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Após morte de homem negro, Carrefour anuncia cláusula antirracista

Anúncio foi feito pelo CEO do grupo, Noel Prioux, durante evento on-line, quando apresentou também pesquisa sobre racismo no Brasil

atualizado

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live carrefour
1 de 1 live carrefour - Foto: Reprodução / Youtube

O Grupo Carrefour Brasil anunciou, nesta quarta-feira (28), a inclusão de uma cláusula antirracista em todos os contratos de fornecedores e uma política de tolerância zero ao racismo. A confirmação ocorreu durante um evento on-line comandado pelo CEO do grupo, Noel Prioux, para debater o combate ao preconceito racial nas corporações e, ainda, a promoção da equidade.

A informação ocorre no mesmo dia em que a rede de supermercados informou ter depositado R$ 1 milhão para Milena Alves, viúva de João Alberto Silveira Freitas, o João Beto, assassinado, em novembro do ano passado, na frente de uma unidade do supermercado, em Porto Alegre (RS).

“Queremos que todos que se relacionam com o Carrefour adotem as melhores práticas, apoiem iniciativas e incentivem mudança de comportamento. Não basta combater o racismo, é preciso ser antirracista”, afirmou Prioux.

A cláusula faz parte de uma série de 72 iniciativas reunidas em oito compromissos públicos para o combate à discriminação e inclusão de negros e negras, assumidos pela empresa como forma de contribuir para o enfrentamento do racismo no Brasil desde novembro, após o assassinato de João Beto.

O evento contou com a participação de Marcelo Melchior e Juliana Azevedo – CEOs da Nestlé e da P&G, respectivamente –, Rachel Maia e Adriana Barbosa – do PretaHub –, além de Silvio Almeida e Celso Athayde, da Central Única das Favelas (Cufa).

“Se olharmos para o nosso cotidiano, vamos perceber que tornamos como absolutamente normal a não convivência com pessoas negras e a não convivência com pessoas indígenas. Ou seja, nós naturalizamos a ausência de determinados grupos sociais, especialmente em espaços de tomada de decisão”, disse Silvio Almeida, também autor do livro Racismo Estrutural.

Durante a live, a empresa também apresentou as novas diretrizes para a segurança interna e revelou investimento de mais de R$ 5 milhões para a nova fase. De acordo com o grupo, a segurança interna das lojas passou por mudanças, como internalização dos agentes de fiscalização e implementação de um novo modelo.

“Estamos hoje aqui para assumir de forma clara, firme, transparente, o nosso compromisso, assumindo papel de liderança no setor e compartilhar com todos o que estamos aprendendo, combatendo o racismo”, enfatizou o CEO do grupo.

Pesquisa

No evento, o Instituto Locomotiva apresentou uma pesquisa encomendada pelo Carrefour sobre a diversidade nas corporações brasileiras. O levantamento – realizado por telefone, com 1.630 entrevistados em 72 cidades do país, no mês de abril – aponta que, ainda não há clareza na população sobre o caráter estrutural do racismo: cerca de 64% dos entrevistados acreditam que o racismo é fruto da ação de indivíduos e não de uma cultura de exclusão.

Os dados mostram que cerca de 86% da população concorda que, para empresas venderem para todos, precisam respeitar a diversidade racial. Sobre o mercado de trabalho, 76% dos brasileiros consideram que pessoas negras são discriminadas.

“O racismo é estrutural, e para combatê-lo é preciso ter tolerância zero. O brasileiro precisa enxergar o racismo na sociedade e os impactos que ele traz. Existe um mercado gigantesco de pessoas que estão discriminadas e não atendidas e, mais do que isso, seguidas em supermercados, sofrendo violência policial e mais. A promoção da diversidade nas empresas é um dos caminhos para mudar esse cenário”, disse Renato Meirelles, fundador do instituto Data Favela.

Ainda conforme o levantamento, mais de 52% dos trabalhadores pretos e 26% dos negros (que também inclui pardos) já sofreram preconceito no ambiente de trabalho. Ainda, 57% dos trabalhadores brasileiros presenciaram uma pessoa negra sendo discriminada ou humilhada em seu ambiente de trabalho. Entre os trabalhadores negros, são 67% que já presenciaram essa discriminação. No salário, trabalhadores “não-negros” ganham, em média, 76% a mais do que os negros.

A pesquisa ainda traz que a maioria dos brasileiros conhece alguém que foi vítima de preconceito racial: 61% dos brasileiros presenciaram uma pessoa negra sendo humilhada ou discriminada devido à sua raça/cor em lojas, shoppings, restaurantes ou supermercados, e esse percentual é de 71% no caso dos negros.

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