca de um ano. “Antes, a água levava tudo. Se não fosse o asfalto, estaríamos na lama.” No entanto, na frente da casa onde ela mora ainda não há sinal de obras.

A Administração Regional do Núcleo Bandeirante informou que medidas estão sendo estudadas para melhorar a infraestrutura da região e amenizar os transtornos causados pela chuva.

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