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Ao ameaçar Sergio Moro, o PCC golpeia o relativismo moral

Para a facção, está claro que polícia é polícia, bandido é bandido, como água e azeite, não se misturam. E o PCC não duvida: Moro é polícia

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
PCC Ex-juiz Sergio Moro chega no evento de lançamento da pré-candidatura à presidência da república do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar
1 de 1 PCC Ex-juiz Sergio Moro chega no evento de lançamento da pré-candidatura à presidência da república do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Ao planejar o assassinato do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro e de sua família, bem como o do promotor paulista Lincoln Gakiya, para vingar-se de ambos, notórios combatentes do crime organizado, o PCC mostra que o relativismo moral e institucional que contamina o país é uma falácia.

Em outras palavras, “bandido é bandido, polícia é polícia, como água e azeite, não se misturam”, e não há relativização capaz de esconder esse fato. A frase é do bandido Lúcio Flávio Villar Lírio, o assaltante de bancos bonitão e proveniente da classe média, que entraria no imaginário brasileiro, esse imaginário povoado de ladrões travestidos de mocinhos, depois de ser morto na prisão, em 1975, com 28 facadas. Ao dizer que bandido e polícia são como água e azeite, ele se referia aos policiais corruptos cuja farda não os tornava diferentes dos criminosos assumidos.

Quando estava no Ministério da Justiça, Sergio Moro transferiu para presídios federais, teoricamente mais seguros, 113 lideranças do PCC, inclusive o chefe supremo da facção, o Marcola. Isso o tornou alvo preferencial, da mesma forma que o promotor Lincoln Gakya, que enfrenta o PCC desde há muito. Antes disso, Sergio Moro foi juiz de processos contra corruptos e lavadores de dinheiro poderosos.

No âmbito da Lava Jato, colocou muita gente graúda na cadeia, como Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente da República, cujos processos foram anulados pelo STF, porque Sergio Moro seria suspeito para julgá-lo. Desde então, o ex-ministro e juiz vem sendo vilipendiado por autoridades, advogados dos réus, jornalistas e a turba petista, numa inversão de valores impressionante até mesmo para os largos padrões nacionais. Inversão que resultou também na relativização moral e institucional a que assistimos no país, em grau inédito.

Um dia antes de a PF realizar a operação que revelou o plano de assassinar Sergio Moro e a sua família, além do promotor Lincoln Gakya, o presidente da República que foi condenado pelo ex-juiz deu uma declaração incompatível com a liturgia do cargo. Lula disse, em entrevista a blogueiros amigos, que, enquanto estava na cadeia, só pensava em f… Sergio Moro. Foi fruto de um acaso infeliz que à entrevista do presidente da República se seguisse a ação da PF. Ela revelou que, à sua maneira, o PCC também queria f… Sergio Moro. Uma coisa nada tem a ver com a outra, mas a exploração política e indevida do fato será inevitável.

Deixe-se de lado a gritaria nas redes sociais, mas não percamos de vista que o PCC golpeou o relativismo moral e institucional que reina no país. Polícia é polícia, bandido é bandido, como água e azeite, não se misturam. A facção nunca teve dúvida: Sergio Moro, com todos os erros políticos que cometeu, continua a ser polícia. Polícia para quem precisa de polícia.

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