metropoles.com

Carnaval: instituto que recebeu R$ 3 mi da Secretaria de Cultura tem mesmo CNPJ de escola de samba vencedora

ICPec recebeu R$ 3 milhões da Secretaria de Cultura para organizar o Carnaval. O instituto tinha o mesmo CNPJ da vencedora do desfile

atualizado

Compartilhar notícia

Reprodução/Facebook
Organização que recebeu R$ 3 mi do GDF para administrar carnaval tinha mesmo CNPJ de escola de samba vencedora
1 de 1 Organização que recebeu R$ 3 mi do GDF para administrar carnaval tinha mesmo CNPJ de escola de samba vencedora - Foto: Reprodução/Facebook

O Instituto Candango de Política Social e Econômica Criativa (ICPec) recebeu R$ 2.990.000 do Governo do Distrito Federal, por meio da Secretaria de Cultura, para administrar todo o evento dos desfiles das escolas de samba do Carnaval fora de época, entre os dias 23 e 25 de junho deste ano. Entretanto, a organização de sociedade civil responsável por gerir os quase R$ 3 milhões tinha, até o dia 11 de maio deste ano, o mesmo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do Grêmio Recreativo Carnavalesco de Vicente Pires (Gruvipi), justamente a vencedora do grupo de acesso do Carnaval de Brasília. O estranho conflito de interesses chamou a atenção.

0

O ICPec foi o responsável também por pagar os jurados do desfile, que acabaram concedendo o título ao Gruvipi, grupo do qual faziam parte. Apesar da mudança, o CNPJ da escola de samba que consta no Mapa das Organizações da Sociedade Civil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é o mesmo da ICPec. Além disso, as instituições estariam cadastradas no mesmo endereço.

0

Cada escola de samba do grupo de acesso recebeu o valor de R$ 211 mil do governo como subsídio para fazer o desfile. Não há premiação em dinheiro, somente troféu, mas o Gruvipi receberá R$ 422 mil no próximo ano por ter vencido o Carnaval e passado a integrar o grupo especial.

0

No total, 13 agremiações desfilaram em uma passarela montada no Eixo Cultural Ibero-Americano.

Administração do Carnaval

No dia 7 de fevereiro de 2023, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (Secec) do Distrito Federal, comandada pelo secretário Bartolomeu Rodrigues, abriu um edital de chamamento público para realizar os desfiles das escolas de samba. A parceria tem duração de seis meses, a partir da assinatura do termo de colaboração, prorrogáveis por até 12 meses.

O teto estimado para a realização do edital era de R$ 7 milhões, divididos em duas categorias. A categoria B era responsável pelo “projeto voltado à organização, produção e estruturação dos desfiles na avenida e de eventos”. Para isso, foram destinados R$ 2.990.000.

O Instituto Candango de Política Social e Econômica Criativa foi a organização escolhida para a categoria B. O resultado definitivo foi compartilhado na Edição nº 56 do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), de 22 de março de 2023.

Cerca de um mês depois, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) entrou com pedido de medida cautelar pela existência de possíveis irregularidades no edital. Até esse momento, o ICPec e o Grêmio Recreativo Carnavalesco de Vicente Pires eram exatamente a mesma organização.

Questionada sobre a indicação do tribunal, a Secretaria de Cultura destacou que todo o processo passou pelo “crivo do TCDF, sobretudo em relação às Organizações da Sociedade Civil que participaram do chamamento público”. O termo de colaboração entre a secretaria e o ICPec foi celebrado em 19 de maio.

Atribuições e gastos

No Plano de Trabalho, que reúne as atribuições do ICPec, o objetivo geral indicado era “realizar a organização, produção, estruturação dos desfiles na avenida e de eventos correlatos entre os dias 23 e 25 de junho de 2023, com apresentações culturais nacionais e locais, além do desfile de 13 agremiações vinculadas a 13 regiões administrativas, oferecendo conforto e segurança para o público presente”.

O Instituto Candango de Política Social e Econômica Criativa devia regularizar a contratação da equipe de RH, advogado, jurados, contabilidade, comunicação, equipe de apoio, serviços e estruturas.

A organização de sociedade civil deveria pagar as diárias, as refeições e os cachês dos jurados. Seriam as mesmas pessoas que decidiram dar o título à Gruvipi.

Presidente e troca de CNPJ

Ex-presidente do Grêmio Recreativo Carnavalesco de Vicente Pires (Gruvipi) e atual administrador do ICPec, Luciano Garcia comentou que decidiu separar as instituições após o pedido do TCDF: “Naquele momento de análise, o Tribunal de Contas, ainda sendo o mesmo CNPJ, declarou que não existia uma ilegalidade. No entanto, eu identifiquei a maldade das pessoas, quando elas fizeram essa ligação. Após o edital, eu separei as organizações”. 

O homem indicou qual seria o novo CNPJ da agremiação, mas o nome social da empresa ainda não é o da Gruvipi. Ele também ressaltou que a questão de serem as mesmas instituições não contraria a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, que estabelece os acordos entre o governo e organizações de sociedade civil. Garcia deixou a presidência do Gruvipi em maio deste ano, um mês antes dos desfiles das agremiações, quando as sociedades se separaram.

No edital, a vencedora da categoria A, responsável pelas fantasias e pelos adereços, foi a União das Escolas de Samba de Brasília (Uniesb). Segundo o atual administrador do ICPec, quem deu prêmio para a agremiação de Vicente Pires foi a Uniesb.

Luciano Garcia chegou a desfilar pela Gruvipi neste ano. “Eu fiz um Carnaval para ser competitivo. Não porque eu estou fazendo a produção do evento que eu teria essa parte para me beneficiar. Não existe nenhum conflito de interesse nisso. O que existe hoje são pessoas que se sentiram prejudicadas, não gostaram do resultado, e estão querendo imputar uma coisa que já foi discutida no tribunal de contas”, afirma o administrador.

0

Questionado sobre sua atual ligação com a escola de samba e os seus líderes, Garcia disse: “Eu sou fundador do Grêmio. Então, como é que um sócio-fundador não vai ter relação com alguém que ia entrar? Nós somos uma comunidade, que trabalhamos junto. Isso aí é meu direito, ninguém pode me tirar”.

“Você está falando de uma pessoa que construiu isso, que foi sócio-fundador desde 2013. Desde lá, eu trabalho junto com a minha comunidade e com as pessoas que estão no Grêmio Recreativo. […] Eu conheço o presidente atual, até porque eu acho que, no caso da presidência, tem que ser alguém que vai ter a mesma vontade que você, a mesma liderança, para que ela continue fazendo o mesmo trabalho”, pontuou.

Posicionamento da Secretaria de Cultura

Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Cultura do DF afirmou: “Não há relação entre o ICPec e o Grêmio Recreativo Carnavalesco Unidos de Vicente Pires, o Gruvipi, que é uma escola de samba e fez um excelente carnaval. A escolha das campeãs é feita pelo júri, cujos integrantes foram escolhidos pela secretaria. Em nenhum momento os dirigentes do ICPec tiveram acesso ao júri. O julgamento foi justíssimo, a diferença foi pequena da primeira para a segunda colocada”.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?