Primeiro homem trans no SPFW é do DF: “Tinha medo do preconceito”
Sam Porto participou do desfile da Ellus, que abriu o evento, e está confirmado em vários outros na 48ª edição da semana de moda
atualizado
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Um talento de Brasília, em particular, está brilhando nas passarelas do São Paulo Fashion Week (SPFW). Sam Porto, de 25 anos, é o primeiro homem trans a desfilar no evento.
O jovem, que também está estreando em uma semana de moda, espera abrir portas para garotos trans que sonham com uma chance nesse segmento. Atualmente, ele concilia a carreira fashion com a vida de tatuador.
Na 48ª edição do SPFW, Porto já participou do desfile da Ellus, na abertura da programação, e também das labels Korshi 01 e Modem. Até sexta-feira (18/10/2019), ele está confirmado nas apresentações de marcas como Cavalera, João Pimenta, Apartamento 03 e Handred.
Vem comigo!
Nascido na capital federal, Sam modela para marcas há dois anos, e tem mais de 16 mil seguidores no Instagram. Dois meses atrás, por meio de alguns contatos, entrou no casting da agência Rock MGT, de São Paulo. O objetivo era tentar a semana de moda mais importante do país. Logo de início, antes do SPFW, teve oportunidade de abrir um desfile da À La Garçonne.
“Foi o primeiro que peguei quando pisei em São Paulo. Conheci Alexandre Herchcovitch em uma viagem que fiz, antes de vir para cá. Depois disso, ele entrou em contato com a agência e já fechou o desfile para eu fazer. Foi muito especial e ele é um querido”, contou à coluna.
Trans, o jovem pensou que seria difícil conseguir trabalhos em geral. No entanto, felizmente, as oportunidades o surpreenderam. A agenda do brasiliense inclui desfiles até o último dia do SPFW.
“Antes, eu pensava que não era para mim, porque tinha medo de sofrer preconceito, de olharem para mim e confundirem com alguém andrógino. Ou não me respeitarem e me colocarem na fila das meninas, o que não está acontecendo”, observou.





Sam reconhece que a moda passa por um momento mais inclusivo e de transformações significativas. Para ele, as garotas trans foram as primeiras a quebrarem as barreiras para a comunidade na indústria, de forma geral. Mesmo sonhando com as passarelas, ele não pensaria duas vezes em recusar um trabalho que o desrespeitasse:
“A primeira coisa que falei para todo mundo foi: ‘Não vou ficar onde não sou bem-vindo’. Não é porque quero participar que vou cooperar com o jeito que eles tratam as pessoas”, argumenta.
“Estou aqui justamente para abrir portas para quem não tem a oportunidade, espero representar muitos meninos trans que acham que não podem estar no mundo da moda. Temos que estar inclusos”, defende.
O desfile da Ellus é uma das conquistas recentes que o deixam orgulhoso. “Estou chocado, mas muito feliz. Século 21, quase 2020, e agora é que vemos entrar um trans nas passarelas do Brasil. Para mim, é um papel muito importante.”




A semana de moda paulistana nem acabou, mas o jovem brasiliense já está mirando eventos semelhantes – e do exterior. Questionado sobre quais são as marcas de luxo do estrangeiras para as quais gostaria de desfilar, Gucci e Versace foram as primeiras que vieram à mente.
Inclusive, ele está na expectativa de um casting internacional que participou recentemente. “O clima foi legal, nada constrangedor. Eles já trabalham com pessoas trans e gostam desse perfil. Fui respeitado e entendido, não me pediram nenhuma alteração corporal, nem nada. Foi incrível”, adiantou o modelo.
Sucesso, Sam!
Colaboraram Hebert Madeira e Rebeca Ligabue