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Retrospectiva ZIP: os 10 melhores quadrinhos nacionais de 2017

Muita coisa boa foi produzida no Brasil nos últimos 12 meses: obras de qualidade internacional

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A cada ano desta década, o mercado brasileiro de quadrinhos parece confirmar sua renaissence com obras ambiciosas e excepcionalmente bem pensadas. 2017 pareceu a culminação de longos processos, tanto artísticos quanto editoriais, que fortaleceram também eventos, formas da capitalização e o prestígio crítico dos quadrinhos nacionais.

Essa bola cheia no ano que se passou ocorreu por motivos diversos: novas editoras despontaram no mercado e outras se consolidaram. Um prêmio “legitimador” (Jabuti) aderiu aos quadrinhos por força da mobilização do setor. Debates importantes sobre recepção, jornalismo e crítica ocorreram. Um fundamental evento acadêmico (4as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos) teve sua maior edição.

Além disso, acontecimentos independentes (como as feiras Dente e Des.Gráfica) ajudaram a sedimentar as pequenas publicações. Outros (como a CCXP) unem o mainstream à publicação autoral. Na internet, a cada dia nasce um novo site sobre quadrinhos e um youtubber expõe suas opiniões a respeito desse mercado. As HQs brasileiras, então, começam a vislumbrar adaptações para cinema e TV.

Esta lista com 10 destaques em ordem decrescente é estritamente pessoal. Não tive acesso a todo o imenso montante de quadrinhos lançados por aqui no ano passado. Porém, considerei oito trabalhos que me cativaram por critérios diversos, além de um de 2016 que ganhou excepcional notoriedade em 2017, e uma importante reedição.
10 – Vania e a Turma de Anexia: Anexia é um Paraíso – Pedro D’Apremont e Gabriel Góes (Ugra Press, 2017): Perdidos em algum lugar do surreal chorume civilizatório pós-soviético, a infernal dupla Góes e D’Apremont apresentou a sátira mais mordaz possível do fascínio que nós ocidentais temos sobre os russos e seus modos “pouco adequados”. O resultado é (ao contrário do título) um inferno de atitudes sem-noção, a ultrapassagem de qualquer limite e uma verdadeira celebração da fuleiragem ao estilo “chuvak”. Hilário, para dizer o mínimo.

 

09 – Market Garden – Bruno Seelig (Mino, 2017): Este trabalho do exuberante ilustrador Bruno Seelig aposta na nostalgia (até um pouco cafona) no modelo “Stranger Things” para recuperar um imaginário infanto-juvenil dos anos 1990. Não é o mais revolucionário dos quadrinhos, mas tem certa modéstia como trunfo, privilegiando aspectos mais delicados das relações entre amigos, sentimentos de uma época em que tudo era mais simples e melhor, e um nanquim inspirador, dos melhores do quadrinho nacional.

08 – Castanha do Pará – Gidalti Jr. (Independente, 2016): Sim, este trabalho saiu originalmente em 2016, mas a notoriedade que ele adquiriu ao vencer a primeira edição do Jabuti foi tanta que seria quase criminoso ignorá-lo em seu maior momento. “Castanha do Pará” deriva um pouco do estilo (mais sofisticado) de Marcello Quintanilha, porém, isso não diminui a imensa beleza de suas multicoloridas páginas paraenses em aquarela. Elas retratam, com diálogos potentes e situações bem pensadas, o mergulho no escuro de uma criança progressivamente abandonada pelos homens e pela vida. O discurso social é venal, e felizmente a arte envolvida não fica atrás.
07 – Labirinto – Thiago Souto (Mino, 2017): Essa psicodélica viagem ao inconsciente de um garoto, ainda que não seja totalmente original (parece muito “O Reino dos Malditos”, de Ian Edginton e D’Israeli), apresenta suas páginas vertiginosas (influenciadas por mangá e anime) com tanta pungência que até esquecemos uma pequena dose de pieguice do roteiro. Souto, muito amadurecido, enfim oferece um trabalho de gente grande, com visão para o entalhamento psicológico de seus personagens, radicais soluções visuais em quadrinhos e uma arte de cair o queixo.
06 – Zózimo Barbosa – O Corno que Sabia Demais e Outras Histórias – Wander Antunes e Gustavo Machado (Noir, 2017): A maioria dessas histórias havia sido publicada pela Pixel em 2007, mas a reedição da excelente coleção de situações carioquíssimas num Rio estilo “noir” dos anos 1950 não poderia passar batida. O trunfo de Wander Antunes é pensar um quadrinho brasileiro fora de convenções “pop” e contemporâneas, valendo-se de pesquisa, vocabulário e situações que as novas gerações simplesmente ignoram. A arte simpática, de influência europeia, de Gustavo Machado, apenas ressalta o caráter singular dessas engraçadíssimas investigações de adultério.
05 – Já Era – Felipe Parucci (Lote 42, 2017): De onde saiu esse Felipe Parucci? Porque, do nada, o cara lança um catatau de quase 400 páginas com possivelmente os quadrinhos mais divertidos e carregados de influências bem sacadas (sem ser um hipster pedante) do ano. A vibe é uma coisa meio “Apenas um Show” misturada com uma super carismática paródia de ficção científica que olha para a nossa sociedade como se o fim do processo civilizatório ocorresse enquanto o povo ainda vê Big Brother em 2018 (opa). Além disso, o cara manja de quadrinhos e acerta em praticamente cada decisão estética. Bonequinho aplaude de pé.
04 – Tabloide – Leandro Melite (Veneta, 2017): Este brilhante quadrinho se vale de estilemas do noir e da literatura policial barra pesada para costurar uma trama intrigante que mistura páginas de jornal, personagens casca grossa bem delineados e excelentes textos nos recordatórios em primeira pessoa. Pode parecer pouco diante de tentativas mais experimentais de outros autores, mas o mérito de Melite e sua arte cartunesca, infalível e cheia de movimento é esse: extrair verdade dos clichês. Tarefa nada fácil. De quebra, sua São Paulo é uma das mais maravilhosas já retratadas em quadrinhos.
03 – Estudante de Medicina – Cynthia B. (Veneta, 2017): Quer aprender, ao mesmo tempo, sobre aspectos engraçados/nojentos da medicina e sobre a alucinante vida universitária na UFRJ? Pegue essa obra e ainda saia com intensa visão sobre depressão, bullying, relacionamentos, fuleiragem e diversas motivações da vida, em situações entre o humor e o horror. Triunfo absoluto, a HQ de Cynthia Bonacossa se faz acontecimento ao alcançar um humor existencialista 100% genuíno e indefectível.
02 – Angola Janga – Marcelo D’Salete (Veneta, 2017): Por falar em “acontecimento”, chega enfim o momento de celebrar “Angola Janga”. Com pesquisa extensa nos níveis histórico, acadêmico e social, além de exímio acabamento editorial e colossal execução artística, a obra entra com os dois pés dentro da história dos quadrinhos nacionais. D’Salete, ao mesmo tempo com discrição e ambição, exibe uma multifacetada visão sobre o fenômeno dos quilombos e das pessoas escravizadas no Brasil colonial, oferecendo uma perspectiva inédita que redesenha nossa visão sobre estes temas.
01 – Mensur – Rafael Coutinho (Cia. Das Letras, 2017): Imenso. É o que se pode dizer de “Mensur”, empreitada dostoievskiana de Rafael Coutinho, um dos grandes artistas brasileiros da atualidade. Com inferências profundas e incrivelmente elaboradas sobre o passado e o presente do Brasil, a partir da obsessão particular de um personagem caído, temos introvisões de aspectos diversos não apenas da nossa realidade, mas da humanidade como um todo. E essa aspiração à universalidade é o que torna o quadrinho tão robusto. Isso e a arte impactante, carregada de erudição visual.

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