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Falar de dor com gestantes aumenta o sofrimento do parto

Metodologia Gentle Birth defende que o sofrimento não precisa ser protagonista do processo

atualizado

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Man comforting pregnant woman during labor in ward
1 de 1 Man comforting pregnant woman during labor in ward - Foto: Istock

“Estou grávida e tenho muito medo das dores do parto” – durante toda a minha gestação, essa foi, provavelmente, uma das confidências mais comuns que ouvi de outras gestantes. Elas estavam marcadas por relatos de partos pesados nos quais tudo deu errado, e programas de TV onde só viram mulheres gritando em expressões profundamente agonizantes. Com um histórico assim, de fato, como poderíamos nos aproximar da ocasião com mais leveza, considerando ela um evento natural pelo qual nossa espécie vem passando desde sua origem?

O questionamento foi plantado na minha cabeça no último final de semana, enquanto participava de um curso de preparação para o parto da metodologia Gentle Birth (Nascimento Gentil). O método, nascido na Irlanda e recém-chegado a Brasília, usa as ciências do cérebro para tornar o parto uma experiência mais agradável para a mãe, pai e bebê. A dor não precisa ser protagonista do processo.

“É comprovado pela neurociência que a dor está no cérebro e não no local atingido. Nosso estado mental pode ser um grande aliado se tirarmos o foco do sofrimento – ou ampliar esse desconforto ainda mais quando concentramos nele”, explica Marianna Muradas. Ela trabalha usando a neurociência para reabilitar pessoas vítimas de traumas, auxiliar atletas a melhorarem sua performance e gestantes a passar pelo parto e a gestação – uma especialidade da saúde conhecida como Feldenkrais.

“O medo e a expectativa da dor do parto na nossa cultura já implica uma lupa dessa sensação fisiológica, a rotulando sempre como sofrimento ou ‘maior dor da vida’.”

Um estudo publicado nos EUA em 2005, por exemplo, monitorou o cérebro de voluntários enquanto um objeto quente era encostado em suas peles. Para alguns deles, se dizia que a temperatura do equipamento era bem maior do que de fato era. Resultado? Essas pessoas sentiam mais dor em comparação com os indivíduos receptores do mesmo estímulo, mas sem nenhum anúncio ser feito.

O mesmo raciocínio serve para o parto: quando reforçamos para uma gestante que o parto “dói muito”, “é a pior agonia da vida”, “você não vai aguentar”, o cérebro dela está, na realidade, se preparando para ampliar a sensação real, pois se trata de um momento de muita ameaça.

Tudo isso colabora para tantas mulheres brasileiras hoje acreditarem que não suportarão a dor do parto e imediatamente agendarem uma cesárea programada, apesar de todas as evidências mostrarem que o parto normal é mais seguro e deixa menos sequelas no corpo feminino e no bebê.

A Unicef, por exemplo, afirma que o alto índice de cesáreas agendadas nas semanas 37 e 38 de gestação, antes do início do trabalho de parto, são preocupantes no Brasil.

Crianças nascidas assim “são mais frequentemente internadas em UTI neonatal, apresentam problemas respiratórios, maior risco de mortalidade e déficit de crescimento”, afirma o relatório “Quem espera, espera”, publicado pela organização no ano passado.

Enquanto isso, mulheres que narram partos indolores e até orgásmicos são criticadas por fazer “falsa propaganda” para as demais. Será mesmo? A dor faz parte da experiência de parto da maioria das mulheres, de fato. Mas também o faz um banho de hormônios do prazer como endorfina e ocitocina; uma sensação de poder maravilhosa por vencer um desafio, similar a dos atletas após uma competição; a alegria de colocar uma pessoa no mundo da forma mais segura possível, entre tantas outras maravilhas.

Não ganharíamos muito acentuando também esses aspectos do parto como um gesto de saúde pública?

Serviço
Workshop de preparação para o parto Gentle Birth; Avenida Pau Brasil, 6 Águas Claras DF/ Edifício E – Business – Sala de reuniões. Em frente a estação Águas Claras do metrô. Turma 1, sábado, dia 28 de julho, gratuito; Turma 2, 4 e 5 de agosto, R$ 550, inscrições aqui.

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