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Além de negligência, mulheres relatam à PCDF humilhações em hospital

Pelo menos 11 casos estão sendo investigados, alguns envolvendo a morte de bebês no Hospital Regional de Samambaia

atualizado

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Reprodução/Arquivo pessoal
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1 de 1 lorrane - Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Os relatos de pacientes do Hospital Regional de Samambaia (HRSam) são de suposta negligência, mortes de bebês e humilhações. Responsável pelas investigações que têm como alvo pelo menos oito médicos da unidade de saúde, o delegado adjunto da 26ª DP (Samambaia Norte), Guilherme Sousa Melo, disse que as mulheres apontam casos de constrangimentos no decorrer de procedimentos na ala de obstetrícia.

Uma das vítimas chegou a relatar aos policiais que, após reclamar e gritar de dor durante atendimento, um médico disse: “Com um órgão (vagina) desse tamanho, do que ainda está reclamando?”. “São relatos constrangedores”, destacou o delegado. Em outro caso, uma idosa afirmou que um profissional a mandou calar a boca porque considerava que “ela perguntava demais”.

“O que conseguimos identificar é que as vítimas são pessoas carentes e procuram a unidade hospitalar para receber o atendimento que o Estado deveria lhes proporcionar e acabam sendo maltratadas por médicos. Isso está sendo apurado”, enfatizou o delegado. Até o momento, há registro de oito dessas situações em 2019 – no ano passado, foram três ocorrências.

Omissão e negligência

Entre os episódios, está o da autônoma Lorrane Stefany (foto em destaque), 19 anos, moradora de Santo Antônio do Descoberto (GO). Ela acusa a equipe médica do Hospital Regional de Samambaia de omissão, negligência e violência obstétrica. O marido da mulher denunciou a unidade de saúde à Polícia Civil após a morte do bebê deles durante o parto, em setembro de 2018. Na ocasião, o caso foi mostrado pelo Metrópoles.

De acordo com o pai da criança, a companheira esteve em trabalho de parto por mais de um dia. A jovem havia começado a sentir contrações cerca de um mês antes. À época, ela recorreu ao hospital público para atendimento médico. Porém, as aflições continuaram. Mesmo com dores, não foi internada. Conforme a denúncia, a equipe médica não quis deixá-la no HRSam sob o argumento de que somente poderia realizar o procedimento a partir da 41ª semana de gestação.

Sem conseguir respaldo médico, Lorrane recorreu a um hospital em Santo Antônio do Descoberto (GO), Entorno do DF. Em seguida, a unidade a encaminhou de volta para Samambaia com indicação de cesariana. No dia 18 de setembro de 2018, por volta das 17h30 – mais de 24 horas após a internação –, a jovem foi submetida a parto normal. O bebê morreu logo depois. Segundo a família, a tragédia ocorreu em razão de procedimentos inapropriados.

“Deixaram a tesoura enrolada no cordão umbilical na minha perna durante 20 minutos e eu exposta”, ressaltou Lorrane. Ela frisou que o seu caso não teve desfecho na delegacia porque os médicos e enfermeiras intimados não compareceram à unidade policial.

À época, por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal “lamentou profundamente o ocorrido” e informou que a paciente estava em trabalho de parto. “Porém, o bebê entrou em sofrimento durante o período expulsivo”. Na sequência, conforme comunicado da pasta, a equipe médica iniciou a reanimação neonatal. “No entanto, infelizmente, não houve resposta positiva do bebê”, diz trecho do texto.

Até o momento, oito médicos – homens e mulheres – estão sendo investigados. Há registro de duas ou mais ocorrências envolvendo um mesmo profissional. “Na semana passada, nós reunimos nove vítimas na DP para ter uma ideia da dimensão do que acontecia no HRSam, em relação a atendimento médico. Entre os casos, me chamou atenção um procedimento realizado que, de acordo com a vítima, teria causado a fratura da clavícula de um bebê”, salientou o delegado.

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Gaze esquecida

Outra situação envolve a avaliação de uma médica que declarou o óbito, sem fazer qualquer exame, de uma criança antes do parto – horas depois, o bebê nasceu vivo. Recentemente, após sofrer aborto espontâneo, uma paciente procurou a unidade de saúde para fazer curetagem – uma gaze cirúrgica foi esquecida no interior da mulher. “São casos graves e que merecem a atenção da PCDF”, assinalou o delegado Guilherme Melo.

Ainda segundo o policial, uma das consequências da diligência é apuração de casos que ainda não foram registrados. “Queremos ter uma dimensão exata de quem são os médicos que praticam isso. Precisamos também destacar que não são todos e que a direção do hospital está nos ajudando a identificar isso”, pontuou.

Se os laudos apontarem negligência médica, os profissionais poderão responder por omissão de socorro e homicídio culposo (sem intenção de matar). “Quando se faz uma avaliação, sem o mínimo de técnica, e isso gera a morte da criança, por ser tratar de profissional especializado, há sim uma responsabilidade indireta pela morte”, ressalta o delegado.

Alguns médicos já foram intimados e ouvidos. “Ainda é preciso levantar nomes de demais componentes das equipes, como técnicos de enfermagem, enfermeiros e outros, para que os relatos complementem as nossas investigações. Estamos programando oitivas para médicos e novos pacientes, que serão ouvidos ainda nesta semana”, acrescentou Guilherme Melo.

Preocupação

Após denúncias envolvendo pelo menos oito médicos do HRSam, o Metrópoles foi até a unidade de saúde. No local, os pacientes se mostraram preocupados e aflitos com a situação. A dona de casa Aline Castro de Oliveira, 36, conta que a nora estava internada para ter bebê nessa segunda-feira (15/07/2019), quando, por meio dos noticiários, soube das apurações. “Não tem como a gente não se preocupar com um parente internado prestes a ter um neném. Ainda mais sendo no mesmo hospital”, disse.

Aline relata que a grávida foi internada pela manhã e teve de ser transportada à outra unidade de saúde do Distrito Federal ainda na segunda, mas, horas depois, retornou ao HRSam. “Pensamos que poderia ter sido algo relacionado ao que estava saindo na mídia, mas eles alegaram superlotação. Agora, o meu neto já nasceu. Eles estão bem e ficamos aliviados. Vamos acompanhar os próximos passos atentos”, destacou.

O vigilante Cleber de Sousa, 38, disse também ter ficado apreensivo. “Não aguentamos mais escândalos na nossa saúde. Isso precisa acabar. Os pacientes precisam ter garantia ao bom atendimento. A minha mulher estava prestes a parir quando vimos tudo isso. É muito ruim para a população. A nossa maior preocupação é esse descaso, o que resulta em mortes”, assinalou.

Cleber comentou que a esposa chegou ao hospital às 17h de segunda e não recebeu atendimento imediato. Diante disso, eles resolveram ir ao Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Quando chegaram lá, a médica que fez a triagem pediu a ambulância do HRSam para buscar a paciente. “Nosso filho nasceu nesta manhã [16/07/2019]. Tivemos o suporte necessário, mas ainda assim ficamos aflitos com todas as notícias. Agora, estamos mais calmos”, afirmou o homem.

O que diz a Secretaria de Saúde

Por meio de nota, a direção do HRSam comunicou que “todas as providências estão sendo tomadas pela direção e pela Superintendência da Região de Saúde Sudoeste”. Ainda de acordo com o texto, “um processo sigiloso foi aberto no âmbito da Secretaria de Saúde”. A pasta não informou se os médicos investigados continuam exercendo suas funções.

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