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Sexo? Não, obrigado(a). Entenda como funciona a assexualidade

Assexuais são pessoas que, ainda que possam se apaixonar e ter autoprazer, não sentem atração sexual por outros indivíduos

atualizado

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Casal na cama
1 de 1 Casal na cama - Foto: Foto: Getty Images

Na última terça-feira (10/03), o participante Victor Hugo foi eliminado da casa do Big Brother Brasil. Ao entrar no reality, o brother chamou atenção por se apresentar como assexual. Assim que o assunto foi levantado, muitas pessoas – tanto o público quanto os integrantes da casa – ficaram curiosas sobre do que se tratava.

A assexualidade é uma orientação sexual, com a principal característica de que a pessoa não sente vontade de engatar comportamentos sexuais com outras. De acordo com o terapeuta sexual André Almeida, não é uma questão de escolher não fazer sexo, mas sim a não existência da vontade.

“Diferente do celibato, que é a escolha consciente de não fazer sexo, a assexualidade é inerente ao indivíduo. No caso, a pequena ou mesmo a completa falta de atração sexual é natural daquela pessoa”, explica o especialista.

Vale ressaltar que a orientação também se diferencia da síndrome do desejo sexual hipoativo, que é uma disfunção de saúde, em que a libido desaparece por motivos psicológicos ou físicos.

Assexual ou assexuado?

Outra confusão comum em relação aos aces – como são chamados os assexuais dentro da comunidade – é que muitos ainda o chamam de assexuados. Contudo o termo é usado para designar organismos que não têm divisão clara de sexo por não terem órgão sexuais, ou que se reproduzem por outras formas em que não haja mistura de material genético.

Relacionamentos

Fica a dúvida: se assexuais não sentem atração sexual, então eles não entram em relacionamentos, certo? Errado. O que eles não sentem é a vontade de transar com outras pessoas, mas podem se envolver afetivamente por alguém. “Uma pessoa assexual pode ter as mesmas necessidades afetivas e emocionais que qualquer outro indivíduo”, aponta André.

Mesmo assim, nem tudo é “preto no branco”, e não há regras para a assexualidade. Fato este que, de acordo com o terapeuta, fez com que surgissem diversos espectros diferentes da orientação.

“Nada é oito ou 80, temos pessoas que se identificam como assexuais mas estão na chamada ‘área cinza’ – não são estritamente assexuais, mas experimentam aspectos da assexualidade. É uma área de muito debate, inclusive na própria comunidade assexual. Um exemplo é o Demissexual, que só sente atração sexual por um indivíduo quando há um forte laço emocional”, diz.

A comunidade

Mundo afora, representantes e militantes da comunidade assexual se organizam para consolidar a luta por mais reconhecimento, além de terem o objetivo de informar e esclarecer dúvidas – não só de membros e pessoas que se identificam, mas do público geral.

Isso acontece tanto em escalas maiores, como nos sites Assexuality.org e Assexualidade.com.br, quanto em grupos menores. Um exemplo é o Assexuais do Distrito Federal, que reúne 165 aces da cidade.

Ju Di, uma das administradoras do grupo, diz que iniciativas assim são importantes para dar suporte a quem está se descobrindo. “Lá nós conversamos sobre a assexualidade, debatemos memes, marcamos encontros. Temos também um grupo de WhatsApp. Usamos o canal para a comunicação do dia a dia, e o Facebook para debates e coisas mais formais”, explica.

“Aqui no DF já tivemos alguns encontros, o último ocorreu na UNB. Em um encontro Ace não pode faltar comida, pois costumamos falar que bolo de chocolate é melhor que sexo”, brinca.

O alívio da descoberta

A brasiliense, de 24 anos, conta que ficou aliviada quando descobriu que existia toda uma comunidade igual a ela. “Eu me questionava se havia algo errado comigo e cheguei a ir em uma ginecologista para ver se eu tinha algum problema hormonal. Mas essa possibilidade foi descartada por um exame”, lembra.

Após anos engatando comportamentos sexuais – tanto em um relacionamento quanto em situações casuais -, e até mesmo tentando também com garotas para tentar sentir alguma coisa, Ju chegou à conclusão de que é uma birromântica assexual. “Entendi que tenho atração romântica pelos dois sexos, mas não tenho atração sexual”, revela.

Apesar da maior informação e divulgação, a jovem compartilha que ainda existem muitas ideias erradas e dúvidas sobre a assexualidade. “Uma coisa que bagunça muito a cabeça das pessoas é descobrir que existem aces que se masturbam. Por algum motivo as pessoas não conseguem separar a masturbação da relação sexual”, aponta.

E, ao contrário do que se pode pensar, Ju acredita que é possível, sim, um assexual se relacionar com um alossexual – que é como chamam as pessoas que sentem tanto atração afetiva quanto sexual. “Conheço um casal de ace e alo que está junto há mais de cinco anos. Tudo é possível com respeito mútuo e muita conversa”, garante.

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