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Arenaplex: ao firmar contrato, Ibaneis defende revisão em área tombada

O governador disse que tem trabalhado em conjunto com Iphan para que algumas regras sejam revistas na área central de Brasília

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Mané Garrincha. Brasília(DF), 16/02/2018
1 de 1 Mané Garrincha. Brasília(DF), 16/02/2018 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou, na tarde desta sexta-feira (26/07/2019), o contrato de concessão à iniciativa privada do Estádio Mané Garrincha, Ginásio Nilson Nelson e Parque Aquático Cláudio Coutinho. O projeto da chamada Arenaplex prevê a construção de um boulevard na região e reformas em todas as instalações do completo.

Durante a cerimônia, o governador falou sobre o tombamento de Brasília. “Temos que parar com essa hipocrisia boba de que Brasília está tombada e, em virtude disso, deixaremos famílias passarem fome. Em nome disso, a cidade vai ficar atrasada e não concordo. Chegou a hora de transformar Brasília”, disse.

Disse, porém, que não quer desconfigurar a capital do país. “Mas tem coisas que estamos trabalhando com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que podem ser revistas. Por exemplo, na Esplanada não tem um banheiro. Não prejudicaria a cidade construir banheiros ali”, ressaltou.

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Ibaneis defendeu projetos como o uso misto do Setor Comercial Sul. “Por que eu não posso colocar gente para morar no Setor Comercial Sul? Aí querem que eu coloque a polícia onde não tem e tire de onde vai ficar o povo. É assim que está uma cidade que ficou velha com 60 anos”, assinalou.

Com um histórico controverso, marcado por escândalos e impasses judiciais, o Estádio Nacional Mané Garrincha será repassado gradualmente à iniciativa privada. Nesta sexta-feira (26/07/2019), a arena reconstruída para a Copa do Mundo de 2014 que ficou nacionalmente conhecida pelo superfaturamento das obras vai ser gerida por meio de Parceria-Público Privada (PPP).

Os primeiros seis meses após a oficialização do acordo servirão como um prazo de transição, conforme solicitado pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Depois desse período, o grupo empresarial – que tem participação das empresas RNGD Consultoria de Negócios Ltda-EPP e Arena do Brasil Gestão de Estádios e Arenas Ltda. – passará a ter o controle total dos mais de 152 mil metros quadrados de potencial construtivo da região.

Única interessada a assumir o complexo esportivo , a Arena BsB terá uma missão para os 35 anos de gestão: criar condições competitivas para que a região se torne um negócio rentável. A empresa deverá investir quase R$ 700 milhões no empreendimento nos próximos quatro anos.

Com toda a área valorizada no centro de Brasília, os novos gestores terão de convencer investidores a transformar a área em um grande centro de entretenimento, esporte e cultura. No decorrer dos 35 anos de contrato, a empresa estima ter um gasto de cerca de R$ 1 bilhão, valor próximo dos custos para erguer a arena esportiva.

Centro de convivência

Proporcional ao tamanho do terreno, o projeto é audacioso: transformar a área em um espaço de convivência aberto 24 horas por dia, com cinema, teatro, bares, restaurantes, academia, quadras esportivas, lojas, clínicas, escritórios de advocacia e, ainda, duas casas noturnas. Como uma das primeiras etapas do processo, é prevista a reconstrução do Nilson Nelson. Outra medida imediata, segundo a Arena Bsb, será substituir o visual dos tradicionais paralelepípedos do complexo por um projeto paisagístico.

Há um cronograma definido para cada fase da gestão. A gestora prevê a instalação de equipamentos de lazer acessíveis e integrados pela proximidade ao Eixo Monumental, além de um comércio de apoio na região próxima ao Palácio do Buriti. O modelo é inspirado nas obras dos criadores de Brasília, e o consórcio estima arrecadar mais de R$ 3 bilhões, além de gerar 4 mil empregos diretos.

Reprodução
Projeto inicial do complexo: casas noturnas e de espetáculo, restaurantes e funcionamento quase 24 horas
Elefante branco

O estigma de elefante branco, que onera os cofres públicos anualmente em quase R$ 10 milhões, não foi obstáculo para convencer o consórcio. “Brasília é uma cidade carente de entretenimento e o estádio tem uma infraestrutura boa, que está muito judiada, mas requer um investimento marginal pequeno. Ele não faz feio em nenhum dos [quesitos] internacionais, além estar em uma das melhores localizações do Brasil e do mundo”, explicou ao Metrópoles Richard Dubois, presidente da Arena Bsb. “Para operar, falta gestão, o que nós temos de sobra”, completou.

Segundo ele, a Arena BSB tem potencial para trazer até 10 milhões de turistas a mais para Brasília por ano. “Queremos mostrar para o mundo que nossa cidade tem outras riquezas. Toda grande metrópole tem sua referência. A Lapa no Rio, o Champs-Élysées, em Paris… A partir de hoje, vamos brigar com todos eles”, prometeu.

O contrato obriga os novos gestores a pagarem, por ano, R$ 5,05 milhões ao GDF, além de 5% do faturamento geral do complexo. Em outras palavras, além de o governo local se livrar da dívida anual para a manutenção superficial da arena, passará também a receber pela exploração comercial do complexo. Para chegar à formação final, houve impasses burocráticos nas mais diversas esferas, incluindo no Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), o qual travou por quase um ano o edital de concessão. A liberação ocorreu após o conselheiro relator, Paulo Tadeu, incluir ressalvas para que o contrato seja revisto a cada cinco anos.

A tramitação burocrática na Companhia de Desenvolvimento do DF (Terracap) – atual gestora da arena – foi lenta. “Nós passamos por três presidentes da Terracap, seis diretores diferentes cuidaram do projeto, a equipe técnica mudou e nenhum servidor público acompanhou o processo inteiro, do início ao fim, por mudanças da administração ou realocação interna. Isso atrapalhou, já que cada um que entra tem uma visão. Foi um processo errático. Quatro anos é muito tempo, proporcional ao período em que um país como os Estados Unidos montaram e venceram uma guerra”, destacou Dubois.

 

Mudanças à vista

Com a parceria assinada, os novos gestores garantem a construção de um boulevard, um shopping de até três andares, a céu aberto. Nessa estrutura, há previsão de casas de espetáculos, boates, academia, clínicas desportivas e médicas, além de escritórios, restaurantes e lanchonetes. Os atuais estacionamentos serão substituídos por garagem subterrânea e não haverá acesso para veículos na área comum de pedestres.

Com energia fotovoltaica sobre o anel do Mané Garrincha, a expectativa é que o sistema abasteça todo o empreendimento de forma sustentável. A área em torno será urbanizada e haverá parque infantil e quadras poliesportivas, além de bicicletários e armários para guarda-volumes pessoais. A empresa cogita que boa parte do novo complexo de entretenimento esteja pronta em até quatro anos.

O projeto exato para a construção do boulevard será escolhido após um concurso nacional a ser realizado pelo grupo empresarial. Um vídeo (veja acima) busca explicar virtualmente a concepção de como os novos gestores pretendem transformar o local.

As alterações alcançam também o Ginásio Nilson Nelson, que perderá a arquitetura original e passará por uma espécie de “reconstrução”, de acordo com Dubois. Hoje em estado precário, o local será adaptado a fim de receber eventos para até 15 mil pessoas, e a arena principal – com capacidade para mais de 70 mil indivíduos – também sofrerá alterações internas para shows de grande porte, como os de turnês internacionais.

Haverá a contratação e o treinamento de uma primeira leva de empregados para trabalhar no complexo. A expectativa é gerar até 200 empregos diretos. Para essa fase, a equipe da Johan Cruijff e da Allianz Arena, de São Paulo, farão a consultoria.

Reprodução / Arena Bsb

Mané Garrincha

No caso da arena futebolística, a prospecção é que ela seja totalmente inteligente. A empresa prevê instalação de aparelhos de reconhecimento facial, aplicativo com GPS interno e localização de setores, além de sistema de segurança monitorado em tempo real. A expectativa é que as prestadoras de serviço usem as dependências do Mané para apresentar as tecnologias a possíveis interessados, tornando o local uma espécie de laboratório vivo (living lab), para que todos os produtos possam ser demonstrados em uma espécie de showroom.

Conforme as etapas previstas, segundo Dubois, nos próximos seis meses começarão as intervenções internas, como a construção de camarins para artistas, banheiros mais próximos do gramado e manutenção das áreas problemáticas. Além disso, há também o plano de instalação dos painéis solares no anel do estádio para captação de energia solar. Após os seis meses de transição, as obras começam a ser ampliadas em todo o complexo. De acordo com os novos gestores, após os 35 anos de vigência do contrato, todo o patrimônio construído será devolvido ao GDF.

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