Enviado especial a Moscou – Na contramão de autoridades norte-americanas, integrantes do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o Itamaraty, não acreditam que a Rússia invadirá a Ucrânia nos próximos dias, quando o presidente Jair Bolsonaro estará em Moscou para encontrar o presidente russo, Vladimir Putin.
Em conversas reservadas com o Metrópoles, diplomatas brasileiros de alto escalão se mostram céticos em relação à possibilidade de invasão e de haver uma reação de países membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderados pelos Estados Unidos.
A Otan é uma aliança militar feita entre 30 países da América do Norte e da Europa. Ela foi criada em abril de 1949, em meio à escalada da Guerra Fria, período de tensão geopolítica entre a já extinta União Soviética e os Estados Unidos e seus respectivos aliados.
A organização tem sido uma das causas do aumento da tensão na região do Leste Europeu. Toda a reação de Putin em relação à Ucrânia até agora se deve, em boa parte, à aproximação do país com o bloco e ao consequente estreitamento de laços dos ucranianos com países ocidentais.
Os russos consideram fundamental manter a influência sobre a Ucrânia em razão da localização estratégica do país. Posicionada entre a porção oriental da Europa e a Rússia, a nação tem sido uma espécie de zona de segurança ou grande muro usado pelos russos para resistirem a investidas militares.
O objetivo de Putin
Fontes do Itamaraty ouvidas pelo Metrópoles ressaltam que a Rússia tem negado repetidamente planos de invadir a Ucrânia, apesar de manter 100 mil soldados perto da fronteira. A avaliação é de que Putin tem usado a situação para trazer à baila a discussão sobre as “garantias de segurança” da Rússia e “medidas de construção de confiança”.
Diplomatas brasileiros também lembram que uma reação militar da Otan a uma eventual investida russa em território ucraniano tem um impedimento: a Ucrânia não faz parte da organização. A aliança só pode atuar para defender ou proteger aqueles países que são membros do grupo.
Integrantes do Ministério das Relações Exteriores têm em mãos, inclusive, mapas mostrando que a expansão da Otan nos últimos anos sobre países da Europa foi muito maior do que a da Rússia, que, em 2014, anexou a seu território a Crimeia, península no sul da Ucrânia.
Posição oficial de neutralidade
Apesar da avaliação sobre o cenário feita nos bastidores, diplomatas brasileiros ressaltam que a posição pública e oficial do Brasil continuará sendo de neutralidade, de respeito à autonomia de outros países e de defesa da paz entre nações que estejam em conflito.
Como o Metrópoles já noticiou, essa foi a orientação dada pelo Itamaraty para a posição de Bolsonaro durante a visita a Moscou nesta semana. O presidente desembarca na capital russa na terça-feira (15/2). A agenda oficial, no entanto, só ocorrerá ao longo da quarta-feira (16/2).
Agenda de Bolsonaro
O primeiro compromisso de Bolsonaro será uma reunião com Putin no Kremlin de Moscou, sede do governo russo, seguida de um pronunciamento de até 15 minutos cada. O presidente da Rússia também deve oferecer um almoço ao atual chefe do Palácio do Planalto.
Na sequência, Bolsonaro irá se encontrar com o presidente da Duma de Estado, Câmara Baixa do Parlamento russo, algo semelhante à Câmara dos Deputados brasileira. Também participará da entrega da oferenda floral no Túmulo do Soldado Desconhecido.
Na agenda, há ainda um encontro do presidente com empresários. A reunião deve acontecer no Four Seasons, hotel cinco estrelas localizado na Praça Vermelha, principal cartão postal de Moscou. É nesse hotel onde Bolsonaro e boa parte de sua comitiva ficarão hospedados.
Integrantes do Itamaraty ressaltam que, apesar de o timing não ser dos melhores, a viagem oficial de Bolsonaro à Rússia a convite de Putin será importante não só para mostrar que o Brasil tem relevância no cenário internacional como para a relação comercial entre os dois países
As agendas de Bolsonaro e de seus ministros com autoridades russas e empresários serão relacionadas principalmente às áreas de defesa e de fertilizantes. Justamente as áreas nas quais Brasil e Rússia têm relação comercial mais robusta.