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Após sair do Iesb, Marco Antônio Vieira se reinventa na moda e arte

Atualmente, o estudioso finaliza o doutorado e ministra cursos para pequenos grupos

atualizado

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Vinicius Santa Rosa/Especial para o Metrópoles
Entrevista professor Marco Antônio Vieira
1 de 1 Entrevista professor Marco Antônio Vieira - Foto: Vinicius Santa Rosa/Especial para o Metrópoles

A carreira de Marco Antônio Vieira na cidade é marcada pela incessante busca por novos conhecimentos. Conversar com o professor é sempre um prazer. Até os encontros informais se transformam em aulas.

Às vésperas de iniciar um novo curso sobre moda e arte na Galeria Ponto, a coluna encontrou com o acadêmico no Café Antonieta, na Asa Norte, para ele contar sobre a nova fase da vida, desde a sua saída da coordenação do Iesb, e de seus planos para 2018.

Marco Antônio chegou em Brasília adolescente e aqui começou sua trajetória profissional. Aos 48 anos, ele analisa tudo que viveu e garante não se arrepender de nenhuma de suas decisões.

O curador de arte formou-se em letras pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), trabalhou como professor de inglês e deu aula em renomadas universidades da cidade, fez mestrado em teoria literária, foi coordenador do curso superior de tecnologia em design de moda do Iesb e está prestes a concluir o doutorado em teoria e história da arte na Universidade de Brasília (UnB).

Além de estudar, ele ministra cursos para grupos particulares e em escolas especializadas. No semestre passado, deu aulas de curadoria na Galeria Ponto, que foram muito bem recebidas. No dia 13 de janeiro, irá começar um módulo de verão sobre a relação entre moda e arte.

“Fico pensando que sou um pouco louco. Tinha uma posição confortável em uma instituição sólida, mas meu espírito é muito selvagem. Não consigo ficar em um determinado lugar ‘juntando poeira’. Preciso me reinventar.”

Quer saber mais? Vem comigo!

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Como começou a sua história com a moda?
É algo muito misterioso. Quando mais jovem, era esquisito, um “patinho feio”. Para mim, as peças de roupa eram uma forma de expressar a minha rebeldia. Queria ser visto como alguém diferente.

Viajava bastante para São Paulo, então vi o nascimento do que, durante muito tempo, a gente compreendeu como moda brasileira. Era a época dos clubbers e travei contato com uma cultura extremamente extravagante, inventiva e vanguardista. Ali, conheci o Alexandre Herchcovitch e o Lorenzo Merlino. Comprava as roupas na casa deles, nem loja tinham ainda.

E a sua relação com a arte?
Estranhamente, foi por meio da literatura. Especificamente, pelos livros da Virginia Wolf, que considero extremamente imagéticos, pictóricos e visuais. A autora não se concentra naquele velho formato do romance do século 19, com começo-meio-fim e aprofundamento psicológico das personagens. Os textos dela são, acima de tudo, uma grande experiência estética.

Além de Virginia, gosto do cinema de Peter Greenaway, um diretor britânico que trabalha de maneira incomum e cuja abordagem está enraizada na história da arte. As imagens dele são bastante minuciosas e elaboradas. Não é um tipo de cinema interessante pelo enredo, mas pelo significado de cada cena, como uma espécie de composição visual, um segredo metafórico.

É muito interessante imaginar: um cineasta e uma escritora me levaram ao interesse pela arte!

Qual a sua designer preferida?
Tenho uma admiração profunda pela Rei Kawakubo, da Commes des Garçons. Acho incrível quem consegue, durante décadas, manter integridade na visão de mundo. A estilista começou no finalzinho dos 1970, em Paris. Ela trabalhava no Japão, mas, em 1978, mudou para a França e fez a sua primeira coleção – chamada carinhosamente de Hiroshima Chic. Rei mexeu nas máquinas de costura para as roupas serem descosturadas e puídas. Cada peça era desgastada de maneira distinta.

Nessa época, o mundo feminino era muito glamouroso, esbanjava cores berrantes, ombreiras e lycra. A estilista mudou tudo e apostou naquela austeridade conceitual. Por isso, Rei sempre me fascinou. Essas experiências menos óbvias da moda me interessam bastante. Ronaldo Fraga, por exemplo, também está concentrado nesse universo amplo. Os desfiles dele conversam com literatura, música brasileira e trazem uma visão mais poética de um mundo que, quando você analisa friamente, é muito superficial.

Depois de tantas experiência diferentes, em qual área você se encaixa melhor?
Trabalhar na fronteira entre arte e moda é onde a minha contribuição faz mais sentido. Não sou um blogueiro trocando de roupa diante de um espelho. Não digo isso de maneira pejorativa, até porque acredito que eles têm um papel determinante no mercado. Mas essa não é a minha função.

Prefiro olhar para fenômenos e manifestações da moda. Depois, tentar entendê-los com um pouco mais de profundidade. Ou seja, pensar na área como um campo de possibilidades reflexivas interdisciplinares e transdisciplinares. Procurando os aspectos sociológicos, psicanalíticos, simbólicos e históricos.

Vinicius Santa Rosa/especial para o Metrópoles


Você se imagina voltando a ocupar um cargo de coordenação em uma universidade?
Não me arrependo de ter saído. Porém, também não gostaria de deter um cargo gerencial em uma instituição de ensino novamente. Quero continuar dando aula e explorar, cada vez mais, o campo da arte. Talvez um concurso público para trabalhar como professor. Por enquanto, estou vivendo.

Só espero ser protegido e abençoado. Porque, apesar do meu envolvimento intelectual, tenho um profundo sentimento de religiosidade. Não tenho uma crença específica, mas uma vocação espiritual.

Como você avalia o cenário da moda em Brasília?
Passamos por um período chamado “grande infância”. Acreditávamos que tudo era possível. Entre 2005 e 2010, tínhamos semanas de moda e dávamos visibilidade para pessoas que trabalhavam na área.

Brasília tem empresas muito bem-sucedidas e estabelecidas, como a Avanzzo e a Dois Tempos. Porém, durante esses eventos, havia a possibilidade de se aproximar um pouco mais da moda inventiva, laboratorial e contestadora. As escolas de design da cidade tiveram um papel fundamental, recebi alunos brilhantes nas salas de aula.

Depois desse primeiro fascínio, os estilistas começaram a perceber que para se manterem no mercado, é preciso pé no chão, amadurecimento gerencial e uma noção muito clara de negócio. Porque uma coisa é visão criativa, outra é traduzir ideias em produtos de qualidade.

Hoje, a moda de Brasília tem nomes com esse conceito: Luisa Farani, Taiana Miotto e Priscilla França, por exemplo. As três investem bastante na estrutura do negócio. Agora, estamos vivendo outros tempos. A possibilidade de ter um comércio on-line ajudou marcas menores a começarem localmente. A Drew, do Sávio, e a Muv Shoes também estão fazendo os produtos circularem.

Vinicius Santa Rosa/especial para o Metrópoles


Como vai ser o curso “Entre a moda e a arte”?
O curso é uma tentativa de dissipar algumas concepções distorcidas ou superficiais a respeito das relações entre moda e arte. Muitas vezes, as pessoas falam de maneira um pouco frouxa e leiga: “Que lindo isso! É uma obra de arte”.

Sem um mergulho profundo na história dessas áreas, você não consegue compreendê-las. As manifestações do passado pouco têm a ver com as atuais. O curso existe para não demonizarmos a moda nem hiperidealizarmos a arte.

Serão quatro aulas fartamente ilustradas e duas turmas: aos sábados de manhã e às quintas-feiras à noite. É um percurso histórico, desde os mais antigos vestígios artísticos até a moda contemporânea. E, por fim, como essas duas áreas se relacionam.

O têxtil é uma matéria muito frágil, desgasta consideravelmente ao longo do tempo. Só a partir do século 18 foi iniciado um trabalho de preservação das vestimentas. Por isso, os únicos registros de peças mais antigas estão na arte. Porém, os desenhos, ilustrações e pinturas não necessariamente são fidedignos.

Quais são seu planos para 2018?
Assim que terminar o meu doutorado, pretendo investir no campo curatorial e continuar ministrando cursos em parceria com galerias de Brasília, mas cada dia é um dia.

Agora, darei aula para uma turma de pós-graduação em uma escola de fotografia incrível na Asa Norte, chamada f508. No curso, em parceria com uma instituição portuguesa, vou lecionar linguagem e semiótica. Além disso, propus a eles um curso sobre teoria da arte, com previsão de ser lançado em fevereiro.

Serviço:
Interessados em cursos com o professor Marco Antônio Vieira podem entrar em contato pelo e-mail dele (marcoantoniorvieira@yahoo.com.br) ou procurar as galerias parceiras. O próximo é o de verão, sobre moda e arte.

ENTRE A MODA E A ARTE: Fronteiras, Hibridismos, Contaminação – com Marco Antônio Vieira

Aos sábados
Datas: 13, 20, 27 de janeiro e 3 de fevereiro de 2018
Horário: das 10h às 13h

Às quintas-feiras
Datas: 18 e 25 de janeiro e 1 e 8 de fevereiro de 2018
Horário: das 19h às 22h

Total: quatro encontros
Carga horária: 12h
Investimento: R$ 540
Inscrição: https://galeriaponto.typeform.com/to/A8PdI9
Local: Galeria Ponto. SCRN 710/711, Bloco D, Loja 23 (subsolo)

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