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Macron admite enviar tropas para a Ucrânia. É um ponto de inflexão

Os governantes brasileiros não fazem ideia do que a declaração de Macron significa. Desenho: a Terceira Guerra já ultrapassou o seu prefácio

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Antoine Gyori – Corbis/Corbis via Getty Images
Foto colorida do presidente da França, Emmanuel Macron, com a testa franzida - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do presidente da França, Emmanuel Macron, com a testa franzida - Metrópoles - Foto: Antoine Gyori – Corbis/Corbis via Getty Images

O presidente francês Emmanuel Macron não descartou enviar soldados para a Ucrânia. Ele admitiu a possibilidade depois de um conferência internacional, em Paris, que tratou sobre o aumento efetivo da ajuda militar ao país invadido pela Rússia. 

Embora não haja consenso entre os integrantes da OTAN a respeito da entrada direta no conflito, a declaração de Emmanuel Macron já representa um ponto de inflexão. Meses atrás, ela seria impossível.

O fracasso da contraofensiva ucraniana e o avanço russo no Leste, além do assassinato de Alexei Navalny, acenderam o alerta vermelho na França. Demorou. Ainda falta ser aceso na Alemanha. Volodymyr Zelensky sempre teve razão ao reclamar que não recebia armas e munição suficientes para combater a Rússia. 

A Ucrânia enfrenta dificuldades com os republicanos nos Estados Unidos, mais preocupados com o afluxo de imigrantes ilegais que entram pela fronteira com o México, e vinha padecendo da ajuda tíbia da Europa Ocidental, à exceção do Reino Unido. Agora, os europeus parecem dispostos a encarar a verdade: a Ucrânia luta pelo Ocidente, não apenas por si própria. Vladimir Putin não vai parar por aí.

Nenhum político ou governante brasileiro, com as poucas exceções de praxe, faz ideia do que está ocorrendo na Europa. Vou desenhar: a Terceira Guerra Mundial pode ultrapassar o seu prefácio de conflitos de alta intensidade na Ucrânia, em Gaza e com a perspectiva de ainda termos uma invasão de Taiwan, que a China considera ser província rebelde. A desaceleração da economia chinesa e a constatação de que o país depende ainda muito das exportações tecnológicas americanas detiveram um pouco os ânimos belicistas do camarada Xi Jinping. Mas nada está garantido.

Guerras mundiais começam antes das datas dos seus estopins, com enfrentamentos que são capazes de arrastar aliados de ambos os lados. A Primeira Guerra começou no final do século XIX, com as pretensões neocolonialistas de Alemanha e Itália; a Segunda Guerra Mundial começou em 1918, com o Tratado de Versalhes que humilhou os alemães, resultou na República de Weimar, nascida para fracassar (salvo na literatura), e abriu caminho para Adolf Hitler. Outro ponto: as Guerras Mundiais sempre tiveram o seu epicentro na Europa, espalhando-se para a Ásia logo em seguida.

O Ocidente esqueceu a história quando não deu uma resposta firme à invasão da Crimeia, em 2014. A partir dessa agressão, Vladimir Putin sentiu-se livre para ir adiante, assim como quando Adolf Hitler anexou a região dos Sudetos, que pertencia à Tchecoslováquia, com o beneplácito de Reino Unido e França. Depois chegou a vez de a Polônia ser invadida pelos nazistas.

Se o Ocidente tivesse mandado soldados para a Ucrânia oito anos atrás, a invasão de 2022 não teria ocorrido. Delinquentes como Vladimir Putin têm a mesma psicologia de um valentão da rua. Se você mostra medo, ele vem para cima; se você mostra destemor, ele recua.

Os militares enviados para a Ucrânia pela França, por meio de aliança bilateral, seriam, primeiramente, técnicos de manutenção de armas e pessoal médico. Não nos iludamos, contudo: eles abririam a porta para que tropas entrassem. Com a sua declaração, Emmanuel Macron quis mostrar a Vladimir Putin que há limites para as suas pretensões. A questão é que a agressão talvez já tenha ido longe demais para que o tirano russo aceite uma derrota sem dobrar a aposta e cometer a loucura de recorrer ao seu arsenal nuclear.

Qual seria a posição do Brasil se estourasse uma guerra de proporções planetárias? Com Lula, a princípio, estaríamos do lado dos bad guys, mesmo declarando neutralidade. Ainda bem que há os Estados Unidos para fazer o Brasil mudar de ideia. O fazendão é importante para os americanos vigiarem o Atlântico Sul e, claro, para produzir comida.

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