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Acusado de assédio é demitido da Embratur com carta de conduta ilibada

Documento é assinado pela direção da agência e foi elaborado para beneficiar Marcus Thiago, ex-coordenador do órgão, antes da sindicância

atualizado

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1 de 1 embratur - Foto: Google Street View/Reprodução

Alvo de uma sindicância que apura possível assédio sexual contra uma funcionária de 21 anos, Marcus Thiago de Oliveira Figueiredo foi demitido do cargo de coordenador-geral de Tecnologia da Informação da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) com uma carta de recomendação da instituição do governo federal. O desligamento ocorreu após o Metrópoles revelar o caso.

De acordo com o documento assinado pela direção do órgão presidido por Gilson Machado Neto, o ex-funcionário deixou a Embratur não havendo nada que desabonasse “sua conduta profissional” (veja fac-símile abaixo). A demissão do ex-coordenador de Tecnologia da Informação ocorreu antes mesmo de o processo administrativo interno chegar ao fim, conforme apurou a reportagem.

Embora tenha sido desligado da função, nesta quarta-feira (9/9), Marcus Thiago fez registo de um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Planalto. Ele estava com a equipe do Médicos Pela Vida, grupo que reúne dezenas de profissionais conservadores engajados na causa contra o aborto.

“Não sou médico, um dos únicos dessa equipe que não é, mas tenho a honra de fazer parte do Médicos Pela Vida e hoje tivemos o prazer de sermos recebidos pelo presidente Bolsonaro para discutirmos medidas que ajudam nossa população”, escreveu ele em seu perfil do Instagram.

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Mensagens

Conforme o Metrópoles revelou, mensagens da plataforma atribuídas a Marcus Thiago revelam possíveis investidas contra uma secretária a partir de agosto de 2019, apenas dois meses após o gestor tomar posse no cargo público.

Os diálogos que integram um processo administrativo foram obtidos com exclusividade pela reportagem e escancararam a modus operandi já reconhecido nesses tipos de crime: a estratégia de ressaltar a importância da função para coagir a vítima a devolver, por meio de favores sexuais, uma possível ascensão no local de trabalho.

De acordo com a sindicância, as conversas perduraram por, pelo menos, um mês e, embora a postura da estudante não demonstre qualquer retribuição à investida do chefe, ele mantém uma constante obscena. A coluna preservou a identidade da vítima por decisão editorial.

“Vem aqui para a gente despachar, minha princesinha. Terminou? Vou ficar mal acostumado. Acho que esse mal costume é bom, hein. Estou sentindo o seu cheirinho aqui, acredita?”, teria ele iniciado a conversa num dos momentos mais suaves do diálogo.

“Quando chegar, venha dar um cheiro na minha sala. Assim, me apaixono ainda mais por essa princesinha. Quando o coronel sair, venha aqui por favor”, teria insistido o gestor, antes da confirmação monossilábica da auxiliar.

Em outro trecho, é possível identificar uma aparente sinalização de benesse no caso de a empreitada funcionar. “Já consegui sua vaga, viu? Quer conversar amanhã ou quer conversar hoje? Quer comer algo?”. Na resposta, a secretária recua do convite por mencionar uma festa de aniversário naquela noite.

Em outro momento, o perfil dispara novamente: “Vamos ser claros? Minha intenção para você é sexo?”, continua. A secretária confirma: “Estou interpretando mal? Se estiver, me desculpa”, reage. “Vou ser bem claro, tá? Você me desperta desejo, sim”, confessa.

No decorrer do enredo, os capítulos protagonizados pelo perfil com a foto do coordenador-geral de Informática da Embratur passam a ter um conteúdo ainda mais erótico.

“Tive um sonho contigo que acordei achando que era real”, iniciou. Quando a moça pede para saber o conteúdo, o perfil atribuído ao gestor continua: “Foi gostoso”. Após um aparente desprezo pela história, o interlocutor insiste: “Depois que eu tinha muitos orgasmos, eu te chupava todinha e você gozava muito na minha língua. E você pedia muita coisa. Gostou? Ficou excitada?”, registra trecho do diálogo.

Veja os diálogos:

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O que dizem os envolvidos?

A coluna tentou contato com a assessoria de imprensa da Embratur, que não respondeu sobre a emissão da carta declaratória. Por nota, explicou que a agência “é dotada de uma ouvidoria interna, de uma Gerência de Recursos Humanos e de uma Gerência Jurídica. Quaisquer processos internos que exijam apuração sobre condutas de colaboradores são realizados sob sigilo, com prazos também sigilosos, conforme legislação vigente.”

À Janela Indiscreta, a defesa de Marcus Thiago informou que os fatos inerentes à denúncia ocorreram em agosto de 2019. O advogado afirma que tem demonstrado dentro do processo que “ao longo da passagem dentro da Embratur o cliente foi realmente correto e que as conversas foram descontextualizadas e recortadas”.

Ainda segundo o advogado Carlos Duarte, a vítima permanece trabalhando na empresa, o que provaria que a relação do dois sempre foi amistosa, visto que o processo foi aberto apenas em julho de 2020 e nunca foi registrada nenhuma tentativa de utilização do cargo para desligar a secretária.

Da mesma forma, o Palácio do Planalto foi procurado, mas não havia comentado o caso até a última atualização desta reportagem.

Atualização

Após a publicação da reportagem, a Embratur enviou uma nova nota de esclarecimento à redação onde enfatiza que “em atenção à garantia constitucional da presunção de inocência, nenhum sindicado ou acusado pode ser tido como culpado ou ter sua conduta desabonada antes da conclusão definitiva de processo administrativo disciplinar em que lhe seja assegurado o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa”.

Ainda conforme o texto, a emissão da carta declaratória de inexistência de fatos que desabonem a conduta de colaborador desligado da agência, “ainda que eventualmente pendente de conclusão Processo de Sindicância ou PAD anteriormente iniciado, não implica em equívoco desta agência ou em declaração de inocência, mas tão somente de relato dos fatos efetivamente vivenciados até o momento de expedição da referida carta declaratória e de respeito à presunção de inocência que milita em favor de qualquer cidadão”.

A Embratur argumenta ainda que “fatos eventualmente apurados em Processo de Sindicância ou PAD em trâmite perante os órgãos competentes desta agência seguirão sendo investigados, com a adoção, caso necessário, de todas as medidas cabíveis em caso de demonstração de culpabilidade, inclusive com a remessa das conclusões eventualmente apuradas para os órgãos de fiscalização competentes, como a Controladoria Geral da união e o Ministério Público”.

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